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O Quinto Elemento/The Fifth Element/Le Cinquième Élément
Realizado por Luc Besson
França, 1997 Cor - 127 min. Anamórfico
Com: Bruce Willis, Gary Oldman, Milla Jovovich, Ian Holm, Chris Tucker, Luke Perry, Brion James, Tom 'Tiny' Lister Jr., Lee Evans, Tricky, Charlie Creed-Miles, John Neville, John Bluthal, Mathieu Kassovitz

Uma raça extra-terrestre, os Mondoshawans, regressa a um templo no Egipto, em 1914, para levar quatro pedras, representando os quatro elementos, que consideram não estarem ali seguras. As pedras serão vitais para repelir o ataque das forças do Mal, previsto para dali a 300 anos.

Nova Iorque, 2214, os Mondoshawans voltam à terra mas são impedidos de cumprir a sua missão. Entretanto, as forças malignas, na forma de uma gigantesca esfera de anti-matéria do tamanho de um pequeno planeta, preparam-se para exterminar toda a vida terrestre. O padre Cornelius (Holm), seguidor de uma religião fundada pelos Mondoshawans previne que a batalha só será ganha juntando o quinto elemento aos outros quarto.

Um ser humanóide, Leeloo (Jovovich), é criado a partir de um Mondoshawan. Em fuga, vai cruzar-se com o motorista de táxis Corben Dallas (Willis). As forças do Mal têm um aliado na Terra - Zorg (Oldman) -, que por sua vez recorre aos serviços de uma raça extra-terrestre pouco civilizada, e de aspecto canídeo, os guerreiros Mangalore.

Zorg, os Mangalore, Dallas - entretanto contactado pelo seu ex-comandante, o General Munro (James) -, Leeloo e Cornelius: todos lutam pela posse dos quatro elementos.

«O Quinto Elemento» é uma comédia antes de outra coisa qualquer. É o filme europeu mais caro de sempre e, aparentemente, o mais bem sucedido (estreou nos EU já em Maio), tendo sido baseado numa história que Luc Besson começou a desenvolver quando tinha 16 anos (na altura em que a «Guerra das Estrelas» surgiu em força). Poder-se-á listar uma série de influências e de "referências" patentes no filme (e a Internet Movie Database refere Metropolis, Star Wars, Blade Runner, Brazil e até mesmo Stargate e Species), mas nos dias de hoje é impossível fazer um filme acessível ao grande público que não pegue em temas já focados anteriormente, seja através de "homenagens" ou de simples "colagens".

O que marca mais «O Quinto Elemento» é o design visual e aqui estamos a falar de uma aura de uma certa BD europeia, nomeadamente a vertente Metal Hurlant, revista co-fundada por Moebius em 1975. Moebius/Jean Giraud e Jean-Claude Mézières, autor da série em BD "Valerian, Agente Espácio-Temporal", surgem no topo da lista dos 11 production designers do filme, e são os autores de inúmeras concepções de cenários, veículos e interiores, muitos dos quais quase directamente transpostos para o filme.

Outra das contribuições para o aspecto visual é a de Jean-Paul Gaultier, na sequência de outras colaborações com o cinema, que incluem «O Cozinheiro, O Ladrão, A Sua Mulher e o Amante Dela» de Peter Greenaway, «Kika» de Pedro Almodóvar, e o deslumbrante «A Cidade das Crianças Perdidas» de Jeunet e Caro. Segundo consta, Gaultier reviu pessoalmente os cerca de 900 extras antes das filmagens.

Depois estão os efeitos visuais, ou o centro e o fim último das grandes produções pós-segunda metade da década de 90. «O Quinto Elemento» combina a construção de miniaturas (compreendendo 60 a 70 profissionais) com os habituais CGI/imagens geradas por computador (apenas alguns profissionais mais, ao que parece). Os excelentes planos aéreos da cidade combinam estas técnicas em diversos planos. A sequência de três planos do salto de Leeloo comporta miniaturas num primeiro plano e num plano intermédio, pinturas matte bidimensionais em fundo, e planos intermédios preenchidos com CGIs. Segundo relataram os profissionais que trabalharam nos efeitos especiais, este método possibilita uma riqueza visual fora do comum. Num plano incluiu-se um perseguição e tiroteios em fundo, num nível muito complicado de alcançar a olho nu se a atenção não estiver para aí virada. Uma outra cena incluirá, no canto inferior direito da imagem a conexão de um apartamento, explicando a sua construção modular. Mark Stetson, supervisor dos efeitos especiais diz que "isso foi só para os fans do laser disc".

A riqueza visual e o detalhe gráfico do filme é ainda mais de louvar sabendo que Besson usou o processo Super35, que ao contrário do Panavision usa apenas cerca de metade do negativo para obter o formato 'scope' no grande écran. Os tais fans do laser disc não terão problemas em (re)ver o filme em todo o esplendor, já que o widescreen é o padrão nessas edições, mas em vídeo será mais difícil obter uma cópia sem o enquadramento adulterado. Principalmente em países como Portugal, que continuam a padecer de edições alternativas, e onde nem mesmo um pretenso canal da cultura passa os filmes com o enquadramento integral por norma.

Sobra, claro, o resto. Isto é, a história do filme. O argumento não traz absolutamente nada de novo. Mas é uma comédia agradável, cuja apreciação depende apenas de se achar ou não piada - e a performance do DJ transformista, um misto de Prince, Arsenio Hall e Eddy Murphy com um ataque de histeria (Tucker), pode ser um factor de saturação -, mas em que a inserção de certos elementos dramáticos é algo contraproducente.

Besson mantém uma certa "sensibilidade de filme europeu", e toda a gente está muito contente com a vitória que é o sucesso deste filme, por ser uma produção do velho continente, mas existem evidentes cedências ao mercado dos EUA (ou não estivesse a Columbia da Sony a distribuir o filme). O registo de comédia, com momentos semi-slapstick - e Oldman com os seus dentes e pronuncia a la Bugs Bunny atestam a profunda seriedade geral - não comportaria o recurso final à velha e desgastada fórmula "os homens são maus só querem fazer guerra e este filme é uma lição". O comportamento de Leeloo aí, está completamente fora de contexto. Não só por ser uma guerreira (como afirma) sendo ilógico ficar sensibilizada com imagens de guerra, como a sequência parece introduzida à posteriori. Afinal antes do W de War/Guerra existiam outras entradas a mostrar as mesmas "imagens de arquivo", como H.olocausto ou H.itler. Talvez aquela tenha sido a gota de água, mas que arruinou a consistência do filme, lá isso arruinou.

Também é notório que este filme europeu foi concebido ab initio para o PG-13 americano (pais tenham muito cuidado antes de deixarem os filhos com menos de 13 anos entrar na sala), não incluindo nenhuma "sexual swear word", nem sexo ou violência em padrões diferentes de qualquer blockbuster americano. Veremos se Besson não se lembra de, daqui a 6 meses ou um ano, aparecer com um Director's Cut.

No fim a balança pende para o lado positivo. É sem dúvida um filme a ver com prazer. Quando chegar o momento de sentimentalismo despropositado pense noutra coisa. Mas quem sabe faça parte da piada...

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P.S.: O vídeo português, afinal, é em widescreen.