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A Idade do Gelo/Ice Age
Realizado por Chris Wedge
EUA, 2002 Cor – 81 min.

Com as vozes de: Ray Romano, John Leguizamo, Denis Leary, Goran Visnjk, Jack Black, Tara Strong, Cedric “The Entertainer”, Stephen Root

Com o início da Idade do Gelo, os mamíferos deslocam-se para paragens mais amenas. Sid (Leguizamo), uma preguiça, é deixado para trás, por ser considerado algo chato pelos outros indivíduos da sua espécie. Cedo encontra um companheiro de viagem, com ar de poucos amigos, o mamute Manfred (Romano). Entretanto, um grupo de tigres dentes de sabre, procurando a vingança contra os humanos que os caçam, decide raptar o bebé do líder de uma tribo, para o torturar lentamente antes de o matar. A preguiça e o mamute vêm-se na posição de baby-sitters, enquanto procuram devolver a criança aos seus, ajudados – ou talvez não – pelo tigre dentes-de-sabre, Diego (Leary).

«Ice Age» assinala o regresso da 20th Century Fox às grandes produções de animação, depois do grandioso fiasco comercial de «Titan A.E.» (2000), que decretaria o encerramento dessa vertente da produção do estúdio norte-americano. Por uma questão de segurança, a Fox terá preferido mudar o conceito original do filme, inicialmente pensado como um drama: para sobreviver neste mercado, com filmes de grande orçamento, é necessário apontar para o público mais novo, tentando manter algum humor que não aborreça os pais, dentro de certos limites, que terão também levado à alteração de algumas referências mais "adultas" no texto original, ou seja, procurou-se fundamentalmente seguir a fórmula das produções da Pixar/Disney. O resultado desta filosofia, e de toda a ponderação com o resultado final, no que toca à aceitação pelo público familiar, desemboca num produto similar ao que nos chega com um rótulo Disney, originado ou não nos estúdios da Pixar: existe algum humor que funciona com os graúdos e o entretenimento está sempre assegurado, do início ao fim, para os miúdos. Temos também uma história com altos e baixos e um final que, inevitavelmente, se dirige para o sentimentalismo banal.

«A Idade do Gelo» é mais uma obra inteiramente criada através da tecnologia digital (CGI), sendo algo incontornável compará-lo com outros títulos recentes, criados pelo mesmo método, como «Shrek» ou «Monsters, Inc.» (2001, ambos). No entanto, nos dias que correm, já não sobra muita coisa para nos surpreender, no plano da criação de ambiências surpreendentes, com recurso à tecnologia digital. As CGI continuam a funcionar muito bem em cenários que não requeiram grande realismo, pois ainda não chegamos a um ponto em que o cinema consegue reproduzir a realidade de forma inteiramente convincente (veja-se o grandioso esforço de «Final Fantasy: The Spirits Within», de 2001, ou certas sequências de «Spider-Man» ou «Blade II», ambos deste ano). Os cineastas têm tido o bom senso de não avançar para projectos que se limitem a um show-off técnico, procurando sempre alicerçar-se num argumento minimamente sólido ou, pelo menos, não fazendo um esforço inferior aquele que seria empreendido para uma produção em animação tradicional. Sem prejuízo, claro, de uma outra cena que possa vir a ser inserida, ou mais desenvolvida, para mostrar qualquer capacidade técnica do que para ilustrar necessidades do guião.

Não deixa de ser curioso que a Disney tente caminhar por outras vias, através de um humor mais desbragado, a um ritmo dos cartoons de outrora (como em «Emperor's New Grove», 2000) ou simplesmente fugindo aos clichés das comédias leves com momentos de "bonito" melodrama, polvilhadas por canções pop, mais ou menos revoltantes (como «Atlantis», 2000), enquanto a Fox vem agora querer fazer algo mais "Disney" (com a exclusão, feliz, das cantorias).

Actualmente, temos em exibição «Lilo & Stitch», esta «Idade do Gelo» e «Spirit, Stalion of the Cimarron» está a horas de estrear nas nossas salas, no momento em que escrevo este texto, o que constitui um momento mais ou menos apetecível para os apreciadores de cinema de animação. Mas, do ponto de vista de qualquer cinéfilo, mesmo dos menos exigentes, seria mais interessante termos uma real variedade de oferta, do que uma variedade de produtos mais ou menos "disneyficados", mesmo tendo em conta que a DreamWorks tende a contornar alguns dos clichés pré-estabelecidos pela companhia do Rato Mickey. Seria certamente interessante que um distribuidor que não estivesse amarrado à quase exclusividade de exibição de cinema americano, nos presenteasse agora (ou em qualquer altura; não somos esquisitos...), com alguns títulos de produção europeia ou asiática, como, digamos, os populares (em outras paragens) «Metropolis» (Japão, 2001) ou «Mari Iyagi/My Beautiful Girl, Mari» (Coreia do Sul, 2002, galardoado recentemente com o prémio principal do Festival de Annecy).

Entretanto, «Ice Age» cumpre razoavelmente a sua função de entretenimento das massas familiares e tem um esquilo muito simpático, com umas grandes dentuças. Ninguém esperava uma obra-prima, pelo que não haverão grandes desilusões. Só estou por entender porque é que as mesmas senhoras, acompanhadas por criancinhas muito pequeninas, se continuam sempre a surpreender quando o filme não é "traduzido", sendo "obrigadas" a explicar o que está a acontecer no ecrã aos petizes, coitados, e quem é o bom ou o mau ou quem é que morreu ou não morreu. Não saberão ler a informação afixada nas bilheteiras? Não é mais fácil ir ao clube de vídeo ou serão mesmo fãs de comentários áudio?

Monumental 4, imagem quase focada. Som claro e activo.

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Publicado on-line em 18/7/02.