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Babe: Pig in the City/Babe: Um Porquinho na Cidade
Realizado por George Miller
EUA/Austrália, 1998 Cor - 96 min.

Com: Magda Szubanki, James Cromwell, Mickey Rooney, Mary Stein, Paul Livingston, Babs McMillan e vozes de E.G. Daily, Danny Man, Glenne Headly, Steven Wright, James Cosmo, Nathan Kress

Depois de vencer o concurso para cães-pastores, o porco Babe (Daily, voz) regressa triunfante à sua quinta, aplaudido pela população local. As coisas tornam-se cada vez menos rosadas do que o lombo do protagonista, logo após o lamentável acidente de que o "patrão" Hoggett (Cromwell) é vítima e com a entrada em cena do Banco, que ameaça vender a quinta, devido às dívidas dos proprietários. Esme Hoggett (Szubanki), até então rejeitando as propostas de exibição do porco-maravilha, decide que a única coisa a fazer é aproveitar uma generosa oferta e levar Babe a uma Feira. Num aeroporto, um equívoco relacionado com estupefacientes fá-los perder o avião, traçando um quadro cada vez mais negro para o futuro da quinta. Obrigada a ficar alguns dias em Metrópolis, aguardando o avião de regresso, Esme procura um hotel que não imponha restrições a porcos.

«Babe: Pig in the City» é já um candidato bem visível para as listas - para quem ainda tem paciência para elas - das "sequelas melhores do que o original". Porque é. Se fosse anterior a «Scream 2» (que não entra nessa categoria) a sua referência seria inevitável. Demasiado negro para bater o anterior filme na bilheteira (ou para ter resultados minimamente relevantes), não evitará o estatuto de cult movie e o inevitável síndroma da apreciação que melhora com o tempo. O que o público não deu ao filme, deu a crítica, pelo menos a Americana: apreciação. Figurou em diversos tops - voltando às listas - dos melhores do ano (98), incluindo nos da dupla Siskel & Ebert (do famoso programa de TV). Gene Siskel colocou-o mesmo na primeira posição, acima de «The Thin Red Line», «Pleasantville» (agora em estreia com o patético título «Viagem ao Passado») e «Saving Private Ryan» (vd. tops de 98 aqui). Nos EUA, como é óbvio, não há tanta "vergonha" em apreciar certos géneros como na Europa, o que não significará ser "melhor" ou "pior" (Roger Ebert, por exemplo, gostou de «Barb Wire» e de «Speed 2»), mas, tão só, ser mais fácil não pôr de parte filmes "comerciais" nacionais.

«Babe» (1995), dirigido por Chris Noonan, com guião deste e de Miller (também co-produtor), foi um filme extremamente bem sucedido comercialmente e recebeu sete nomeações para os Oscars, incluindo melhor filme, realizador e argumento adaptado, ficando-se, no entanto, na hora da verdade, pelos efeitos visuais. Foi também responsável por uma série de piadas relacionadas com carne de porco repetidas ad nauseam, e terão até havido talhos a afixar cartazes do filme com "brevemente". Não nos EUA, onde o consumo de carne porcina terá sofrido uma quebra por altura da exibição do filme. «Babe» era um filme muito agradável de ver; baseado num livro infantil. É imaginativo q.b. e nunca simplista ao ponto de alienar o público adulto.

O que faz «Babe: Pig in the City» um bom filme e uma obra superior à anterior? Por muito "intelectual" que pareça (desculpem), as razões prendem-se sobretudo com o desrespeito pelas normas comerciais das sequelas, que consistem em alterar cenários, acrescentar pormenores e introduzir melhores efeitos especiais, mantendo a mesma história-base. Ou seja, a frequentemente bem sucedida fórmula mais-do-mesmo. A história é perfeitamente isolada da anterior, merecendo de facto a designação de "sequela". Porque, como se disse, é mais frequente que estas sejam remisturas e não genuínas sequências de eventos. Este desejo de criar algo inteiramente novo espelha-se também na opção de utilizar Esme como o "humano principal", tendo em conta que James Cromwell foi nomeado pela Academia Americana pelo seu papel, que aqui é insignificante.

A epopeia do porco Babe desenrola-se num cenário Felinesco, circense, numa cidade que colhe e junta símbolos característicos de diversas metrópoles mundiais (tornando apropriado o nome Metropolis). Há um certo aroma a Tim Burton, mas também a Jeunet e Caro, especialmente em algumas ruelas estreitas, rasgadas por cursos de água, no quarteirão do hotel. Não seria muito rebuscado imaginar um Edward Scissorhands a espreitar por uma janela ou uma Miette (da «Cidade das Crianças Perdidas») a fugir dos Ciclopes. Onde pouco se discordará é que este «Babe» não é propriamente um filme para crianças, apesar de puder ser por elas apreciado (tolerado?) - se estiverem numa idade em que lhes baste ver animaizinhos engraçados a falar. Por outro lado, nem todos os animais são engraçados; alguns são bastante ameaçadores, outros têm deficiências físicas e existem algumas situações de tensão, já pouco frequentes nos filmes que seguem o modelo Disney. Houve algumas vozes que se ergueram "contra" situações como a que apresenta o sofrimento de um animal e também há a questão do nosso heróico porcino começar logo com actos negligentes (e obras daquela natureza, sem respeito pelas condições mínimas de segurança são um… péssimo exemplo).

Este segundo filme de Babe é não só mais negro (era-o o primeiro?), mas não tão definido enquanto comédia. Apesar de ter momentos hilariantes, há agora um peso relevante da componente drama. Estas características tornariam um pouco desnecessária a existência de cópias com as vozes originais substituídas por outras, nacionais, e talvez fosse mais adequado levar os miúdos a ver «Patch Adams», com Robin Williams. Por outro lado, devem-se habituar as criancinhas a apreciar bons filmes.

Obrigado por ler até ao fim. Quiiik quiiik. (Ler com voz de ratinho queriducho, s.f.f.)

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Publicado on-line em 4/4/99.