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"Oh amor, não deixes que me pan&scanem!"
"Desculpa querida, mas eu sou o actor que recebe 20 milhões/filme e tu não passas do interesse romântico..."

Formatos de cinema na TV
Introdução
Formatos de cinema
Formatos na TV
O Panorama nacional
As novas TVs Wide e o formato 16:9
O que concluir?


Introdução

Se vir filmes numa sala de cinema – o local para onde foram concebidos inicialmente – não deixará de notar que a forma do écran não é a mesma do écran do seu televisor. Quando um filme é transferido para vídeo/TV existem duas opções. Ou se formata a imagem, normalmente cortando-a lateralmente, ou se preserva o formato, o que resulta no surgimento de "barras pretas" no écran.

Matematicamente não é possível utilizar um rectângulo para encher outro menos largo, sem cortar o primeiro. É por isso que as "barras pretas" são naturais quando se transfere um filme no formato original. As TVs no formato 16:9 permitem que a área não utilizada seja menor, mas não possuem o "formato do cinema", apesar dos fabricantes normalmente o alegarem na sua propaganda, já que existem vários formatos de projecção.

Formatos de cinema

O formato que hoje as TVs convencionais possuem (4:3 ou 1.33:1) foi concebido por Thomas Edison, na altura do cinema mudo, encolhendo ligeiramente depois para ceder espaço às pistas sonoras. Essa primeira relação horizontal:vertical viria a ser adoptada como standard pela Academy of Motion Pictures Arts and Sciences americana, em 1932.

Em 1953 surgiu o CinemaScope, com o filme bíblico «The Robe». O sistema utilizou lentes anamórficas, criadas por Henry Chrétien, cuja patente foi adquirida pela 20th Century Fox e registada. Uma lente comprimia a imagem no negativo de 35mm, e outra lente na projecção descomprimia o filme num rectângulo de aproximadamente 2.55:1.

Existem diversos processos, na generalidade versões melhoradas do CinemaScope, sendo o mais utilizado hoje em dia o Panavision. Em filmes não-anamórficos utiliza-se com mais frequência o formato 1.85:1. Com menos frequência se utiliza um formato de aproximadamente 1.66:1. Tal sucede principalmente na Europa. Este enquadramento foi mais vulgar algumas décadas atrás, mas hoje em dia, infelizmente, a maioria dos projeccionistas não coloca a moldura correcta para a generalidade dos filmes não-europeus (1.85:1) com consequências nocivas, nomeadamente de permitir que se vejam microfones.

Há que ter em conta que a esmagadora maioria dos filmes continua a utilizar filme de 35mm que mantém a proporção 1.33:1. Os formatos não-anamórficos obtém-se tapando o filme na projecção ou logo quando se filma. É no primeiro caso que uma má-projecção pode levar a que se mostre imagem que os cineastas não planearam que fosse vista. (vd. soft-matte, hard-matte, anamórfico)

Formatos na TV

Vamos agora ilustrar os formatos mais frequentes e os dois modos de transferência para vídeo.

images/tv.jpg Comparação entre as áreas dos diversos formatos, assinalando-se o espaço cortado quando se opta por encher o écran da TV (coluna da esquerda). Aspecto do écran televisivo com os formatos respeitados (coluna da direita)
images/europeu.jpg images/widescreen166.jpg
Aimages/mericano.jpg Widescreen185
Simages/cope.jpg Widescreen235

Em filmes em scope, principalmente, pode-se notar que "a imagem" é mais pequena, numa cópia em letterbox, mas há que ter em conta que não se pode tornar o filme maior senão comprando outra televisão, já que o processo pan and scan apenas torna maior parte do filme. No caso dos formatos alargados, pouco mais de metade da imagem. Uma boa cópia em widescreen é bem visionável numa TV de 55 cm.

Um exemplo do filme «Blazing Saddles/Balbúrdia no Oeste»:

Imagem integral Amostra para TV
Enquadramento cinematográfico integral aproximado (em cima), enquadramento cortado para encher o écran da TV (à direita, em cima), enquadramento integral transferido sem ampliação (à direita, em baixo). .

As imagens são retiradas do DVD. Tenha em atenção que uma TV de 55 cm proporciona uma visibilidade 5 ou 6 vezes superior à aqui ilustrada. Estas imagens são uma mera referência, na impossibilidade de lhe mostrar as duas versões, lado a lado, em dois écrans de TV médios.

Imagem integral na TV

Perto de metade da imagem é cortada na cópia pan and scan. (à direita). Compare as duas imagens da direita. A cópia widescreen (abaixo) permite ver todo o filme, como foi concebido pelos cineastas. A cópia formatada para TV é uma mera selecção de pouco mais de metade do enquadramento (56.6%).

Estas imagens estão disponíveis na Letterbox and Widescreen Advocacy Page, que inclui mais exemplos comparativos.

O Panorama nacional

Em Portugal o critério é a ausência de critérios, i.e., não existe nenhum canal ou editora que demonstre ter qualquer preocupação para com a exibição de cinema no écran de TV. Em termos de vídeo, aparentemente apenas a Lusomundo rotula os filmes que edita em formato original. A situação mais normal é que um filme não proveniente dos EUA surja em letterbox, excepto se o filme for muito popular. Neste caso já teve cópia vídeo no mercado americano que não deixa passar uma, e é muito possível que seja essa a cópia a ser adquirida. (Por algum motivo tantos filmes italianos e orientais existem dobrados em inglês no nosso mercado).

A informação ao cinéfilo ou consumidor é nula. Apesar de tudo, o país que mais "formata", rotula todas as apresentações de filmes, e é frequente o aviso "este filme foi formatado para encher o écran de TV", indicando que se trata de uma cópia alterada.

A falta de interesse pela apresentação do filme é notória quando se apresentam trailers, em cassete ou na TV, que não correspondem ao estado em que o filme é apresentado ou editado. Também é frequente que se emitam séries (Indiana Jones, Alien, etc.) em que alguns filmes estão grosseiramente formatados e outros estão no formato original. E isto vale para qualquer canal nacional.

O mínimo que devemos exigir é essa consciencialização no canal cultural suportado pelo Estado. A TV2 tem obrigação de ter critérios. Também é de lamentar que uma editora pretensamente privilegiadora do cinema de autor – a Atalanta Filmes – se esteja nas tintas para esta questão, para além de costumar vender cópias em muito más condições (má imagem e som mono de baixa fidelidade).

Em relação à TV, recomenda-se sempre que se expresse a opinião perante os canais (vd. Secção Lobby). Quanto a cassetes vídeo recomenda-se que se importem do Reino Unido. Têm melhor qualidade em termos gerais e pode-se escolher cópias em widescreeen, se se quiser. (Consulte os links para lojas video on-line.) Recomenda-se atenção ao facto de que algumas cópias são censuradas por lá.

As TVs "Wide" e o formato 16:9

O formato 16:9 não irá alterar a situação no que diz respeito à emissão de cinema na TV. Os novos suportes digitais (DVD) possibilitam diversos formatos num mesmo disco, mas deverá demorar até que entrem em fase de consumo de massas.

O problema vai permanecer o mesmo, porque a TV continua com o formato fixo e o cinema continua a existir em diversos formatos, como se ilustra acima. Os filmes em scope serão menos cortados, mas filmes menos largos, nomeadamente europeus (1.66:1) ou no "formato da Academia" (1.33:1) poderão ser cortados acima e abaixo.

Pense duas vezes antes de adquirir um aparelho de um fabricante que mente, dizendo que o 16:9 permite ver o filme "como o realizador o concebeu". Tenha em conta que por vezes pertencem a corporações que, elas próprias, editam filmes cortados para a TV, contra a vontade da generalidade dos cineastas. Estas afirmações também procuram ignorar que a TV não altera a cópia cortada que o consumidor pode já ter em casa. Se essa cópia tivesse sido editada sem adulterações desde o início pareceria que estas TVs já não seriam necessárias?

As TVs wide também não dão "outra dimensão ao desporto", por si só. É preciso que a emissão seja em 16:9, porque, de contrário, a "dimensão" é conseguida distorcendo a mesma imagem 4:3!

Quem venda o formato com a questão de ter mais imagem não sabe o que está a dizer, ou aproveita-se da falta de informação do consumidor médio. Não esqueça que uma imagem 4:3 pode ter mais imagem acima e abaixo do que uma 16:9, da mesma forma que uma imagem 16:9 pode ter mais imagem lateral, i.e., de um formato para o outro pode sempre usar-se a mesma fonte e cortar-se informação em qualquer deles. A vantagem prende-se sobretudo como o modo como é distribuída essa informação.

O formato 16:9 (1.78:1) aproxima-se do formato "americano" (1.85:1).

Podemos ainda ir mais longe para desmistificar que o 16:9 é "o formato do cinema", pegando nos filmes estreados no Reino Unido (já que não é possível obter os mesmos dados para Portugal) em Junho de 1997, de acordo com a revista Sight and Sound.

Temos 25 filmes, dos quais:

8 são em formato alargado (2.35:1);

12 são americanos sem referência a formato alargado (1.85:1);

5 são não-americanos sem referência a formato alargado (em princípio 1.66:1).

Ou seja, apenas 48% (12) destes filmes estarão no formato americano, próximo do formato 16:9. Menos de metade destes filmes sofria um corte mínimo na adaptação (9.4%; menos 4.7% em cada lado não será visível a olho nu); 32% (8) teriam de ser cortados horizontalmente em mais de 25%, para serem adaptados ao "formato do cinema"... na TV. Os 20% (5) restantes seriam, provavelmente cortados verticalmente em 6.2%. filmes ou programas de TV antigos em 4:3/1.33:1 seria cortados em 25%.

Leia também o artigo referente às emissões 16:9 da RTP (Porquê 16:9?)

O que concluir?

1. Ninguém gosta de "barras pretas", mas estas são um efeito secundário necessário à preservação da integralidade do filme. Ninguém de bom senso deve preferir um formato para ver um filme; posso gostar do scope, mas não quero ver «Casablanca» em scope, porque não foi assim rodado. O formato relevante é o formato que os cineastas escolheram para rodar o filme, não o formato da TV do espectador ou o que o distribuidor ou emissora de TV escolher a seu bel-prazer. O espectador tem tanto direito a escolher o formato da mesma forma que pode exigir alterações no argumento ou na cor da roupa dos actores.

Se as "barras pretas" se admitem como estética em video-clips não há que negá-las onde são naturais.

2. É difícil constituir uma videoteca só com filmes com o enquadramento integral. Ou se importam de países onde, pelo menos, se identifica os filmes em widescreen, e onde existem edições especiais para quem procura filmes no formato cinematográfico original (o Reino Unido, por exemplo), ou se investe num leitor de Laser Disc, cujas cópias são em widescreen em 99% dos casos, mas cujo mercado é reduzido, e cujas cópias são caras. A importação tem a desvantagem (?) da língua falada ou legendada ser diversa da nossa. Espera-se que o DVD - que se começa a implementar - venha democratizar tudo isto, com a possibilidade de escolher formatos (e línguas).

3. Os "novos" formatos não vão alterar nada, enquanto houver uma pseudo-necessidade de encher o écran da TV. Quem quer ver «Casablanca» ou «Citizen Kane» cortados para 16:9 (75% de filme)?


Veja também: Comparação entre Formatos: Letterbox vs. Pan and Scan

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