Sistemas de Som em Sala

Primeiro veio a imagem fixa. Depois a imagem em movimento. Por fim, o som. Houve quem dissesse "mas quem é que quer ouvir os actores a falar?" O primeiro filme sonoro foi "oficialmente" «The Jazz Singer» (1927), mas já existiam técnicas para a gravação de som em filme desde há alguns anos. A facilidade com que o cinema mudo era exibido internacionalmente não contribuia para a vontade de introduzir o som.

O som stereo foi primeiramente introduzido com «Santa Fe Trail» (Michael Curtiz, 1940), e «Fantasia» (Walt Disney, do mesmo ano), mas não suscitaria grande interesse nem seria frequente senão a partir dos anos 50.

O CinemaScope, 1953, começou a ser um estímulo para a concepção de som multicanal, distribuído por diversas áreas do écran e da sala. O stereo presente nos filmes de grande formato era constituido por quatro canais (esquerda, centro, direita, surround) gravados em pistas magnéticas na película, fornecendo uma grande qualidade sonora, mesmo para os padrões actuais. Mas o som stereo, devido aos custos elevados de instalação, demorou a impôr-se como norma. Hoje, estamos muito para lá desse ponto, e é raro que se inaugure uma nova sala de cinema sem som digital surround de 6 canais.

A Dolby é uma das corporações mais importantes, no que diz respeito à concepção de sistemas sonoros em casa e em salas de cinema. O Dolby Stereo foi inaugurado em 1975, com o filme «Tommy» de Ken Russel. Este sistema, que cedo se tornou padrão, permitia a reprodução sonora em quatro canais: esquerda, direita, centro e surround. O canal central é utilizado com o principal intuito de fixar os diálogos no centro do écran, para que os espectadores em extremos da sala continuem a ouvir o som do centro do écran e não do canal lateral mais próximo. O canal de surround é usado para som ambiente ou para efeitos direccionais.

O sistema codifica os quatro canais em duas pistas de som (esquerda, direita), e o processador da sala descodifica a informação. O Dolby Stereo usa um sistema de redução de ruído denominado 'A'. O Dolby SR (Spectral Recording) é um melhoramento do sistema anterior, aumentando as capacidades de redução de ruído e a amplitude das frequências que podem ser reproduzidas sem distorção.

(O primeiro programa de TV a ser gravado em stereo foi «Miami Vice» (NBC, 1984))

Hoje, quando falamos em sistemas de som, falamos em som digital. Tal não quer dizer que só se gravem filmes digitalmente - na realidade até se fazem ainda gravações em mono -, mas uma sala que queira estar preparada para reproduzir o som de um filme como este foi concebido, tem de estar equipada com um ou vários formatos de som digital.

As primeiras experiências com som digital viram a luz do dia (ou o escuro das salas), através da chancela da Kodak. Em 1991, «Terminator 2: Judgement Day», de John Cameron, foi o primeiro filme a comportar uma gravação digital. O formato sonoro chamou-se Cinema Digital Sound. Apesar de constituir um marco na evolução tecnológica, o CDS fracassou comercialmente devido à pouca fiabilidade da reprodução, mas, principalmente, devido à inexistência de uma pista analógica que funcionasse como backup do sistema. Isto é, qualquer falha causava o desaparecimento total do som.

Hoje, o mercado é dominado por três formatos de som digital, que a seguir se descrevem sumariamente.

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Dolby Digital
Este produto dos Dolby Laboratories surgiu no mercado com o filme «Batman Returns» (1992), de Tim Burton. O sistema permite a reprodução de seis canais de som digital: esquerda, direita, centro, surround esquerdo, surround direito e subwoofer. Este último canal tem uma amplitude de frequências limitada, e é por isso que se costuma dizer que o sistema possui 5.1 canais. O descodificador digital pode ser utilizado como interface de um sistema Dolby analógico pré-existente. O filme contém uma faixa com a mistura sonora analógica, permitindo a preprodução em salas equipadas com processadores Dolby Stereo ou Dolby SR. Esta faixa analógica funciona também como backup em salas equipadas com som digital, sempre que há alguma falha no sistema.

A versão para home-cinema é conhecida por Dolby Surround AC-3 (mas é previsível que se venha a generalizar a expressão "Dolby Digital", também para este mercado), e a tendência é que se venha a tornar padrão para o som digital, do mesmo modo que o Dolby Surround Pro-Logic (equivalente ao Dolby Stereo) se tornou, no que diz respeito a reprodução multicanal analógica.

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DTS
O DTS - Digital Theater System - foi desenvolvido pela NuOptix, Inc., e estreou-se em 1993 com o popular «Jurassic Park», de Steven Spielberg. Este sistema de seis canais de som surround digital pode também ser a adaptado a outros processadores já existentes, e distingue-se por recorrer a discos compactos para a reprodução do som, já que usa a compressão de dados mais baixa de todos os sistemas: 3:1. O filme possui uma faixa ("timecode") que permite a sincronização da imagem projectada com o som digital, frame a frame, de forma que, mesmo que surja alguma falha, o som nunca perde essa sincronia. O sistema possui um buffer que lê um pouco à frente do que está de facto a ser reproduzido, e, em falhas, entra em acção a faixa analógica de backup, esta sim impressa na película. O processo analógico é conhecido por DTS Stereo e é compatível com Dolby Stereo.

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SDDS
Em 1993, a Sony introduziu o seu Sony Dynamic Digital Sound, com a possibilidade de reprodução de oito canais de som digital, mas assegurando compatibilidade com a generalidade dos sistemas, mesmo que utilizem quatro ou seis canais. O primeiro filme a utilizar o sistema terá sido «Speed» de Jan De Bont. O SDDS é adequado para grandes auditórios (e "grandes" filmes, claro), já que utiliza cinco canais por detrás do écran: esquerda, centro esquerda, centro, centro direita, direita. Tal como o Dolby Digital, a informação sonora é gravada na película, onde, como nos outros sistemas, também reside a faixa analógica de backup (compatível com sistemas de reprodução Dolby Stereo). A compressão é de 5:1.

Fisicamente, o filme pode possuir os três sistemas digitais - i.e., SDDS, DD e o "timecode" para o DTS, para a sincronia com o leitor de CD - e normalmente existem pelo menos dois sistemas disponíveis, sendo mais frequente que seja Dolby Digital e outro. A generalidade dos filmes é gravada digitalmente (incluindo os filmes portugueses mais recentes). Se a sala estiver equipada com som digital - exibindo uma placa com a identificação de um ou mais sistemas - a qualidade do som deve ser notória. Note que mesmo que o sistema seja Dolby Stereo, Dolby SR ou outros menos frequentes como Kintec Stereo e Ultrastereo não é normal que não saia qualquer tipo de som das colunas que estão nas paredes ao lado e atrás do espectador (canais de surround). Quando isso acontece por regra, é certo que a sala não está a exibir os filmes nas condições em que afirma e é melhor reclamar ou dar o dinheiro a outra sala.


Para maior aprofundamento técnico, recomenda-se uma visita a The Digital Sound Page, e, claro, às home-pages dos sistemas referidos.

Dolby Digital | DTS | SDDS

Recomenda-se ainda a consulta do FAQ do grupo rec.arts.movies.tech, que incluiu informação detalhada sobre som no ponto 4 - "Motion Picture Sound Formats (release prints intended for projection)". Este FAQ é também publicado mensalmente no referido grupo.

Dolby e o símbolo com o duplo-D são marcas registadas de Dolby Laboratories.
DTS é uma marca registada de NuOptix, Inc.
SDDS é uma marca registada de Sony, Inc.


Esquema da distribuição dos canais de som numa sala de cinema, equipada com um sistema digital. Um sistema analógico (Dolby, Dolby SR, etc.) não possui sub-woofer e não têm surrounds separados, i.e., as colunas a verde escuro e a azul escuro corresponderiam a um único canal. É de notar que o SDDS pode utilizar mais dois canais por detrás do écran (centro-esquerda e centro-direita), mas nem todos os filmes gravados nesse sistema utilizam, de facto, essa possibilidade.

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