cartaz |
O Dia da Independência/Independence Day Realizado por Roland Emmerich EUA, 1996 Cor - 145 min. Anamórfico Com: Will Smith, Bill Pullman, Jeff Goldblum, Mary McDonnell, Judd Hirsch, Margaret Colin, Randy Quaid, Robert Loggia, Harvey Fierstein, Harry Connick Jr., James Rebhorn, Adam Baldwin
Uma frota de extraterrestres aproxima-se do
planeta EUA, perdão do planeta Terra. Serão amistosos?
Rapidamente as dúvidas se desvanecem e começa o
combate pela liberdade do planeta (suspiro), para o que trabalham
as melhores cabeças, incluindo a de Jeff Goldblum, a fazer
de Jeff Goldblum nos últimos dez filmes em que entrou.
No entanto, começamos a estranhar que, por mais idiota
que sejam essas ideias todas as acham brilhantes. E pior: resultam.
Devíamos estar preparados quando vemos um making off com
os produtores a vangliriarem-se dos 100 milhões que gastaram
e dos detalhes dos efeitos especiais, mas finalizando o discurso
com a conversa de chacha de que o filme, "no fundo",
trata de pessoas simples que conseguem erguer-se à altura
da situação, e resolver os conflitos internos, bla,
bla, bla.
Duas horas e meia para comer pipocas e sorver
coca-colas. An all american movie. O argumento é completamente
patético; o mesmo que tem sido usado nos últimos
anos por metade dos filmes sem ideias particulares, além
dos F/X. É entertaining, disso não há dúvida.
No entanto, toda a destruição, todas as cenas de
perigo em que os personagens se envolvem não nos apelam
de forma alguma. Alguém quer saber daquela gente? Em momento
algum se pensa que há pessoas a morrer ou grandes devastações
em curso. A única coisa que nos provoca reacção
são os efeitos. Se alguém morre - «belos efeitos»;
se a Casa Branca e o Capitólio vão pelos ares -
«belos efeitos». Falha redondamente como cinema, enquanto
arte de manipular emoções, de fingir pessoas. Estas
são realmente a fingir, passe o paradoxo.
A duração do filme permite que
este seja o melhor contributo para uma enciclopédia de
clichés. Foram todos recolhidos e postos no filme. Tentativa
de enumeração de alguns para melhor estudo do fenómeno.
CLICHÉS:
1. Casal separado, mas que afinal sempre se
amou - junta-se claro;
2. Idiota que tem um sonho (pilotar no espaço)
que lhe é negado, vai acabar por realizá-lo (pilotar
a nave);
3. Homem superinteligente que, em uns minutos
sabe mais sobre uma nave extraterrestre do que os melhores cientistas
americanos conseguiram descobrir em 40 anos.;
4. O personagem "imoral" ajuda o
"moral", cá dentro somos todos iguais, etc;
5. O mundo acaba nas fronteiras da América,
os restantes povos são incapazes de fazer algo útil
sozinhos;
6. Todos os personagens são engraçadinhos
("muita malucos!", como dirão as audiências
a que se destina o filme): jogam golfe em instalações
militares sofisticadas, andam de bicicleta no escritório,
etc.
7. Os aliens são mais sofisticados
mas são vencidos por artifícios extremamente básicos;
8. A ideia salvadora surge verbalmente de
um comentário lateral de um comic relief, e o superinteligente
faz o ar de eureka nº3, que ninguém percebe (remeta-se
para o mesmo Goldblum a falar de carne e criancinhas que estimulam
as velhinhas, n'«A Mosca»);
9. No meio da morte eminente toda a gente
tem tempo para os seus problemas pessoais idiotas.
10. Cliché "3 em 1": um personagem
que (1) é bêbado e gozado pelo que diz; (2) perdeu
o respeito dos filhos; (3) sacrifica-se pela humanidade, e triunfa
em tudo. Um filho vê o pai morrer, mas fica apenas orgulhoso
quase automaticamente.
De resto, as outras patetices são o
avanço tecnológico nulo das naves dos aliens em
40 anos (terão chegado ao limite da evolução?;
são muito mais avançados, mas avançam devagar?;
o tempo deles é completamente diverso do nosso?); a fraqueza
do material bélico que permite que um vírus na nave-mãe
desproteja tudo, caças e naves (não tinham anti-vírus
contra um vírus de uma raça primitiva, que ainda
por cima entra facilmente num sistema informático (?) muito
mais avançado, e até aceita os mesmos jacks para
fazer o input); naves tão grandes têm um calcanhar
de Aquiles tão denunciado? Zzzzzzzz.
Dez mil vezes melhor é «O Dia
Em Que a Terra Parou», dos anos 50, com um disco preso por
um fio, e um robot alien que se aparecesse na minha cozinha eu
ia buscar o abre-latas, por confundi-lo com uma embalagem de atum.
Argumento de Dean Devlin (produtor) e Roland Emmerich (realizador).
Nota: «ID4» foi filmado por um processo
chamado Super 35, que consiste em conceber o filme para um rectângulo
com o formato scope (2.35:1) centrado no negativo, sendo a área irrelevante
coberta no projector (na prática as cópias que chegam
às salas requererão a utilização de
lentes anamórficas).
No cinema não se notarão diferenças
de relevo entre um filme assim rodado e um filme no "verdadeiro"
scope. A utilização relativamente frequente do sistema
está relacionada com o mercado vídeo, pois com este
material pode-se não só escolher imagens à
esquerda e à direita, como destapar acima e abaixo. Portanto
pode-se ver mais, em certas cenas, em vídeo do que no cinema.
Mas, uma desvantagem (além da alteração abstracta
do enquadramento original) é que os planos de efeitos especiais
são sempre cortados convencionalmente. Devido aos custos
nunca se fazem efeitos para cima das margens que se destaparão
(ou não) na TV. Portanto fiquem descansados, que os planos
de efeitos especiais são garantidamente em meio-écran
na cópia pan and scan
(e que outra há em Portugal?)
|