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Mistério na Faculdade/The Faculty
Realizado por Robert Rodriguez
EUA, 1998 Cor - 104 min.

Com: Jordana Brewster, Clea DuVall, Laura Harris, Josh Hartnett, Shawn Hatosy, Salma Hayek, Famke Janssen, Piper Laurie, Christopher McDonald, Bebe Neuwirth, Robert Patrick, Usher Raymond, Jon Stewart, Daniel von Bargen, Elijah Wood

No liceu de Harrington, Ohio, os professores começam a assumir comportamentos estranhos e violentos. Casey (Wood) é o primeiro a apontar a hipótese de que alguma força desconhecida está a tomar conta do corpo docente, procurando estender a sua influência aos alunos, a toda a cidade, e, como não seria infrequente neste género cinematográfico, ao mundo… Resta a um punhado de personagens-tipo tentar combater a ameaça alienígena.

Robert Rodriguez deu que falar com «El Mariachi» (1992), feito no México pela bagatela de 7000 doláres (sem contar com o que foi posteriormente injectado em pós-produção), o qual rendeu consideráveis frutos no box-office americano, tendo em conta tratar-se de um filme Hispânico, e revelou-se um cult movie instantâneo. Reviu-se o tema com o orçamento "certo", e com Antonio Banderas, em «Desperado» (1995). Um e outro bons filmes. Seguiu-se «The Misbehavers» o melhor segmento do decepcionante filme em quatro partes «Four Rooms/Quarto Quartos» (1995) e o moderadamente divertido «From Dusk Till Dawn/Aberto até ao Amanhecer» (1996). Em abstracto, um punhado de filmes com algum interesse. Quanto aos dois primeiros muito mais do que isso.

«The Faculty» é no mínimo decepcionante para quem tenha vindo a seguir o percurso de Rodriguez, desde o início da sua carreira. O argumentista Kevin Williamson mostrou-se um habilidoso manipulador de clichés e convenções do terror com «Scream» (1996), mas posteriormente assinou uma série de textos algo limitados (a sequela daquele) e de qualidade nula («I Know What You Did Last Summer/Sei o que Fizeste no Verão Passado» (1997)). Esta união não resultou certamente no melhor produto que seria possível gerar a partir das qualidades de ambos; «The Faculty» está repleto de referências cinéfilas, mas não se distingue dos piores dos inúmeros filmes citados, senão pelas notas de rodapé que poderiam ter sido polvilhadas a posteriori. O valor acrescentado é a mera auto-consciência, ou o atirar à cara do espectador dessa auto-consciência.

Um personagem identifica uma das principais fontes - «Invasion of the Body Snatchers» (1956, com remakes de 78 e 94, com um título nacional particularmente idiota) - para ilustrar o que se pode estar a passar no liceu: os professores terão sido substituídos por extraterrestres. É justo, já que podemos conceber facilmente que um adolescente dos dias de hoje possa recorrer, por exemplo, a algo que viu nos "X-Files", para falar de determinado fenómeno inexplicável. O que já não é tão aceitável, do ponto de vista da suspensão da incredulidade necessária à apreciação da ficção científica, é que determinados palpites, "aprendidos" em outros filmes, se venham a confirmar reais sem que tal seja natural e sem que exista algo que possa indicar essa solução, para além da existência dessas fontes. (Nota: quem ainda não viu o filme preferirá saltar o resto deste parágrafo, bem como o seguinte.) Não há nada que sugira a existência de um "chefe" ou "raínha", e muito menos enquanto criatura com uma espécie de interruptor ou controlo mental sobre os seus subalternos. Que estranha civilização extraterrestre nos é apresentada, num filme com pretensões de verosimilhança (como todos os que comparam a ficção dos "filmes" e a realidade da própria narrativa). É como se de uma qualquer criatura demoníaca se tratasse, com capacidade para possuir e controlar dezenas, centenas…. Toda a população mundial? Talvez tenha existido uma confusão de géneros ou uma troca de referências na elaboração do guião.

Muito ao de leve, existem semelhanças com «The Man Who Fell to Earth/O Homem que Veio do Espaço» (1976), nomeadamente no que diz respeito à motivação dos invasores. Estes, ao contrário do calmo personagem de David Bowie, portam-se como quaisquer psicopatas saídos de um slasher menor. Veja-se a sequência inicial: tão incoerente. Não há ali nada que faça sentido, porque, como mais tarde veremos, os invasores querem ocupar os corpos, para - supõe-se - poderem inicialmente aceder aos recursos hídricos do planeta sem darem muito nas vistas. O domínio da Terra parece ser um mero efeito secundário. A abertura parece saída de um filme de "psicopatas assassinos". Outro pormenor demasiado inverosímil é a forma como um dos aliens escapa ao "teste". Se a palavra a aplicar não é "ridículo" terá de se encontrar outra com um sentido próximo.

Rodriguez realizou alguns filmes de acção muito "straightforward", revelando genuíno prazer pelo ofício, que facilmente era transmitido ao espectador. De futuro, deseja-se que o realizador enverede por projectos mais pessoais e mais em conformidade com a sua habilidade, apesar de «The Faculty» ter um conjunto de momentos que nos captam a atenção.

**
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Publicado on-line em 26/7/99.