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Gritos/Scream
Realizado por Wes Craven
EUA, 1996 Cor - 111 min. Anamórfico
Com: David Arquette, Neve Campbell, Courteney Cox, Matthew Lillard, Rose McGowan, Skeet Ulrich, Drew Barrymore, Roger Jackson, Kevin Patrick Walls, Carla Hatley, Lawrence Hecht, W. Earl Brown

Enquanto se prepara para ver um filme de terror, e deixa as pipocas a preparar, uma jovem (Barrymore) recebe uma chamada telefónica de alguém que a força a participar num jogo de trivialidades desse género cinematográfico. Em risco está a vida do namorado, e o excesso de confiança injectado com uma pergunta fácil para aquecer («Halloween»), revela-se fatal perante uma rasteira na pergunta seguinte («Sexta-Feira 13»). As pipocas esturram.

A notícia espalha-se pelo liceu e não é propriamente pânico que se gera. Os estudantes parecem achar tudo muito divertido, como qualquer adolescente num filme de terror. Sidney (Campbell), cuja mãe foi assassinada há quase um ano atrás, começa também a receber telefonemas e a ser perseguida. Entretanto, uma repórter de escândalos, Gale Weathers (Cox), confronta-a novamente com o facto de que ela pode ter acusado, e levado ao corredor da morte, um inocente - o amante da mãe - e que o verdadeiro assassino está agora de volta.

Alguns jovens juntam-se na casa da melhor amiga de Sidney, Tatum (McGowan), sob a vigilância do irmão desta, do delegado Dewey (Arquette), e da repórter Weathers, cujo objectivo não é, evidentemente, zelar pela saúde dos convivas. Entre os estudantes estão, para além de Sidney e Tatum, os namorados Billy (Ulrich) e Stuart (Lillard), um empregado de vídeo clube, fanático por filmes de terror (Kennedy), e muitos secundários, cuja maioria sai para ver os interiores de uma nova vítima no liceu.

«Scream» é um filme de terror auto-fágico, na medida em que se alimenta - mastiga e cospe fora - de referências que são debitadas a uma velocidade impressionante, condimentadas por uma lista interminável de in-jokes e clichés (alguns vencidos outros mantidos propositadamente). Wes Craven dirige um filme que tem o difícil intuito de viver dos clichés dos slasher movies - em que os personagens agem muito inconscientemente, praticamente saltando contra as lâminas dos assassinos -, e contorná-los, decompondo-os, porque estes são personagens que viram muitos destes filmes e sabem o que não devem fazer.

Entre as referências cruzadas contam-se a afirmação de «Halloween» como o filme preferido de Barrymore, seguindo-se uma frase - "Go down the street to the Mackenzie's house...'' - que é retirada desse filme. Pouco depois fala-se de «ET», protagonizado por Barrymore, e o namorado de Sidney afirma ter estado a ver «O Exorcista» (editado para televisão, sem as partes boas, como a relação do casal que se ficou no 'NC-17' - diz Billy). Pouco depois vemos Linda Blair - a miúda possuída no filme -, num cameo como a primeira repórter que surge junto ao liceu (aparece novamente mais à frente). Billy, parecido (e maquilhado para se parecer) com Johny Depp em «Pesadelo em Elm Street», entra pela janela da mesma forma que este naquele filme de Craven de 1984, e de que se diz que «todas as sequelas eram uma porcaria.» Uma das referências mais divertidas é o próprio Wes Craven surgir na pele de um personagem chamado Fred, com a característica camisola do seu Freddy Krueger. Todo o filme segue em contínuos piscares de olho.

E claro, as máximas a respeitar se se quer sobreviver:

- Permanecer virgem;

- Não consumir álcool nem drogas;

- Nunca, mas nunca, dizer "já volto".

Assim, se por um lado este exercício auto-consciente requer que o argumento seja bem mais inteligente do que o médio filme de terror para adolescentes (como Sidney diz, "são todos iguais, com uma rapariga de grandes seios a correr para o andar de cima em vez de sair porta fora"), pode, por outro lado, permitir-se derrapagens, decalcando os clichés do costume. Talvez sirva para desculpar mecanismos empregues, destinados a facilitar o trabalho do assassino. Como numa residência grande e faustosa o frigorífico mais próximo estar longe, numa escura garagem... Chegando à sequência final, começa a sentir-se que está demasiado estereotipado. Mas é tudo uma grande piada.

Craven, realizador de alguns filmes perfeitamente intragáveis como «Shocker» (100 Mil Volts de Terror) e de outros sugestivos como «The Serpent and the Rainbow», para além do clássico «A Nightmare on Elm Street», já tinha conseguido outro interessante filme auto-consciente - «Wes Craven's New Nightmare» -, mas num registo bem mais sério (Directo Para Vídeo cá, ao contrário do menor «Freddy's Dead» - e sim, todas as sequelas são uma porcaria).

Argumento de Kevin Williamson. Título original, posteriormente abandonado: «Scary Movie». Continua (?) em «Scream Again» para o ano.

P.S: Obviamente, a sequela veio a chamar-se «Scream 2».

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