Fantasporto 2002 - 22º Festival Internacional de Cinema do Porto

Cartaz Fantasporto 2002 I - Preliminares
  • Selecção
  • Um Z e Muitos Zeros
  • Projecção
  • Home Cinema vs. Cinema Video

    II – Filmes

  • Terror à Espanhola
  • A Qualidade em Alemão
  • Rios, Peixes, Anjos e Demónios da Ásia
  • Estripadores, Impostores e Caçadores de Demónios
  • Curtas

    III - Filmes Visionados Dia-a-Dia

    IV - Filmes Premiados

  • Links rápidos: Os Amantes do Rio | Arachnid | La Biblia Negra | El Bosque Animado | Buñuel | The Bunker |
    The Butterfly | Dagon | Enclosed Pain | Ephemeral Town | The Experiment | Exit | Frailty | Friend | From Hell
    | Hundstage | Impostor | Impulsos | Inugami | I Wish I Had a Wife | Im Juli | A Legião dos Mortos | Pisces |
    Preaching to the Perverted | Rain | Revelation | St. John's Wort | School Killer | Sorum | Séance | Silent Cry
    | Stake Out | Tokyo Trash Baby | Der Tunnel | Tuno Negro | Visitor Q | Wolf Girl

    I – (Longos) Preliminares

    O Fantasporto 2002 decorreu entre 15 de Fevereiro e 4 de Março, nas duas salas do Teatro Municipal Rivoli, no Porto, e numa sala do AMC, do Arrábida Shopping, em Vila Nova de Gaia.

    Continuando com uma lógica generalista, a selecção de filmes procurou oferecer de tudo um pouco, um arco-íris de várias cores, com uma descoloração cada vez mais evidente do vermelho. O facto do filme mais violento, em termos gráficos, ser bastante mau («Legião dos Mortos»), ilustra os caminhos por onde anda a presença do cinema de horror neste festival. Claro que não é apenas sangue e desmembramentos que fazem um bom filme de terror. Não há nada como uma boa história e uma atmosfera opressiva e envolvente.

    O público continua a afluir ao festival, tendo-se apresentado estimativas na ordem dos 140 mil espectadores, números idênticos aos divulgados pelo Festival de Sitges. Há que ter em conta que jornalistas, participantes e convidados constituirão 65% desse valor e que a metade da plateia que lhes é reservada está tendencialmente “às moscas”, não deixando de ser contabilizada a 100%, durante as sessões menos populares, pelo que é natural que os números reais – impossíveis de apurar – sejam consideravelmente mais baixos. Aceitando a relação 65/35 será seguro apontar para um valor na ordem dos 49 mil para o público em geral. Por este prisma não me parece que as presenças reais tenham chegado a 100 mil. De qualquer forma, qual a importância dos números, para lá de ficarem bem em press releases e encabeçarem artigos vagos em jornais? Outro elemento perfeito para tais peças é de que o festival este ano teve mais uma semana, o que é no mínimo relativo, pois desde há vários anos que se apresentam filmes antes da abertura oficial (tem-se-lhe chamado Pré-Fantas, Festa do Cinema, etc.) Desta vez moveu-se a abertura oficial uma semana antes e recheou-se a programação com títulos em competição, mas as secções oficiais decorrem no mesmo período, de sexta ao sábado da outra semana. Tal permitiu repetir alguns títulos, mas, por outro lado, todos os filmes projectados durante o decurso das secções competitivas foram apresentados uma única vez, sem contar com as sessões finais com os premiados. Mas não está nada mal para quem reside no Porto.

    Este ano, felizmente, não fomos zurzidos com 12 minutos de trailers e publicidade antes de cada sessão. Para além de alguns curtos spots publicitários, apenas se apresentavam, em alternância, os trailers de «Legião dos Mortos» e «Audition», estreados pela Cinema Novo a 1 de Março no AMC. Apesar do trailer de «Audition» ser lamentável, não supera o modo como o distribuidor assassina o filme, com uma “sinopse” que não só tem pouco a ver com a obra de Miike, como destrói a experiência de a descobrir pela primeira vez. A promoção aos filmes “da casa” teve outras manifestações, como o desperdício de uma primeira sessão de sexta-feira, no meio do programa oficial, com a reprise d' «A Mulher mais Feia do Mundo», um filme do Fantasporto 2000.

    Selecção. Os momentos altos do festival – tendo em conta que não vi todos os filmes – tiveram necessariamente que despontar de quadrantes para lá do fantástico e a surpresa consubstanciou-se nos títulos em língua alemã. Apesar da organização falar de uma vitória do cinema espanhol, na sequência dos prémios atribuídos a «Fausto 5.0» (Grande Prémio Secção Fantástico) e «7337» (Melhor Curta Metragem), a presença da cinematografia do país vizinho foi bem mais que decepcionante (e eu nem sequer vi os «Naufragos»), uma vez que não tivemos títulos do género que mais apreciamos e que nuestros hermanos melhor fazem: comédia-chunga-kitsch. Com o sucesso de Alejandro Amenábar com «Los Otros» poderia ter sido interessante mostrar as suas duas primeiras obras, «Tesis» e «Abre los Ojos». E de Alex de la Iglésia, de quem, em 98, o Fantasporto mostrou «Acción Mutante», poderíamos ter visto os mais recentes «Muertos de Risa» e a comédia negra «La Communidad», um tipo de filme que, anos atrás, fazia as delícias dos espectadores do festival. E de Santiago Segura, poderíamos ter visto os «Torrente» (cujo segundo tomo foi um mega-sucesso em Espanha).

    Os filmes espanhóis apresentados mais pareciam um pacote da Filmax, do que uma selecção propriamente dita, e o horror à americana feito em Espanha pouco difere do produto “original”, apesar de poucos limites no sexo e na violência. Este ano a Cinema Novo distribuiu um considerável número de obras. Isto não deixa de ser positivo – apesar de me ocorrerem alguns milhares de títulos que mereciam distribuição antes de «Legião dos Mortos» –, no entanto, a submissão de títulos ao festival que os próprios organizam deveria levantar algumas questões no que toca a conflito de interesses. É verdade que a SIC também organiza e atribui prémios a programas de televisão, mas não será essa uma das razões porque nunca ninguém levará tal iniciativa muito a sério?

    Já anteriormente se referiu, como justificação à abertura do festival a outros cinemas, nomeadamente o dito “de autor”, a crise de ideias do cinema fantástico. Este ano voltamos a ler citações de que “têm” de haver filmes maus, pois o Fantasporto tem obrigação de ilustrar o que se faz do género por esse mundo fora (o que implica mostrar bom e o mau). O mesmo argumento não tem aplicação no que toca ao cinema de autor, suponho, talvez porque para algumas pessoas “cinema de autor mau” é uma frase sem sentido. Hmmm... O argumento não nos convence porque a selecção é notoriamente limitada e até mesmo preguiçosa. Esta é uma opinião mais ou menos geral, no seio dos habituées – ouve-se nas conversas de café, nas salas, lê-se no painel de bocas – e nem as páginas do jornal oficial do festival (Jornal de Notícias) quebraram a tendencial unanimidade, referindo, dia após dia, a temperatura morna que se fazia sentir no Rivoli.

    No que toca ao cinema asiático, a selecção foi paupérrima. Animação nem vê-la. Poderia ter-se visto o último Miyazaki (que nos há-de chegar dobrado pela Disney e com legendas em português?) ou mesmo o penúltimo («Princesa Mononoke»), que merecia um grande ecrã em versão original. «Metropolis» de Kin Taro, com argumento de Otomo, e «Millennium Actress», realização de Kon Satoshi depois de «Perfect Blue», circularam por festivais na vizinha Espanha. Os títulos mais falados e esperados dos últimos tempos têm passado igualmente por outros festivais, mas não tiveram espaço no Fantasporto: «Ichii the Killer», «Dead or Alive», «Battle Royale», «Kairo», «Versus», ou mesmo o menos recente «Ring», do Japão; «Bichunmoo», «Musa», «Failan», «Joint Security Area», «Nowhere to Hide» da Coreia; qualquer coisa que mostrasse o que se faz actualmente em Hong Kong, mesmo que a indústria já tenha passado melhores dias (mais uma vez o tal argumento com aplicação muito limitada), nem que se limitasse a dois ou três títulos de Tsui Hark e/ou Johnnie To Kei-fung e/ou Fruit Chan Kwoh. O tão falado western Tailandês «Tears of the Black Tiger» também seria uma boa possibilidade de trazer mais algum colorido a este departamento.

    O maior problema do Fantasporto não é ter-se tornado um festival que não é exclusivamente fantástico, mas sim o facto de ter perdido o interesse ou a capacidade de seleccionar filmes para um público habituado a títulos de qualidade dentro desse género, trate-se de material mais convencional ou mais extremo. O público que esta “abertura” tem gerado ou chamado a si, é, neste momento, quase indistinto do público que vai ver o último blockbuster americano ao centro comercial, sobre um balde de pipocas, gerando incómodos e constantes burburinhos perante filmes menos convencionais ou largando risadas por factores culturais, face a umas pessoas “esquisitas” que estão lá no ecrã. (Talvez para o ano, os funcionários troquem a frase “não se esqueça de desligar o seu telemóvel”, por outra socialmente mais útil: “não seja idiota e porte-se como uma pessoa civilizada durante a projecção”.)

    Um Z e Muitos Zeros. As sessões nocturnas no pequeno auditório foram um verdadeiro pesadelo. Não devido à temática de algum filme – este ano não apareceu nenhum equivalente em terror surreal, visceral e extra gore a «Subconscious Cruelty» –, mas porque pareciam ter sido reservadas às finais de um concurso de estupidez, não anunciado no programa oficial. Grupos de jovens e menos jovens, sem mais nada de interessante para fazer (há que repensar a oferta cultural da cidade, ou talvez a oferta de centros de tratamento psiquiátrico), dirigiram-se à sala “alternativa” do Rivoli e comportavam-se como se estivessem num café. Ou talvez num campo de futebol, porque seriam expulsos de qualquer café decente. Conversas, gritos, comentários idiotas; não houve nada que faltasse. As sessões mais pacíficas foram as assoladas pelos tais risos ininterruptos perante os “estranhos asiáticos” (como falam, como andam, como deixam os sapatos à entrada de casa), nas sessões da tarde (nas outras era impossível notá-los...) Assim, como se estivessem de visita a um Zoo. Mas não há dúvida sobre de que lado do ecrã estavam os animais.

    Projecção. Tenho esperança de tirar este tópico de futuros comentários, mas – como é óbvio – não depende de mim. Seja feita justiça, pois a sala principal contou com uma projecção muito melhor do que a de anos anteriores. Aparte o facto de em alguns filmes se notar imagem excessiva lateral a ser desperdiçada nas cortinas (será que emperram passado algum tempo?), na generalidade da sessões a máscara de projecção usada pareceu ser adequada. As excepções de que tomei nota foram «Impostor» e «Suzhou He». O primeiro foi obviamente composto para widescreen 1.85:1, mas projectado “full frame” (1.37:1). Felizmente os cineastas devem ter usado todo o negativo como “safe area”, ressalvando a exibição na TV, e não tivemos as consequências nefastas que se registaram anteriormente com as projecções de filmes como «Happiness», «Very Bad Things» ou «Society», nem imagens exageradamente puxadas para cima – com cabeças cortadas – para fugir aos microfones. O único efeito secundário foram ocasionais “mattes” (faixas negras) que apareciam acima e abaixo da imagem. Mesmo sem microfones, projectores e outros objectos estranhos, não deixa de ser lamentável que o filme não tenha sido projectado convenientemente largo, ao mesmo tempo que apresentava imagem redundante acima e abaixo. Até este filme, parecia que o projeccionista finalmente tinha dado por seguro que filmes não anamórficos, por norma devem ser projectados no formato 1.85:1. Mas talvez se tenha tratado de uma feliz acumulação de filmes com o formato impresso na película (hard matte) ou com legendas em inglês (que podem, e normalmente devem, ser usadas para seleccionar a máscara de projecção). O filme chinês deveria certamente ser projectado um pouco mais largo – a legendagem em português impressa na película permitia-o – mas nesse caso também não existiram efeitos secundários nocivos.

    Um outro título levantou-me dúvidas – o grego «Ephemeral Town» – mas parece tratar-se de uma das raras excepções em que uma obra recente opta por uma composição quadrada, dada a existência de elementos em diversas cenas que seriam tapados caso não se optasse pelo formato da Academia. Acrescente-se que a única vez em que, por engano, se usou a lente errada (esférica em vez de anamórfica), o projeccionista reparou e corrigiu o erro numa questão de segundos. Bons reflexos. (Aconteceu com «Exit».) A focagem também estava muito mais bem apurada por comparação com o ano anterior, apenas com uma ou outra situação em que o foco estava ligeiramente afastado do seu ponto óptimo.

    Em relação ao som do Grande Auditório, continua a existir um ruído eléctrico notório em momentos silenciosos de algumas projecções, do mesmo modo que o subwoofer ou outra coluna por detrás do ecrã parece ameaçar desprender-se em certos pontos mais exigentes da banda sonora, fazendo uma barulheira que para muitos talvez passe por efeito sonoro do filme.

    No que toca ao Pequeno Auditório, infelizmente, não se registaram melhorias. Continua a pensar-se que existe um formato com proporções de cerca de 2:1, o que resulta em que muitos filmes sejam apresentados demasiado tapados, com cabeças e/ou legendagem cortada. O caso mais grave este ano registou-se com «Preaching to the Perverted», sem dúvida a pior projecção deste festival. É de admirar como é que o projeccionista consigue olhar para um filme durante 90 minutos, baixando ou subindo a imagem, julgando que o próximo “toque” é que vai resolver o problema... O filme foi muito provavelmente composto para 1.66:1 com tolerância até 1.85:1, daí que tantas cenas se revelassem verdadeiramente horrendas, com cabeças cortadas, em planos médios, e até olhos que desaparecem no topo da imagem, em planos aproximados. Uma lástima. Outros filmes foram projectados com esta máscara sem que sofressem tanto.

    Com «Séance», pelo menos, à passagem para a segunda ou terceira bobine, houve o bom senso de alterar o formato de projecção, mas suspeito que a imagem tivesse ficado artificialmente subida com receio de que microfones aparecessem no topo. No que toca ao som, o Pequeno Auditório também poderia ser visitado por um técnico, já que ocasionalmente o som se revela muito alto, bem como demasiado agudo e estridente. Isto já sucedia em anos anteriores.

    Home Cinema vs. Cinema Vídeo. O vídeo digital continua a marcar presença, reflectindo experiências e opções de cineastas de todos os cantos do planeta. Pessoalmente, dispenso o notório decréscimo de qualidade, em especial quando se trata de um ecrã grande. «The Butterfly», «Vidocq» e «St. John's Wort» foram rodados em DV, com resultados variados (se bem que não possa comentar no que toca ao filme francês, exibido ao mesmo tempo do coreano). No primeiro caso, o processo terá servido – para além de permitir trabalhar com um orçamento reduzido – para capturar uma maior intimidade dos actores e para a flexibilidade da rodagem, que em algumas ocasiões requeria andar pelo meio de ruas movimentadas (provavelmente sem autorização para filmar). No último caso, o processo foi usado para conferir um aspecto visual particular ao filme, coerente com a atmosfera de um jogo de computador, e para facilitar a manipulação da imagem.

    O Fantasporto apresentou “Love Cinema”, uma série japonesa em seis tomos, também rodada em vídeo. Neste caso, creio que se trata de produções em suporte Betacam SP (li-o algures, mas a informação é escassa e o site oficial é em japonês) e não em digital – como o catálogo refere –, resultando num aspecto visual ainda menos atractivo do que o DV. E isto no Pequeno Auditório. O facto de se tratar de projecção vídeo e não de transferências de vídeo para 35mm pode tê-lo acentuado. Que não pareça que tenho algo contra a apresentação destes vídeos, antes pelo contrário, pois parece-me improvável que venham a passar na nossa TV.

    II - Filmes.

    Terror à Espanhola. Por esta altura, o meu caro leitor (o único que não clickou no link directo no topo da página) já deveria estar a pensar “mas será que este tipo não vai falar dos filmes?” Pois bem, lá terá que ser.

    A produção de cinema de horror espanhola revela um certo contágio de Hollywood, que, infelizmente, tem contribuído para descaracterizar cinematografias apreciadas pelas suas especificidades. Foi o caso dos cineastas asiáticos que quiseram tentar as grandes produção de acção ou efeitos especiais, muitas vezes não agradando a nenhum dos públicos: o público do cinema comercial não aprecia porque “não é bem” como Hollywood e a língua não é a do costume (e dobragem ou legendagem é um sério impedimento à penetração das obras cinematográficas em muitos mercados); o público tradicional continua a preferir títulos com menos orçamento, mais imaginação e menos limites.

    Poster Tuno Negro
    A ignorância só não mata argumentistas.
    «Tuno Negro», «School Killer» e «Impulsos» são filmes com assassinos em série. O primeiro tem o muito usual cenário de um liceu, com as personagens tipificadas do costume. Aqui temos um homicida que se veste de tuno (ou “tunante”, mas acho que em Portugal são mais conhecidos como “gajos que tocam nas tunas”) e desata a matar estudantes, dando-se ao trabalho – pela única razão de que é “cool” fazê-lo no filme – de enviar imagens vídeo via Internet, mostrando à vitima como se está a aproximar dela. Este mecanismo dá origem a alguns quadros curiosos, com perseguições em contagem decrescente, tentando seguir o assassino, por ruas movimentadas. mas o sustentáculo lógico da acção é muito pouco cuidado. Por exemplo, o streaming vídeo ao invés de parar para fazer buffering, devido ao maior ou menor tráfego, chega contínuo, mas com atraso de minutos. Depois, durante a onda de mortes, dezenas de estudantes decidem disfarçar-se do Tuno Negro? É certo que é a desculpa para uma sequência de humor, mas é demasiado irreal. Diferente de uma produção made in US é a cena de sexo algo escaldante (pelo menos para lá da classificação aceitável em salas dos EUA) e o facto de envolver a protagonista que tipicamente seria a menina bem comportada. O resto é uma junção de déjà vu do cinema do género e não só (a situação inicial da chegada de Alex é um decalque de «Threesome», onde Lara Flynn Boyle, com o mesmo nome dúbio, é colocada num quarto masculino). Vicente J. Martin apresentou o filme, lendo (muito bem) um texto escrito em português, onde revelou que a sua intenção era somente de entreter.

    Impulsos
    Não tem nada a ver com desodorizante.
    Paul Naschy, veterano actor espanhol, introduziu «School Killer» – um dos piores filmes apresentados no festival –, declarando-se muito satisfeito com o resultado final. Quem o ouviu falar, não poderia imaginar a pobreza que se iria seguir. Não só é narrativamente medíocre, com está demasiado datado – já estaria fora de prazo em meados dos anos 80. O enredo resume-se numa frase: um homicida mata estudantes no edifício de uma escola abandonada. É difícil de aturar o desenrolar de um filme que, para mais, se arma em auto-consciente e pós-moderno, com referências orais a «Sexta-Feira, 13», «Pesadelo em Elm Street» e «Blair Witch Project» (no meio da matança, um deles continua a filmar, apenas porque é conveniente). Acresce o facto de apesar de referirem que nos filmes de terror os “shreddies” só começam a morrer porque se separam, arranjam toda a espécie de motivos para o fazerem (e morrer). Nem há gore redentor. Aliás, todo o filme se passa de noite e em muitas das cenas mal se vê o que está a acontecer no ecrã.

    «La Biblia Negra» é um filme tecnicamente competente, com representações decentes e diálogos aceitáveis. Um miúdo vai viver para o interior, para a casa de uma tia-avó, que qualquer coisa de bruxa e um cão pouco amistoso. A tal Bíblia Negra contém segredos que permitirão recuperar almas de falecidos e levá-las para corpos de seres vivos. E como a senhora têm saudades do filho morto, anos atrás, porque não juntar o útil ao agradável? O miúdo interage com o padre-professor e com um homem mais jovem, num conjunto de cenas que constituem a parte mais interessante do filme. Infelizmente, sugere-se muito mas entrega-se pouco. Prepara-se o espectador para o sobrenatural, mas depois não acontece nada digno de registo. A apresentar o filme, o realizador, David Pujol, disse que não quis pôr os espectadores a pensar, algo em que foi bem sucedido.

    «Impulsos» está uns furos acima dos restantes títulos espanhóis, mas não se trata propriamente de um filme de terror. Seguimos duas personagens: um pacato cidadão, que por acaso é um assassino em série (de vez em quando apetece-lhe matar alguém), e uma jovem música com tendências suicidas, mas com pouca coragem para a execução. A potencial simbiose é óbvia, mas o filme contém-se e sustém-se na relação entre os dois, por contactos telefónicos ou via Internet (aliás, há um pormenor com a utilização deste meio muito semelhante a algo em «Tuno Negro»). Bom trabalho dos actores e alguma originalidade no desenvolvimento do material. O filme foi apresentado em première mundial pelo seu realizador que disse apenas uma frase – aliás muito ouvida da boca dos cineastas espanhóis, nas introduções aos seus filmes –, “que desfrutéis”, e depois foi-se embora. Em alguns casos, perguntámo-nos porque se dariam eles ao trabalho de subir ao palco.

    Yeuuuuu
    Mmmiiee
    Waaaah
    «Dagon»: caras feias não lhe falta.
    Um título fantástico que prometia mais foi «Buñuel y la Mesa del Rey Salomón», de Carlos Saura, homenageado pelo festival e aplaudido efusivamente no Rivoli. O filme tem por base uma aventura ficcionada com Luis Buñuel – que foi amigo pessoal de Saura –, Salvador Dali e Garcia Lorca, criada pelo “verdadeiro” Buñuel no tempo actual. Seguimo-lo a ele e aos dois amigos (ou aos actores que os interpretam), trajados à anos 20, mas no meio de cenários e figurantes dos nossos dias, em busca da relíquia que é a Mesa do Rei Salomão. A narrativa é algo confusa: o Buñuel de “hoje” está a escrever um filme com ele e os amigos, no qual, por sua vez, estão a preparar um filme em conjunto. Há diálogos de algum humor, situações caricatas e até imagens surreais daliescas, servidas por efeitos especiais competentes (como alguém a pegar na ponta do mar e a levantá-lo), mas acabamos por saltar de cenário em cenário sem chegar a lado algum, sem percebermos aonde se queria chegar. A sensação é de estarmos perante um filme incompleto, uma versão de demonstração para um épico de três horas ainda não produzido..

    Depois do fraco «Faust», de Brian Yuzna, apresentado na edição anterior do Fantasporto, este ano tivemos mais dois títulos da produtora espanhola Fantastic Factory: «Arachnid» e «Dagon». O primeiro é um filme de género onde ainda se regurgitam os mesmos pseudo-enredos de sempre. Desinteressante. O segundo gerou alguma expectativa, uma vez que junta Yuzna na produção e Stuart Gordon na realização de um título inspirado em textos de Lovecraft, depois dos clássicos dos anos 80, «Re-Animator» e «From Beyond». Uma história sobre dois casais que encalham numa vila piscatória espanhola, cujo habitantes foram substituídos ou assimilados por criaturas marinhas. Tal como «Faust», o filme de Gordon leva-nos a um climax com mulheres à beira de um encontro sacrificial com um monstro-deus. A imaginação não abunda muito para aqueles lados. Preferi «Dagon» a «Arachnid» por alguns momentos, fugazes, onde parecia estar um bom filme de horror a querer despontar. Os maus efeitos especiais de ambos não os ajudam em nada.

    Antes da sessão de «Dagon» foi apresentado mais um trailer de «Darkness», com a presença do realizador Jaume Balagueró, que interpretou um sketch com a actriz Macarena Gómez (uma espécie de lula gigante em «Dagon»), em que esta desejava boa sorte ao “Futebol Clube de Gaia” no jogo contra o Real Madrid e aquele corria para o palco a corrigi-la, antes que o público a linchasse. De acordo com Mário Dorminski, «Darkness» está nas mãos da Miramax, sendo essa a razão do seu atraso. Péssimas notícias.

    Do naipe de filmes espanhóis, sobra a primeira longa metragem em animação digital de produção europeia, «El Bosque Animado», vencedor de dois prémios Goya (melhor canção e melhor filme animado). Os realizadores estiveram presentes e afirmaram estar em curso negociações para a estreia do filme, em vários países europeus e na América do Sul, e que desejariam que Portugal fosse o segundo território a exibi-lo comercialmente. O filme, lamentavelmente, não é grande coisa. Primeiro porque dificilmente funcionará com outro público que não o infantil, ao contrário das melhores obras de animação “familiares” que temos visto nos últimos anos. A história é demasiado simples, não há humor e os próprios bonecos estão longe serem graficamente apelativos. A qualidade gráfica e técnica não pode ser comparada com os últimos trabalhos de estúdios americanos (como «Shrek»), mas nem sequer com os primeiros trabalhos em animação digital, como as curtas metragens da Pixar, anteriores a «Toy Story» (1995). Existem mesmo problemas de integração dos personagens com os cenários e, em pelo menos uma ocasião, um boneco passa ligeiramente sobre um “layer” que deveria estar num plano superior. Independentemente das limitações técnicas e de orçamento, a história e as cançonetas não convencerão senão crianças muito pequenas.

    Im Juli
    Em Julho, a caminho da Turquia, com Juli.
    A Qualidade em Alemão. A grande surpresa do festival, quase um choque, foi ver filmes em alemão, um atrás do outro, sem sofrer uma única decepção. Estamos perante um naipe de filmes pouco pegados a géneros (ao contrário dos espanhóis), que pedem um visionamento que não segue estruturas narrativas pré-definidas. Em cada um deles temos o essencial como ponto de partida para um bom filme: um texto de qualidade.

    O mais despretensioso destes títulos é «Im Juli» («In July» no título internacional, sempre preferido pela organização), um travelogue romantico-cómico por alguns países do leste europeu. Um jovem professor com uma vida monótona parte para Istambul em busca de uma mulher que julga ser o amor da sua vida. Na origem da viagem está um anel que Juli, uma rapariga por ele apaixonada, lhe vende, profetizando-lhe que irá encontrar o amor com quem tiver o mesmo símbolo (o sol) e planeando encontrar-se com ele, dentro do traje adequado. Mas eis que outra mulher com o símbolo do sol aparece antes de Juli... Sem receio de abusar das coincidências como meio de levar o filme para a frente, sustidas por um registo entre o humor e a seriedade, e mesmo com um final previsível mas algo incontornável, «Im Juli» foi uma das melhores propostas “low profile” deste festival.

    Hundstage
    O que é "sexy"? «Hundstage», um dos melhores filmes do festival.
    O cinema em alemão prosseguiu com «Hundstage» (“dias de cão”), um termo que se refere ao extremo calor que se faz sentir durante o decurso da acção, num qualquer subúrbio austríaco (dos filmes referidos nesta secção é o único produzido na Áustria). Aqui se apresentam meia dúzia de histórias – algumas interligadas – com uma panóplia de personagens. Uma mulher que pede boleia, não para de falar, faz perguntas incómodas e recita Tops10 de tudo e mais alguma coisa (posições sexuais mais populares, supermercados mais baratos, televisores de plasma mais comprados, etc.); um casal divorciado a viver na mesma casa; um vendedor de segurança; um velhote viúvo, a sua cadela e a sua empregada; um casal mais jovem, em que ele é uma verdadeira besta, mas em que ela não pode passar sem ele; uma mulher que se deixa abusar por um homem mais jovem e que outro deseja “salvar”. A descrição é difícil e não há propriamente princípio meio e fim, mas uma sucessão de acontecimentos. A crueza das situações não agradará a todos os públicos. Apesar da violência decorrer sobretudo dos comportamentos, existem alguns planos um pouco explícitos, sexualmente, bem como a utilização de uma vela fora dum contexto religioso, de aniversário ou falta de energia. As comparações com «Happiness» poderão ajudar a dar uma ideia pelo menos do público que apreciará «Hundstage», mas aqui não temos um realizador-argumentista cínico a rir-se do sofrimento das personagens e da audiência que leva tudo demasiado a sério.

    «Das Experiment» foi outro bom filme alemão que veio elevar substancialmente a pobre qualidade média do Fantasporto 2002, contando novamente com a presença de Moritz Bleibtreu, o protagonista de «Im Juli». Com base em experiências reais com seres humanos, o filme apresenta-nos um grupo de “homens normais” que, a troco de um prémio monetário substancial, se deixam fechar num laboratório-prisão, em observação 24 horas por dia. Uns serão guardas, outros prisioneiros. Rapidamente as coisas se tornam demasiado sérias e a experiência sai fora de controle. É certo que para o final se tenta dar mais destaque à componente de filme de acção, mas a realização é competente e os actores convincentes nos seus papéis. É fácil de aceitar como as coisas podem correr da pior forma possível. Pelo meio há também uma história de amor, a ocupar pouco tempo do filme, mas a cumprir bem a sua função. Algumas coisas poderão implicar uma certa suspensão da descrença, e toda a componente do trabalho jornalístico poderia simplesmente ser eliminada. Um bom entretenimento que também pode fazer reflectir um pouco.

    Das Experiment
    Será a racionalidade aquilo que melhor define o Homem? Uma experiência.
    «Der Tunnel» baseia-se em histórias verdadeiras de indivíduos que se dedicaram a tentar resgatar pessoas de Berlim Leste. Um campeão de natação da RDA, já com historial de rebeldia política, decide fugir para a RFA, numa altura em que o muro está a começar a ser construído e ainda não se esgotaram alternativas nem a imaginação dos que desejam sair da alçada do regime comunista da Alemanha de Leste. Com o muro de pé, a construção de um túnel é a solução mais óbvia, tendo como ponto de partida uma fábrica desactivada, e um grupo de casas desocupadas, por razões de segurança, como objectivo. O filme foca personagens de ambos os lados do muro, acompanha a construção do túnel, as maquinações políticas e as pressões exercidas para forçar a denúncia de entes queridos a troco de contrapartidas pessoais. Não há aqui nada gratuito, nem o “vilão” é tornado uma caricatura do vil opressor comunista. As mais de duas horas e meia passam sem que pensemos nas más características ergonómicas da cadeira. Apesar de rodado em scope, foi produzido também para exibição televisiva, e exibido em duas partes numa versão ainda mais longa. Um épico como há muito não se via: os “épicos” de agora pegam num facto histórico (Pearl Harbour, o afundamento do Titanic, etc.), e enchem-nos com 90 minutos ou duas horas de lamechice romântica, sacrificando a História ao interesse do entretenimento.

    O único filme alemão sem interesse (bem, mau), foi «Legion of the Dead» (entretanto estreado no AMC, em Vila Nova de Gaia). Curiosamente falado em inglês. Sobre este não há muito a dizer. Pretende ter uma história, com uma introdução bíblica, o desenvolvimento com dois patetas a recrutar a legião – no fundo a matar pessoas e a transformá-las em demónios – e uma conclusão, com um confronto entre os bons e os maus. Mas qualquer tentativa de linha narrativa e de coerência é posta da parte e esta desistência parece ser acompanhada por um esforço do realizador em mostrar que aquilo é tudo na galhofa. O problema é que o humor é limitado e a violência gráfica contínua não chega para fazer um bom filme, nem sequer um filme médio. Os actores são maus, há personagens a mais, os dois recrutadores são postos de parte muito cedo, os “heróis” parecem saídos de um filme porno, e a justificação para o conflito é ridícula. Há qualquer coisa sobre deuses e diabos, depois tudo é por amor (!), a seguir o outro está-se só a divertir. Nada faz sentido.

    Rios, Peixes, Anjos e Demónios da Ásia. A Semana dos Realizadores abriu com a projecção do muito estético «Suzhou He», título “clarificado” para «Os Amantes do Rio», para que o público saiba que se trata de um romance. No original é “Rio Suzhou” e é em redor do poluído rio de Shanghai que se desenrola uma história de amor e de traição. Ou antes duas histórias de amor, com traição e abandono pelo meio. O narrador é um videógrafo e o facto de estar sempre a gravar imagens fornece o mote visual. As cenas em que intervém apresentam-se no seu ponto de vista, através da câmara de vídeo (que feliz e miraculosamente tem qualidade de filme); as cenas onde não está presente são filmadas de modo similar. No fundo, ele não está presente, o que pode ser uma motivação algo metafórica para que a namorada ponha em causa a relação e lhe pergunte logo no início, se ele a procuraria até ao fim dos dias caso ela desaparecesse. Assim se remete para a história de outro casal. Ele comete um erro que a leva a afastar-se (desaparece no rio – terá morrido?), condenando-o a uma possível busca sem fim. O estilo visual não interfere com a história, mas fica a faltar algo que nos faça interessar mais pelo destino das personagens.

    Se apenas se apresentou um filme chinês no festival, do Japão a oferta foi mais ou menos recheada, em particular com a divulgação da série “Love Cinema”. Dos seis títulos tive a oportunidade de visionar quatro: «Visitor Q» (vol. 6), «Harikomi» [Stake Out] (vol. 4), «Tojiru Hi» [Enclosed Pain] (vol. 3) e «Tokyo Gomi Onna» [Tokyo Trash Baby] (vol 1), tendo ficado para outra oportunidade «Gipuso» [Gips] e «Eri ni Kubittake» [Amen, Somen and Rugger Men!], respectivamente os volumes 5 e 2. Como se trata de histórias sem qualquer relação uma com a outra, a ordem de exibição é irrelevante.

    Visitor Q
    O melhor filme do festival foi um vídeo. (Capa da recente edição alemã de «Visitor Q» em DVD).
    Depois do primeiro fim de semana do programa oficial, duas perguntas assolavam os espectadores: qual o sexo dos sapos e quando é que vamos ver um filme realmente bom? Se a primeira questão permanece um mistério, a segunda foi respondida na segunda-feira com a exibição de «Visitor Q», de Miike Takashi, a sua terceira obra a ser projectada no festival, depois de «Gokudo Sengokushi: Fudoh» em 1998 e «Audition», no ano passado. Apesar da qualidade média dos filmes ter subido à medida que a semana avançava, «Visitor Q» manteve-se o melhor título exibido, apesar de ser um vídeo (não elegível para as secções competitivas). No meio de uma certa devassidão sexual e violência exageradas a níveis cartoonescos, o filme de Miike apresenta uma história moral e moralizadora sobre a desagregação de uma família japonesa, que virá a encontrar a unidade perdida depois da visita de um “anjo” (o tal “visitante”). A diferença entre o tratamento dado pelo realizador japonês e qualquer filme “feelgood” com anjinhos é que Miike não gosta de limites de espécie alguma. Assim, o filme abre com curtas sequências apresentadas por três intertítulos que se traduzem por algo como: “Alguma vez fizeste sexo com o teu pai?”, “Alguma vez levaste com uma pancada na cabeça?” e “Alguma vez bateste na tua mãe?”. O chefe de família é um produtor televisivo em desgraça, cheio de ideias para reportagens “reais”, de preferência que o envolvam a si mesmo e à família. A mãe é viciada em drogas e prostitui-se de vez em quando. A filha vive fora e segue um caminho semelhante. O filho mais novo é abusado pelos colegas e espanca a mãe perante a passividade do pai. Um dos poucos filmes que me fez rir às gargalhadas nos últimos tempos, «Visitor Q» requer alguma abertura de espírito, muito sentido de humor e, sobretudo, não tomar as coisas demasiado à letra.

    Os outros três vídeos da série são de tom diverso. Desses, o mais interessante foi «Stake Out», onde um estranho polícia pede a uma mulher que vive sozinha para usar o seu apartamento para vigiar um suspeito que vive no prédio em frente. Uma história simples com trabalhos convincentes dos dois actores e uma conclusão curiosa. «Tokyo Trash Baby» parte de uma premissa invulgar – uma rapariga apaixonada por um vizinho recolhe e analisa o seu lixo... – mas perde-se em demasiadas abstracções. «Enclosed Pain» é um curioso exercício narrativo, focando uma relação aparentemente incestuosa entre dois irmãos, sendo a irmã mais velha uma escritora famosa pelos seus livros de temáticas fortes e que poderá ou não usar as experiências pessoais nos seus livros. A canção de embalar sobre os créditos finais é um remate perfeito.

    Nas variantes de horror japonês tivemos três filmes radicalmente diferentes entre eles: «Korei» [Séance], «Inugami» e «Otogiriso» [St. John's Wort]. O primeiro está mais próximo do horror clássico japonês e do popular «Ring», mas não parece cair muito bem com as audiências habituadas a outro tipo de horror mais movimentado. O realizador Kurosawa Kioshi, durante a introdução ao filme noutro festival de cinema, já o havia avisado, com receio de que as audiências norteamericanas não se deixassem seduzir pelo registo. Disse ele que “vampiros sugam sangue, zombies comem carne, mas os fantasmas japoneses não fazem absolutamente nada”. Esta foi uma das projecções que funcionaria melhor sem uma audiência que parecia, em grande parte, sob o efeito de estupefacientes, com risinhos intermitentes desde o início do filme.

    Baseado num livro que foi previamente feito filme no Reino Unido em 1964, «Séance on a Wet Afternoon», «Korei» relata a história de uma médium que decide aproveitar o desaparecimento de uma miúda para tentar provar a veracidade das suas capacidades espíritas. Como seria de prever as coisas não vão correr conforme o esperado. Filmado com grande sobriedade, sem sangue, sexo ou violência gráfica, inclui algumas cenas que poderão arrepiar, principalmente se não se estiver numa sala cheia de pessoas que deveriam estar em casa a ver vídeos com os amigos, bem bebidos e bem fumados. Kurosawa é autor já de uma obra considerável, sendo mais conhecido por «Kyua» [Cure] ou pelo mais recente «Kairo» [Pulse]

    «Inugami» tem uma boa fotografia e banda sonora e conta a história da maldição que assola as mulheres de uma família, numa vila do interior de uma ilha japonesa. Miki é uma mulher de 40 e tal anos que fabrica papel à maneira tradicional e que se parece tornar cada vez mais jovem, depois de se envolver com um professor recém chegado à aldeia. As mulheres da família estão condenadas a guardar os deuses Inugami (“espírito de cão” ou “deus-cão”) tidos como responsáveis por muitas desgraças que assolam a região. A família, também marcada por relações incestuosas no passado, parece fadada à perdição. Quem estiver à espera de um filme com monstros e muita acção é melhor passar, porque «Inugami» leva o seu tempo, e, apesar da temática, não é um filme de monstros. A sinopse do catálogo do festival – provavelmente baseada em notas da produção, já que é quase idêntica à que está no verso do DVD de Hong Kong –, vai demasiado longe, revelando surpresas do argumento, que só se descortinam quase no final do filme.

    Já «St. John's Wort» (nome de planta, que remete para uma cor) é sobretudo um exercício formal. Esta obra também foi seriamente prejudicada por uma audiência de hooligans no pequeno auditório, algo que, a instituir-se, pode contribuir seriamente para degradar o festival, separando uma sala mais mainstream, com títulos comerciais e “de autor”, mais aceites pelo grande público e pela crítica, de uma sala para títulos mais específicos, mas que parecem atrair um público de pessoas que normalmente andariam pelas ruas de noite a dar pontapés em caixotes do lixo e a fugir da polícia. Rodado em DV, num processo da Panasonic (DVCPro), o filme recorre a um tratamento visual curioso, com cores primárias berrantes e contrastadas num cenário e tons mais escuros noutro. Os constantes avanços rápidos da imagem, intercalados com mapas da casa por onde as personagens se terão de deslocar, conferem-lhe um look de jogo vídeo, coerente com o argumento: um casal desloca-se a uma mansão desabitada, perdida no meio de uma floresta – herdada por ela, depois da morte do pai –, em busca de inspiração para um jogo de computador (baseado num livro, o filme foi precedido por um jogo). O antigo dono da casa era um artista, autor famoso de pinturas góticas e viscerais. A filha vai fazer descobertas sobre o seu passado, ao mesmo tempo que desvenda o tenebroso segredo da fonte de inspiração das pinturas do pai. Tal como um jogo, onde se pode começar de novo, o filme apresenta algumas cenas alternativas. Há quem ache o final estúpido, mas parece-me coerente com o resto.

    Friend (Poster)
    «Friend», o melhor coreano projectado.
    I Wish I Had a Wife (Poster)
    «I Wish I Had a Wife»: a beleza das pequenas coisas.
    Dos títulos japoneses apenas «Séance» foi apresentado à competição (na secção Fantástico); «Inugami» e «St. John's Wort» integraram a secção Panorama, os restantes, como foi dito acima, não poderiam ser inscritos dado o suporte vídeo. Nesta secção estava ainda inserido no catálogo «Scent of Time» («Toki no Kaori»), que suponho não ter chegado a ser exibido, dado que não apareceu no programa.

    Por comparação com o ano passado, em que tivemos direito a uma selecção especial de títulos da Coreia do Sul, a título de cinematografia homenageada, a edição de 2002 foi algo pobre no que toca a filmes originários daquele território, com notórias omissões já referidas. Ainda assim, tivemos dois belos filmes: «Chingu» [Friend] e «Nado Anaega Isseoseumyeon Joketta» [I Wish I Had a Wife]. O primeiro conta a história de quatro amigos, desde a escola primária até à vida adulta, quando dois deles acabam por ter de lutar pela subida na hierarquia de dois grupos rivais de gangsters, o que torna difícil a manutenção da amizade de longa data. Um filme sóbrio, sem preocupações com espectacularidade – a violência é breve e sem floreados –, sem nada de redundante, e com bons desempenhos do elenco principal. Apesar de ser o melhor filme coreano presente, esteve fora de competição, integrado na Secção Panorama.

    «I Wish I Had a Wife» é uma comédia romântica, daquelas que funcionam, apesar da sua grande singeleza. Seguimos a história de um homem que decide que já chegou a altura de arranjar a mulher certa. Isto é ilustrado de forma bastante sugestiva, durante uma quebra de energia no metropolitano, onde, às escuras, vemos um enxame de luzes de telefones celulares a acenderem-se, seguido de um grande zunzum de conversas. Só ele não tem ninguém a quem telefonar, desgraçado. Paralelamente, em frente ao banco onde trabalha, há uma professora que tenta expor os seus sentimentos, mas por ele é ignorada e até censurada.

    «Sorum», distinguido com três prémios, é uma espécie de thriller de mistério, mas filmado contra as convenções do género, mais como um drama ou um filme de autor francês. Os planos são normalmente afastados, com as personagens ao longe, sem lhes vermos a expressão. Isto cria um certo distanciamento entre nós e os sentimentos expressos no ecrã, pelo que o estado de espírito certo pode ser a chave para a sua melhor ou pior apreciação. Há uma certa frieza geral durante o filme, que impede que as cenas chave tenham o impacto que poderiam ter. Sinopse: um homem instala-se num apartamento, num prédio quase desabitado, onde houve um incêndio que levou à morte de um escritor. Factos estranhos ocorreram 30 anos atrás no mesmo local. Perto vive a ex-namorada do falecido, um outro escritor mal sucedido e um casal, cujo marido agride regularmente a mulher. Da interacção entre todas as personagens, e através do derrame de sangue, sairá a clarificação de factos de um passado obscurecido por crimes.

    «Mulgogijari» [Pisces] move-se num terreno difícil; o de um filme que não define claramente o seu género. Goste-se ou não – e não me parece que tenha despertado grandes amores – tem de se admitir a coragem de construir uma história que até certo ponto pode seguir pelo menos três caminhos diferentes, cada um deles definindo aquilo que poderíamos esperar de um filme de um certo tipo: avançará pelos caminhos do thriller, da comédia romântica ou, quem sabe, de um tertium genus? A história é a de uma mulher que toma conta de um vídeo clube e se apaixona por um músico que vive na vizinhança. Apesar de parecerem ter muito em comum, ele tem uma namorada (ausente, no início) e não parece estar interessado em trocar. Lentamente, desenvolve-se uma relação de amizade, mas, quando ela se tenta aproximar mais, ele repele-a. E ela parece recusar-se a aceitar um não. A partir daí a obsessão vai florescer. Conceitos de normalidade e de aparência são lentamente dissecados. Esta foi mais uma obra que poderia beneficiar com uma revisão numa sala com menos pessoas alérgicas a filmes “parados”.

    Sorum (Poster)
    «Sorum» poderia ganhar o quarto prémio: Melhor Cartaz (se o prémio existisse).
    Por fim, «Nabi» [The Butterfly], rodado em vídeo digital, com um “look” pouco atractivo, parte de uma premissa curiosa: num futuro próximo, numa cidade da Coreia, existe um “vírus do esquecimento”, que atrai turistas que desejam perder as suas memórias mais dolorosas. Anna Kim é coreana de origem mas passou grande parte da vida na Alemanha. Regressa agora em busca do esquecimento. Apesar do pendor sci-fi, pouco realizado, devido ao orçamento próximo do no-budget, «Nabi» centra-se na relação entre Anna, a sua guia adolescente e o motorista de ambos. Este, ao contrário de Anna, está à procura do passado, pois foi abandonado pelos pais e desconhece a sua origem ou mesmo a data de nascimento. Os temas são interessantes, mas a execução, mesmo esquecendo tratar-se de DV, não é a mais funcional. Os problemas maiores são narrativos, pois as personagens passam demasiado tempo a andar de um lado para o outro, sem que pareçam chegar a lado algum. Acresce existirem três cenas em que Anna é apanhada pela chuva ácida. Apesar dos perigos que tal acarreta, arranja-se sempre mais uma forma de lá chegarmos. O tratamento implica um duche e a passagem de um gel terapêutico por todo o corpo. Se se tratasse de um sexploitation diria que este expediente narrativo servia apenas para despir a actriz vezes sem fim, mas as cenas em questão nem são particularmente “gratuitas”.

    Estripadores, Impostores e Caçadores de Demónios. Para o final fica um conjunto de filmes provenientes dos EUA, Europa e Oceania. Começando pelo cinema de autor, e “lá por baixo”, tivemos «Rain», de produção neozelandesa, seguindo a desintegração de uma família sobre um cenário paradisíaco e um dia-a-dia de festas e de praia. Em contraste com a paisagem e a vida descontraída, estão os problemas de alcoolismo da mãe, que desenvolve uma relação extra-marital. A personagem central, no entanto, é uma miúda adolescente, que por vezes surge como o elemento da família mais madura, apesar de noutras ocasiões não deixar de se portar como a criança que ainda é. Boa fotografia, bons actores, mas talvez precisasse de mais algum “tempero”.

    No mesmo dia, foram projectados dois filmes do britânico Stuart Urban: «Preaching to the Perverted» e «Revelation», ambos integrados na secção Fantástico, apesar do primeiro título não encaixar na temática; estamos perante uma história desenvolvida a partir de casos reais em que a conservadora sociedade britânica decidiu perseguir nos tribunais os chamados “clubes de fetiches”, onde homens e mulheres se entregam a práticas sexuais de dominância ou submissão, que implicam danos físicos. A premissa dá pano para mangas: um jovem religioso e ambicioso decide “sacrificar-se” em nome da causa, passando-se por um “pervertido” e infiltrando-se no clube da “Mistress” Tanya. O filme levanta a questão: porque é que o sacrifício físico consentido é ilegal num clube destes, mas o mesmo não acontece com o boxe?

    The Fetish Nun
    «Preaching to the Perverted»: não é uma actriz, nem uma simulação, mas a genuína Freira Fetichista. O que se passa lá em baixo? Terá de ver o filme ou ir ao site oficial.
    «Revelation» foi, segundo o realizador, que introduziu ambas as sessões, inspirado nos trillers políticos dos anos 70, assentes em conspirações governamentais ou de instituições que funcionam à margem dos governantes, nomeadamente «O Homem da Maratona». As similaridades são maiores com filmes de temática apocalíptica, ligados ao fim do mundo, ao anticristo, à clonagem de Hitler, etc. Urban conseguem criar uma atmosfera convincente, com bases históricas muito credíveis. Acompanhamos a busca por uma relíquia histórica, com origem no tempo de Cristo, cobiçada por uma organização com objectivos negros. No final, ficamos com a sensação que mais uma meia hora de exposição não seria em excesso. Urban mostrou-se reticente perante a complexidade da obra, dada a hora tardia a que o filme iria ser exibido, mas não houve motivos para preocupação. Alguns elementos poderiam ser dispensados, como os sequazes de Udo Kier, com uma natureza sobrenatural que ficou por desenvolver, criados por efeitos visuais digitais pouco conseguidos.

    «The Bunker» mostra-nos um grupo de soldados alemães em luta contra um inimigo desconhecido, que se movimenta em galerias subterrâneas que não foram terminadas. Através de flashbacks vão-nos sendo fornecidas pistas sobre a origem da ameaça. Um interessante pequeno filme. A mesma expressão adequa-se a «Silent Cry», ainda nos títulos de produção britânica, que conta a história de uma mãe solteira cujo filho morre sem explicação. Só que ela não acredita que a criança tenha de facto morrido e envereda por uma investigação particular para apurar a verdade. Um thriller bem feito, mas com momentos focados com alguma ligeireza (como os amigos que desaparecem sem que grande importância lhes seja atribuída) e algumas coincidências em colisão na recta final.

    No que toca à produção norte-americana, as presenças não foram de todo decepcionantes, apesar de terem tendência para ficar aquém do melhor resultado, devido aos costumeiros compromissos com o mercado. «Wolf Girl» não é um filme de estúdio, mas uma produção independente rodada na Roménia. Apesar das menores limitações, que permitem, por exemplo, mostrar a rapariga lobo em pelo, com pelo e sem pelo, algo essencial para ilustrar o seu, hmmm, drama humano, o filme esforça-se demasiado por ser série Z, ao mesmo tempo que tenta suster uma linha narrativa convencional, com “freaks” que são os bonzinhos e miúdos bonitinhos que são os verdadeiros freaks. Uma óbvia homenagem ao clássico de Tod Browning, com alguns problemas de montagem, alguma falta de lógica em várias ocasiões, demasiados números musicais e um final obtuso.

    «Frailty» é uma espécie de thriller de mistério, realizado por Bill Paxton, conhecido actor secundário de filmes de James Cameron, e protagonista de «O Plano» de Sam Raimi (dois dos nomes incluídos nos agradecimentos). Esta produção independente poderia inserir-se num conjunto de filmes recentes que caminham para uma surpresa final, e que, por vezes, quase a ela se reconduzem, sendo filmado de modo muito mais “low profile” do que o normal. Neste caso, parece-me que se ganharia com outra aproximação ao material, mas tal poderia também prejudicar as inclinações do argumento (que convém deixar em aberto). Por alguma razão, parece-me adequado para episódio de uma série de TV de mistério e/ou ao terror; sente-se falta de dimensão no ecrã gigante. Alguns pormenores padecem de lógica, como o agente do FBI que parte sozinho, com um indivíduo que lhe conta uma história de homicídios na família para o meio de nenhures, cavar cadáveres. A história segue, em flashback: o pai do homem que surge no início a acusar o irmão de ser um assassino em série procurado pela polícia, certo dia informa os filhos que Deus lhe confiou uma missão de destruir demónios que vivem entre nós, passando-se por pessoas comuns. Curioso.

    Na vertente mais mainstream tivemos «From Hell» e «Impostor». Este último pega no tema clássico do homem acusado, que, em fuga, tenta provar a sua inocência. A variante aqui é tratar-se de uma história de Philip K. Dick, a decorrer num futuro em que a humanidade vive em cidades envoltas por cúpulas de energia, em guerra com uma ameaça alienígena, e em vez de ser acusado de um crime que não cometeu, o protagonista é acusado de não ser “ele”, mas um andróide-bomba colocado no seu lugar pelos invasores extra-terrestres. O “combate intergalático” não passa de um mero pano de fundo (muito distante), pois não estamos perante uma mega-produção de Hollywood, recheada de efeitos especiais. Aliás, a pequena dimensão do projecto justifica-se por se tratar originalmente de uma curta-metragem de 30 minutos que faria parte de um tríptico de ficção científica. Aparte algumas facilidades do argumento – como o número elevado de buracos que aparecem em vários sítios para facilitar a fuga – o filme vai directo ao assunto e constitui um bom entretenimento. Há quem adivinhe o final, e há quem seja parcialmente surpreendido. De um modo ou de outro, é um pequeno filme com uma ideia simples e bem explorada, sem pretensão de se tornar um clássico, termos em que me fez lembrar «The Arrival» (1996). A ser mera coincidência, não seria a única: Lindsay Crouse está presente em ambos os filmes (neste só de passagem) e David Twohy, realizador e argumentista de «The Arrival», trabalhou no argumento deste «Impostor».

    From Hell (Poster)
    Um thriller de horror demasiado controlado.
    «From Hell» baseia-se na graphic novel, com argumento de Alan Moore e desenhos de Eddie Campbell, que conta a história dos crimes de Jack o Estripador no bairro londrino de Whitechapel, em 1888, por um prisma mais político e menos virado para a “acção”. Com uma atmosfera decente, a boa caracterização e design de produção, sugere um grande filme que se poderia ter feito. Fica um razoável objecto comercial, a meio caminho de se tornar uma obra superior. Por alguma razão, Alan Moore terá dito “Ficaria feliz se eles fizessem 'Com Jeito Vai... Estripando' [Carry on Ripping]. Não é o meu livro, é o filme deles”. Nem ele nem Campbell se envolveram no projecto que reestrutura uma história original, que tem no centro a personagem do assassino e sem que se faça mistério quanto à respectiva identidade. O final também será mais cor-de-rosa do que o livro (filmaram um ainda mais rosado, que certamente será mostrado no DVD). Desconhecendo a fonte original, a versão filme entretém q.b., mas não contorna questões ridículas, como a prostituta interpretada por Heather Graham ser tão bonitinha, tão limpinha, tão arranjadinha, e nunca ser vista a trabalhar, por oposição às suas colegas e amigas, com um ar bem mais sujo, coerente com as ruas escuras e insalubres da Londres do final do Século XIX, onde ganham a vida.

    Ainda na temática dos psycho-killers, assistimos a «Exit», entrada francesa, com um ponto de partida curioso, apresentando uma personagem com problemas psíquicos e que desconhece se foi ou não o autor de diversos homicídios cometidos anos atrás, duvidando inclusive da sua responsabilidade numa nova onda de mortes violentas. Um bom ambiente, mas com conceitos estéticos demasiado decalcados de «Se7en» (o quarto do psicótico cheio de recortes, um diário escrito a letra miudinha, com colagens) e a visão de um homem dentro da sua cabeça (a voz da loucura?) a fazer lembrar demasiado o lynchiano Bob, de “Twin Peaks”. Sofre também com uma primeira parte limpa de acontecimentos dignos de registo, decidindo-se quase no final por apresentar alguma acção, rematando depois com um final desnecessariamente “inteligente”, fabricado com umas pequenas reviravoltas e a reinterpretação da história, com pequenos laivos de, hmm, uma obra bastante popular. Não sendo um bom filme, tem elementos válidos, em termos de narrativa e ambientes góticos, que podem suscitar algum interesse pela próxima obra do realizador Olivier Megaton, com formação na publicidade e nos video-clips.

    Falta mencionar «Efimeri Poli» [Ephemeral Town], um filme Grego que me fez recordar o iraniano Abbas Kiarostami (nota: não é um elogio). Durante hora e meia acompanhamos um homem que decide procurar a casa da sua mãe. Ele vai, chega lá e depois acaba. O ponto alto do filme é quando ele cai da bicicleta. Muito bonito, fotograficamente falando, e certamente muito apreciado pelos indefectíveis do género (género “filme de autor onde não acontece nada”, mas que pode dar azo a textos analíticos muito literários – a identidade cultural, a busca das origens, etc. e tal). Ao jeito kiarostamico, poderia fazer-se uma sequela, onde um outro homem vai à procura do homem que foi à procura da casa da mãe.

    Curtas >>

    Circuito comercial. Há um pacote considerável de filmes já com distribuição assegurada (resta saber quais não terão a sorte de passar pelas salas de cinema), graças, em parte, à presença forte da Castello Lopes/LNK, com «From Hell», «Frailty», «Impostor», «Revelation», «Vidocq», «Das Experiment», «The Deep End», «Bloody Sunday», «Nueve Reinas» e «Dark Blue World». Quase se pode perguntar se é a distribuidora que compra muitos filmes seleccionados pelo Fantasporto ou se é o Fantasporto que exibe muitos filmes comprados pela distribuidora. A Cinema Novo distribui os supra mencionados «Legion of the Dead» e «Os Amantes do Rio», a que acrescem os italianos «De Olhos Bem Abertos/Lontano in Fondo Agli Occhi» e «Direito à Preguiça/Non Con Un Bang», sem referir outros títulos exibidos fora da competição deste ano, já projectados em anos anteriores.

    III – Filmes Visionados Dia-a-Dia

    Sexta, 22
    Os Amantes do Rio/Suzhou He
    Nabi [The Butterfly]
    A Legião dos Mortos/Legion of the Dead

    Sábado, 23
    El Bosque Animado
    Arachnid
    The Bunker
    Preaching to the Perverted
    Tuno Negro
    Revelation

    Domingo, 24
    Sorum
    Korei [Séance]
    Visitor Q (Love Cinema, Vol. 6)
    Dagon

    Segunda, 25
    Nado Anaega Isseoseumyeon Joketta [I Wish I Had a Wife]
    Efimeri Poli [Ephemeral Town]
    Frailty
    Buñuel

    Terça, 26
    Harikomi [Stake Out] (Love Cinema, Vol. 4)
    Silent Cry
    Rain
    Mulgogijari [Pisces]

    Quarta, 27
    Exit
    Im Juli
    Impulsos
    Impostor

    Quinta, 28
    School Killer
    Hundstage [Dog Days]
    La Biblia Negra
    Das Experiment

    Sexta, 1
    Chingu/Friend
    Tojiru Hi [Enclosed Pain] (Love Cinema, Vol. 3)
    Inugami
    A Verdadeira História de Jack, o Estripador/From Hell

    Sábado, 2
    Der Tunnel
    Wolf Girl
    Tokyo Gomi Onna [Tokyo Trash Baby] (Love Cinema, Vol. 1)
    Otogiriso [St. John's Wort]

    IV – Filmes Premiados

    Secção Oficial Cinema Fantástico

    Grande Prémio: «Fausto 5.0», Isidro Ortiz, Allex Ollé e Carlos Padrissa (Espanha);
    Prémio Especial do Júri: «Sorum», Yun Jong-chang (Coreia do Sul);
    Melhor Realizador: Yun Jong-chang, «Sorum»;
    Melhor Actor: Miguel Angel Solá, «Fausto 5.0»;
    Melhor Actriz: Jang Jin-yeong, «Sorum»;
    Melhor Argumento: Mario Giordano, Christoph Darstaedt e Don Bohlinger, «Das Experiment» (Alemanha);
    Melhores Efeitos Visuais: Pitof, «Vidocq» (França);
    Melhor Curta-Metragem: «7337», Sérgio G. Sanchez (Espanha)

    Semana dos Realizadores

    Grande Prémio: «Bloody Sunday», Paul Greengrass (Reino Unido);
    Prémio Especial do Júri: «Hundstage» [Dog Days], Ulrich Seidl (Austria);
    Melhor Realizador: Christoph Stark, «Julietta» (Alemanha);
    Melhor Actor: Tim Piggot-Smith, «Bloody Sunday» (Reino Unido);
    Melhor Actriz: Sarah Pierse, «Rain» (Nova Zelândia);
    Melhor Argumento: Fabian Bielensky, «Nueve Reinas»

    Que gratuito...
    Este ano não houve nenhum filme com Shim Eun-ha...
    Music Videos

    Melhor Videoclip Português: “A Casa (Lounge Mix)” – Rodrigo Leão, José Pinheiro;
    Melhor Videoclip Fantástico: “Schism” – Tool, Adam Jones;
    Melhor Videoclip Internacional: “Weapon of Choice” – Fatboy Slim, Spike Jonze;
    Menção Especial do Júri: “Ya Mamma” – Fatboy Slim, Spike Jonze

    Prémios Não Oficiais

    Prémios Fantasporto para uma Carreira: Carlos Saura, Oswaldo Caldeira, Julien Temple e Alex Cox.
    Cinematografia Homenageada: cinema argentino.
    Prémio do Júri da Crítica (ex-aequo): «El Bosque Animado», Angel de la Cruz e Manolo Gomez (Espanha), «Os Amantes do Rio/Suzhou He», Lou Ye (China).
    Prémio da Audiência/Prémio JN: «Bloody Sunday», Paul Greengrass (Reino Unido).
    Prémio “Onda Curta”/RTP: «The Cat with Hands», Robert Morgan (Reino Unido) e «A Donf», Lolo Zazar (França).

    O Fantasporto 2003 começa a 21 de Fevereiro.

    12/03/02

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