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Quarto Quartos/Four Rooms Realizado por Allison Anders (The Missing Ingredient), Alexandre Rockwell (The Wrong Man), Robert Rodriguez (The Misbehavers)", e Quentin Tarantino: "The Man from Hollywood". EUA, 1995 Cor - 98 min. Com: Sammi Davis, Amanda De Cadenet, Valeria Golino, Madonna, Ione Skye, Lili Taylor, Alicia Witt (The Missing Ingredient), Jennifer Beals, David Proval (The Wrong Man), Antonio Banderas, Lana McKissack, Patricia Vonne Rodriguez, Tamlyn Tomita, Danny Verduzco, Salma Hayek (The Misbehavers), Paul Calderon, Quentin Tarantino, Jennifer Beals (The Man From Hollywood), Tim Roth
Filmes por segmentos não estão muito em voga, e trazem sempre a desvantagem de podermos assistir a um obra desequilibrada, com histórias interessantes no meio de outras fracas. «Four Rooms» tem em comum ser dirigido por quatro jovens cineastas, amigos, e é unânime que existem diferenças enormes na qualidade das quatro histórias.
Ted (Roth), o "bellhop", começa o seu primeiro dia de trabalho, na noite de ano novo, num hotel que foi outrora o preferido das estrelas de Hollywood .
«O Ingrediente que Faltava/The Missing Ingredient»
«O Ingrediente...» de Alison Anders abre da pior maneira o filme. A história é perfeitamente desinteressante, os diálogos sem graça, a conclusão indiferente. A premissa poderia ter alguma graça, se desenvolvida de outra maneira (e já toda a gente que tenha lido duas linhas sobre o filme sabe o que as senhoras desejam do "bellhop"), mas o resultado final é terrível, uma pura perda de tempo. Um grupo de mulheres a fazer patetices durante vinte minutos. Sem graça e sem interesse. Isoladamente parece uma curta-metragem que alguém decidiu fazer à pressa porque existia um concurso para atribuição de subsídios.
«O Homem Errado/The Wrong Man»
A sequência de Alexandre Rockwell não melhora significativamente «Four Rooms», e o comportamento de Ted - que a certa altura se enfia por uma janela, talvez com o mero intuito de chegar a um gag, que não consegue senão alguns esgares no espectador - é totalmente despropositado. O casal psicótico, o bondage, a arma apontada, podiam dar frutos interessantes, mas, chegados ao fim, não se percebe a piada ou onde se queria chegar.
«Os Meninos Malcomportados/The Misbehavers»
É «The Misbehavers» de Robert Rodriguez que ergue os «Quarto Quartos» acima do bocejo. Rodriguez consegue utilizar na perfeição a duração disponível e vence os condicionamentos fixados pelos cenário. Aqueles que odeiam o estilo visual do realizador - nomeadamente tiroteios, violência gratuita e movimentos de câmara estilizados - também são candidatos a espectadores satisfeitos, porque o timing é perfeito e a montagem e trabalho de câmara são contidos... até chegar ao climax da história contada. (Acrescente-se que Rodriguez monta o seu segmento, e normalmente é também operador de câmara)
A história está interessante e é servida por diálogos eficazes. Os dois miúdos travessos estão quase a destruir o apartamento, a punchline serve-se com a resposta à pergunta que importunava toda a gente - "quem é que cheira mal dos pés?" -, e o final é hilariante.
Salma Hayek é a dançarina no "canal adulto" da TV.
«O Homem de Hollywood/The Man from Hollywood»
«O Homem de Hollywood» é servido por Tarantino a fazer de Tarantino. Infelizmente, os diálogos cruzados e sobrepostos, condimentados por toda a espécie de calão possível (ficar-se pela ridícula e censora tradução quebra incrivelmente o espírito do diálogo em todos os segmentos), não chegam para erguer o episódio acima da mediania. Ergue-se acima dos dois primeiros quartos, mas fá-lo principalmente porque estes são maus demais. Tarantino perde demasiado tempo a preparar o momento da aposta, de forma que, quando a conclusão desagrada - é inesperada? Talvez, mas não é despropositada? - tudo sabe a tempo perdido. O que parece é que, chegado ao fim da história, se pôs de parte qualquer sensatez para tentar ser engraçado à força.
Bruce Willis surge não creditado.
Tim Roth está francamente mal, com todos os seus tiques, andares agitados e caretas. O problema não é o actor, mas o personagem. A ideia pode ser fazer dele uma espécie de cartoon (como no genérico inicial), mas o resultado não é nada sugestivo. Rodriguez, no entanto, conseguiu tirar-lhe uma prestação aceitável, que é excepção em relação ao restante registo.
A apreciação geral não pode deixar de reflectir que metade do filme não interessa, e que da outra metade apenas um segmento vale verdadeiramente a pena.
Falta acrescentar que, ao jeito de verdadeiros "auteurs", cada realizador assina a história que dirige.
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