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O Caçador de Sonhos/Photographing Fairies
Realizado por Nick Willing
Reino Unido, 1997 Cor - 106 min.

Com: Toby Stephens, Emily Woof, Frances Barber, Phil Davis, Ben Kingsley, Rachel Shelley, Edward Hardwicke, Hanna Bould, Miriam Grant, Clive Morrison

Afectado por uma profunda tragédia, Charles Castle (Stephens), um jovem fotógrafo, torna-se insensível e apático face às questões da vida e da morte. Depois de finda a Primeira Guerra Mundial abre um estúdio em Londres com o amigo Roy (Davis), dedicando-se, entre outras coisas, a executar montagens fotográficas que reúnem os clientes com entes queridos falecidos. Charles assiste a uma palestra, patrocinada por Sir Arthur Conan Doyle (Hardwicke), onde se apresentam fotografias que procuram demonstrar a existência de fadas. Ele interrompe, demonstrando os defeitos do serviço. Beatrice Templeton (Barber), uma mulher presente na assistência, contacta-o e mostra-lhe imagens do que ela afirma serem verdadeiras fadas. Uma análise pormenorizada vai convencer Charles a deslocar-se ao campo para tentar obter fotos mais conclusivas.

«Photographing Fairies» de Nick Willing, de ascendência Portuguesa (é filho da pintora Paula Rego), passou pelo Fantasporto 98, onde foi seleccionado para o Mèlies de Ouro, o qual viria a ganhar no final do ano em Roma. Este prémio é atribuído pela Federação Europeia de Festivais de Cinema Fantástico, englobando Porto, Sitges, Roma e Bruxelas, e foi entregue pela primeira vez em 1996 a «O Dia da Besta», de Alex de la Iglesia. No ano seguinte, seria «Tren de Sombras», de Jose Luis Guérin, o escolhido. Esta iniciativa visa estimular e divulgar o cinema Fantástico Europeu, chamando a atenção dos distribuidores e estimulando o interesse do público. Tanto o filme de Alex de la Iglesia, como este «Photographing Fairies» tiveram direito a curtas exibições numa sala de Lisboa, e não podemos deixar de considerar que, apesar do "low profile" das respectivas estreias, iniciativas como esta poderão estar a contribuir efectivamente para arranjar espaços de exibição para filmes que à partida não apelam ao grande público (não são Americanos, nem têm grandes estrelas no elenco), mesmo tratando-se de uma cópia que já demonstra sinais de muito uso, como a que passou pelo Nimas.

O filme de Willing apresenta-nos um homem marcado por uma morte que se recusa a aceitar, que o levará a admitir a existência de criaturas mágicas que poderão, como dizem as lendas, estabelecer a ligação entre um mundo e o outro. O cineasta tenta equilibrar o místico do tema com o real e o científico (a técnica e a teoria fotográfica parecem estar de acordo com os "manuais"), bem como o potencial romance entre Charles e Linda (Woof), no plano físico, em contraste e confronto com o "romance" entre Charles e Anne-Marie (Shelley), o qual poderá eventualmente "reiniciar-se" com a ajuda das fadas, isto é, se o Outro Mundo existir e se a ligação puder ser estabelecida. Por este prisma, «Photographing Fairies» pode ser (mais um) filme ilustrando um conflito entre a Vida e a Morte, com a particular curiosidade do Amor estar sempre em qualquer um dos lados (por favor guardem os lenços).

Outro nível de leitura pode-nos levar a um enaltecer dos efeitos das drogas. A sério. Ainda dizem que os censores Ingleses são muito perspicazes e inteligentes, mas irritam-se (e censuram) filmes "óbvios" como «Trainspotting» (1996), por glamourizarem a utilização de estupefacientes. O filme de Nick Willing, por outro lado, parece apresentar uma realidade paralela melhor do que esta e o acesso obtém-se através da ingestão de determinado elemento raro. Porque, resumidamente, temos pessoas que consomem algo que lhes permite ver e sentir coisas que os outros não vêm nem sentem. Depois termina e quer-se mais… Esta obra distingue-se de outras fantasias escapistas - como «Brazil» ou «Dark City» - mantendo sempre uma certa aura de "autenticidade" científica. Afinal, o que a referida substância potencia, é regular o cérebro humano para outra "velocidade de obturação", e daí o possível e subtil segundo sentido do seu título original.

Ao nível das relações humanas, «Photographing Fairies» funciona melhor do que ao nível metafísico, pelo que não deixa de ser irónico que tenha sido distinguido com um prémio de cinema fantástico e que assim seja divulgado (ou, diríamos, estigmatizado, porque neste cantinho da Europa não há mercado para "subgéneros"). As fadas não estão propriamente deslumbrantes - o orçamento não é o de um filme de Hollywood -, mas o mais decepcionante é o seu papel demasiado estático. Elas (e eles) acabam por não "fazer" muito mais para além de esvoaçar em redor de uma árvore. Sente-se que o reverendo Templeton de Ben Kingsley, é um personagem que não está completamente definido, com mudanças de temperamento - essenciais para o culminar da história - que não serão as mais naturais. Mas ele é um fanático religioso, concede-se. O seu comportamento, no entanto, é central para a escolha de Charles (uma eventual solução terrestre em alternativa a uma solução mística), onde não há grandes preocupações em apresentar a "saída correcta".

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Publicado on-line em 4/4/99.