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O Mundo Perdido/The Lost World: Jurassic Park
Realizado por Steven Spielberg
EUA, 1997 Cor - 134 min.
Com: Jeff Goldblum, Julianne Moore, Pete Postlethwaite, Arliss Howard, Richard Attenborough, Vince Vaughn, Vanessa Lee Chester, Peter Stormare, Harvey Jason, Richard Schiff, Thomas F. Duffy, Joseph Mazzello

A sequela a «Jurassic Park» revela que, afinal, ao contrário do que parecia com toda aquela parafernália técnica, os dinossauros não eram criados no "parque" original mas sim numa outra ilha. Aí, uma grande variedade de sáurios, de todos os tamanhos possíveis, prova que a natureza "encontrou uma forma". A substância sem a qual os dinossauros não sobreviveriam afinal encontra-se no reino vegetal, o que sugere que os especialistas de segurança de 1993 deviam ser despedidos.

John Hammond (Attenborough) foi retirado da direcção da corporação que detém a patente das criaturas, e organiza a viagem de uma equipe à ilha, com o objectivo de documentar a vida daquelas espécies, para assim poder lutar contra os interesses da administração. Ian Malcolm (Goldblum) não quer ir, mas afinal já lá está a sua namorada, a Dra. Harding (Moore) e este decide "salvá-la". Outra equipe, liderada por um caçador (Postlethwaite), quer apenas caçar alguns dos bichos, para que sejam exibidos num gigantesco parque citadino, há muito planeado e a meros meses de estar concluído (uma espécie de Centro Colombo jurássico).

«O Mundo Perdido» não se apresenta tão mau como se esperava. É certo que as linhas orientadoras do argumento são simples Q.B., e a isso temos de nos habituar em blockbusters "PG-13", mas - pasme-se - os personagens e os diálogos não são tão insuportáveis quanto se poderia prever. Para além de tiradas imbecis, relacionadas com pizzas e hamburgers, em momentos de perigo mortal, a inteligência do espectador não é sempre totalmente subestimada.

Se estes e outros detalhes (provavelmente introduzidos em segundas e terceiras reescritas do argumento, para aligeirar o tom para a miudagem) fossem eliminados, o filme muito ganharia. A irracionalidade da introdução de gracejos forçados em momentos de perigo é uma das coisas que torna os blockbusters indigestos (na proporção inversa às pipocas), e que contende com a suspensão da descrença que se pretende no cinema.

A parte dos dinossauros está bem conseguida. São muitos e muito realistas, vêem-se em pormenor, sendo por vezes difícil de distinguir entre as maquetas que Stan Winston construiu e as imagens geradas por computador. Winston já tem Oscars pelos F/X de «Aliens», maquilhagem e F/X de «Terminator 2», e F/X de «Jurassic Park», e é provável que em Março de 98 «The Lost World» vença filmes como «O Quinto Elemento» ou «MiB», na maioria das categorias técnicas. O espectro sonoro dos 6 canais de som digitais também é muito bem aproveitado, em sincronia com diálogos, movimento ou mera destruição. Sequências como a do sáurio de aspecto galináceo que ziguezagueia da nossa frente, à direita, até bem atrás de nós, à esquerda, não teriam metade do efeito numa sala com má reprodução sonora. Parece que cruza pelo meio do público e pára apenas para dar uma bicada naquele indivíduo irritante que fica sempre atrás de nós.

O filme peca pela improbabilidade de alguns comportamentos e situações, como é costume nesta "categoria". O especialista em "documentário vídeo" aparece com uma JVC de bolso e parece que está apenas a ver as horas. Para além de ser questionável como não havia qualquer documentação da vida dos dinossauros, a premissa para a viagem da equipe à ilha resulta num certo paradoxo: quer-se mostrar algo para combater terceiros que também o querem mostrar. A opção, muito Disney, em mostrar Tiranossauros que basicamente querem proteger a família, para desculpar a generalidade dos comportamentos agressivos (naturais?), não terá sido a melhor.

Existe uma vantagem em relação ao filme original, que é a inexistência das duas crianças que nos levavam a pedir para que os dinossauros fossem mais eficazes, e que formavam o núcleo do habitual mecanismo do "problema a ser resolvido pela situação extrema" (o personagem de Sam Neill não gostava de crianças; no fim até vemos cegonhas a voar - muito simbólico, sans doute), levado a ridículos em «Twister» e «ID4», com os casais afastados que para se reunirem não lhes basta conversar ou submeterem-se a aconselhamento matrimonial; é preciso envolverem-se numa parafernália destrutiva de 100 milhões de dólares. Mas, claro, temos a filha de Malcolm que está ali para justificar certas movimentações no guião (e a questão da ginástica também era tão dispensável), e para que um dos públicos-alvo se identifique com alguém.

Na articulação das cenas de acção, no seio do argumento, falta por vezes um golpe de asa... de pterodáctilo. A cena do penhasco, por exemplo, é um excelente momento, mas não há preocupação com detalhes: é difícil subir uma corda durante o perigo; depois é instantâneo. Como se alguém dissesse "acabou a cena, saiam daí".

Spielberg adiciona algumas piscadelas de olho, como japoneses a fugir, num segmento que recorda os filmes de Godzila, o poster de Scharzenegger como actor de Shakespeare ou o "unlucky bastard" do argumentista David Koepp a ser comido, sendo certo que para o texto final o terá sido por todos que deram o seu contributozinho.

Saldo: um filme para toda a família, que não é excessivamente estupidificante, com algumas interessantes sequências de suspense e tecnicamente excelente. A ver, pois.

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P.S.: É raro ver um enquadramento aparentemente tão certinho no Monumental (ou em qualquer outro local). Conclui-se que o filme foi filmado em "hard matte" e tanto o projeccionista como o legendista tiveram o trabalho facilitado, ou seja, o negativo marcado a preto. Seria ridículo, depois de microfones e roupa de actores (supostamente) nus, vermos dinossauros sem cabeça ou algo parecido.