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Tempestade/The Perfect Storm
Realizado por Wolfgang Petersen
EUA, 2000 Cor – 129 min. Anamórfico.

Com: George Clooney, Mark Wahlberg, Diane Lane, Karen Allen, William Fichtner, Bob Gunton, Mary Elizabeth Mastrantonio, John C. Reilly, Michael Ironside, Allen Payne

O comandante Billy Tyne (Clooney) atravessa um período de azar, não conseguindo pescar as quantidades mínimas requeridas pelo proprietário do Andrea Gail, Brown (Ironside). Pressionado por este e sentindo-se ofuscado pela melhor prestação da colega Linda (Mastrantonio), decide partir e tentar a sua sorte numa zona mais afastada da costa. Com ele vão o novato Bobby Shatford (Wahlberg), Dale Murphy (Reilly) e três outros homens.

Baseado em factos reais, ocorridos em Outubro de 1991, quando o navio pesqueiro Andrea Gail, registado em Gloucester, Massachussets, se vê preso em condições meteorológicas tão raras quanto devastadoras, no que se chamou de “tempestade perfeita”.

«Perfect Storm» é um filme-catástrofe à antiga, com uma grande variedade de personagens, um par de situações secundárias e subtítulos a informar-nos localizações e nomes de navios. As convenções do género são seguidas quase milimetricamente, com a apresentação dos marinheiros, seus amigos e familiares, dramas e expectativas de vida. A viagem prepara-se e começam a apresentar-se sinais de que algo irá correr mal.

A variedade de personagens poderá ser o primeiro defeito do filme de Wolfgang Peterson. Ao querer desenvolver tantas, e apesar do tempo dispendido em terra, torna-se impossível atribuir dimensão humana credível a todas. A caracterização é deficiente e quase podemos visualizar alguém a rever o guião, pondo um visto à medida que se despacham os marinheiros, através de qualquer coisa de que se vão lembrando. Um tem um filho, é divorciado, quer começar uma vida nova; dois deles parecem ser inimigos mortais; arranja-se rapidamente um interesse romântico para outro. Por outro lado, algumas situações parecem querer reforçar o melodrama, sabendo a audiência que o desfecho não será propriamente cor de rosa. É assim quando mostram Christina (Lane) a preparar a nova casa e a dizer que vai fazer uma surpresa a Bobby, ou quando se cria a expectativa de uma relação entre Tyne e Linda. O que a primeira parte do filme nos parece querer dizer é “vejam como estas pessoas todas tinham tudo para uma vida feliz”. Pois, pois.

Vamos cortar para a perseguição, como alguém diria depois de 20 minutos. «Perfect Storm» é referido como apresentando os primeiros efeitos digitais credíveis de água — parada, em movimento, salpicante, etc. É verdade que a água digital é realista, mas não é verdade que não se distinga da água real. Também se pode dizer que está bem integrada, mas isso acontece nos muitos planos completamente digitais, i.e., onde tudo o que está no enquadramento é feito pelo computador; o barco, o temporal, os marinheiros e o fundo. Quando se muda de cena, para um barco verdadeiro dentro de um tanque (com água verdadeira), nota-se a diferença. Isto não quer dizer que os efeitos não funcionem; simplesmente ainda não chegamos ao ponto em que os efeitos digitais conseguem reproduzir fielmente a realidade.

O filme torna-se ainda mais pesado quando chegamos aos momentos finais. Querendo dar algo à audiência para compensar o final inevitável, os cineastas não se coibiram de querer puxar a lágrima e de criar uma atmosfera grandiosa, épica, de que a vida continua e de que temos de suportar as pragas de Deus, etc. e tal.

O positivo: as caracterizações físicas das personagens, que parecem verdadeiros pescadores, fortes, rudes, de barbas fartas, sujos de sal, peles negras, queimadas pelo sol. Não apenas os homens, pois também Mastrantonio se apresenta credível, no papel de comandante de um navio de pesca. Há um naipe de bons actores, isso é inegável, mas este não é o veículo “perfeito” para mostrarem o que valem. Wahlberg («Boogie Nights/Jogos de Prazer», «Corruptor») volta a trabalhar com Clooney, depois de «Three Kings» e com Reilly (que pudemos ver recentemente na obra prima de PT Anderson, «Magnolia») depois de «Boogie Nights». Mas se os dois actores principais têm papéis semi-desenvolvidos, os restantes são demasiado bidimensionais.

**1/2
classificações

Publicado on-line em 14/8/00.