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Gritos 2/Scream 2
Realizado por Wes Craven
EUA, 1997 Cor - 120 min. Anamórfico
Com: David Arquette, Neve Campbell, Courteney Cox, Sarah Michelle Gellar, Jamie Kennedy, Laurie Metcalf, Elise Neal, Jerry O'Connell, Timothy Olyphant, Jada Pinkett, Liev Schreiber, Lewis Arquette, Duane Martin

Durante uma sessão especial do filme «Stab», baseado nos crimes do «Scream» original, a partir do livro de Gale Weathers (Cox), é dado o sinal para o começo de nova matança. Sidney (Campbell) está agora a estudar teatro na universidade. Por lá anda também outro sobrevivente dos homicídios de Woodsboro, Randy Meeks (Kennedy), mas no curso de cinema. Com o início da nova vaga da crimes, entram em cena Weathers, em busca de mais reportagens sensacionalistas, e Dewey Riley (David Arquette), preocupado com a segurança de Sidney. Os novos personagens incluem o novo namorado desta, Derek (O'Connell), a companheira de quarto, Hallie (Neal), Mickey (Olyphant) e Cici (Gellar), estudantes de cinema na turma de Randy e vários figurantes em fraternidades da universidade, de onde se destaca o par formado pelas "irmãs" Lois e Murphy (Rebbeca Gayheart e Portia de Rossi).

«Scream 2» chega às nossas salas na mesma altura em que é relançado nos EUA. O sucesso do primeiro filme dependia sobretudo do olhar distanciado, mas auto-consciente, que Wes Craven e o guionista Kevin Williamson, deitavam sobre as duas décadas anteriores, no que toca a filmes de terror, vertente "slasher", um género caracterizado por personagens que seguiam cegamente necessidades de argumentos ineptos, descurando qualquer laivo de bom senso. As regras explicou-as Randy (e basta ver dois ou três dos piores exemplos do género para as memorizar), que volta agora à carga com as regras das sequelas, que incluem o derramar de mais sangue e homicídios mais elaborados. É interrompido antes de chegar à regra mais importante: alteração do cenário, mas com o mesmo género de estrutura e menos importância dada aquilo que tornava o filme anterior um objecto eventualmente interessante ou original.

«Scream» não era propriamente original no que toca à premissa, até porque já no seu «New Nightmare» (1994), Craven introduziu um olhar a partir da "realidade" para os filmes de terror, mas foi um filme bem sucedido na concretização dos seus objectivos. Os personagens conhecem os filmes de terror, e sabem o que não fazer quando começam a viver um. Todas as referências e comentários dos personagens são consistentes com essa premissa. Em «Scream 2» seguem-se as regras das sequelas, e como é dito na aula de Teoria do Cinema, estas são normalmente piores que o original. O problema aqui é que se mantém o desfilar de referências (o tradutor precisava definitivamente de um "consultor"), e os comentários dos personagens, mas o que implicava bom senso num filme, não o implica no outro. «Scream» é um olhar exterior ao género, e sai vitorioso da luta "contra" esse género, mas «Scream 2» cedo se torna preguiçoso e se deixa absorver pelas regras e pelos clichés que – julgávamos – tinham merecido uma reacção na forma de «Scream».

«Gritos 2», como os filmes menos interessante do género, pode ser decomposto em cenas, em momentos mais ou menos satisfatórios – alguns muito pouco satisfatórios mesmo – enquanto «Gritos», apesar de possuir segmentos mais marcantes que outros, constituía um todo sequencialmente consistente. Declarações públicas de amor serão mais facilmente seguidas de projecção de vegetais podres e de recomendações como "vão para casa!" do que de aplausos. Só em filmes de Hollywood. Deixar um assassino inconsciente sem fazer algo óbvio e fugir para um edifício vazio, a meio da noite, requer muita estupidez por parte da vítima e muita capacidade de adivinhação das suas reacções por parte do(a)(os)(as) assassino(a)(os)(as). A capacidades divinas deste(a)(os)(as) somem-se assim que a(s) sua(s) faces são revelada(s), ao mesmo tempo que a vítima – a que costuma sobreviver -, que anteriormente gritava, cambaleava e caía, ganha proporcionais capacidades de reacção, auto-controle e destreza física. A generalidade dos clichés, que «Scream» contrariava e que os personagens dominavam, emperra as engrenagens da sequela.

O filme não deixa de ter algum valor, do ponto de vista do mero entretenimento, mas não é honesto consigo próprio. Existem muitos piscares de olho e algumas graças que resultam. Algumas sequências quase ganham vida própria, como a passada no estúdio insonorizado, o jardim e os telefones móveis ou a perseguição à "irmã" da fraternidade, apesar de, infelizmente, culminar de uma forma demasiado vista (para além de que o personagem que tem de ficar sozinho porque [preencher], enquanto toda a gente foi [preencher], já é, de per se, uma instituição que pode levar ao bocejo). Os momentos com os personagens de «Stab» a imitar os trejeitos dos de «Scream» são divertidos. Não só a "in-joke" com Tory Spelling, uma má actriz a fazer de má actriz (ou de ela própria), no papel de Sidney, mas também o actor que imita Billy Loomis em «Scream», onde Skeet Ulrich já imitava Johnny Depp no «Pesadelo em Elm Street» original.

Falta referir que o personagem central, a Sidney de Neve Campbell, não é propriamente alguém que desejemos seguir. Talvez tivesse sido interessante que tivesse sido esfaqueada antes dos créditos iniciais, à boa maneira das más sequelas a «Sexta-feira, 13». Não se pode esperar muito de «Scream 3», mas pode ser que sejamos surpreendidos. O que dizem as regras das terceiras partes? O filme estará repleto de ursinhos de peluche falantes?

Tanto Kevin Williamson como Craven fazem cameos.

***
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