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Demónios - Toda a Verdade/The Irrefutable Truth about Demons
Realizado por Glenn Standring
Nova Zelândia, 2000 Cor – 90 min.

Com: Karl Urban, Katie Wolfe, Jonathon Hendry, Sally Stockwell, Tony McIver, Peter Daubé, Kelson Henderson, Mel Johnston, Neill Rea, Perry Piercy, Adam Brookfield

Harry Ballard (Urban) é um professor de Antropologia com interesse pelas ciências ocultas. Este interesse manifesta-se também na exposição pública de cultos, revelando truques e métodos de controlar os seus seguidores. A atitude de Ballard despoleta a ira de Le Valiant (Hendry), líder de um culto satânico, que invoca demónios para realizar os seus fins e que começa por lhe enviar uma ameaça em forma de cassete vídeo. Ballard, é auxiliado por Benny (Wolfe), uma jovem punk que tenta convencê-lo de que os demónios são reais e que o sacerdote deseja a sua alma.

O distribuidor nacional procura relacionar «The Irrefutable Truth about Demons» com a obra de Peter Jackson, autor de «Bad Taste» (1989) e «Braindead» (1993), prestes a ser mundialmente famoso, ao assinar a trilogia d' «O Senhor dos Anéis» (2001-03), mas as semelhanças ficam-se pelo género (horror, muito em abstracto) e a nacionalidade. Não há dúvida que a Nova Zelândia é fonte de propostas interessantes no campo do horror, como os referidos filmes de Jackson podem aferir, mas estes «Demónios» não se esforçam o suficiente para deixar uma marca característica. A auto-importância do filme, reforçada por um título nacional que parece remeter para um daqueles documentários que passam às três da manhã na SIC, tenta sugerir um cenário no mínimo convincente, sobre a passagem de criaturas demoníacas por entre o mundo dos simples mortais.

De facto, o filme de Standring, começa relativamente bem, ao introduzir as personagens e a respectiva premissa. Mas cedo os elementos parecem desligar-se uns dos outros e muitas das coisas se revelam injustificadas, ou como se fossem concebidas momentaneamente, deixando de fazer sentido por uma posterior evolução do argumento. São os casos da destruição do lar de Ballard ou a sugestão de que existiria uma espécie de resistência por parte de outras pessoas com contactos com o mundo dos demónios, o que se acaba por confinar à presença de Benny, que, em meros 90 minutos, ainda tem tempo para participar num curto interlúdio romântico e de dar um contributo para o combate final.

A montagem deixa muito a desejar, não só no que não se vê acontecer, como na própria sequência de acontecimentos. Por exemplo, Ballard recebe a cassete e pouco depois defronta-se com os membros do culto. A sua incriminação não parece servir para muito, senão para o obrigar a fugir, a esconder-se, quando isso deveria ser a última coisa que Le Valliant desejaria. Por outro lado, cedo ele iria descobrir a pequena maquinação do culto. O interesse de Le Valliant por Ballard e as eventuais capacidades deste são no mínimo, subexploradas, tal como toda a motivação do culto e a apresentação daquilo que eles realmente fazem. Adoram Satanás, invocam demónios? OK, mas é só isso? O confronto final é demasiado simples e rápido, precedendo um final curioso, que é logo estragado por um dispensável toque “obrigatório” de género.

No fundo, pode-se dizer que «The Irrefutable Truth about Demons» se assemelha a um sugestivo projecto inacabado. Eu veria um trailer (à vigésima vez talvez perdesse o interesse...) ou um making of e ficaria com muita curiosidade em relação ao produto completo. É como se algures no decurso da produção se tivesse que encurtar o filme em meia hora, por razões económicas, ou que Clive Barker tivesse abandonado o projecto antes de o finalizar.

De acrescentar que a projecção no Teatro Rivoli, no Porto, durante o Fantasporto, um festival organizado pelo distribuidor do filme, logo com obrigação plena de conhecer as suas características técnicas, ridicularizou os parcos efeitos especiais digitais que integram o filme. Isto porque estas cenas foram criadas num formato de 1.85:1 ou 1.66:1 sobre o negativo com imagem real de 1.37:1, sendo este último (que não é, sequer, um formato standard de cinema) o seleccionado para a projecção. Ora isto resulta naturalmente que os efeitos digitais se apresentem “apagados” numa considerável faixa superior e inferior do ecrã.

**1/2
classificações

Publicado on-line em 25/03/01.