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Braindead - Morte Cerebral/Braindead
Realizado por Peter Jackson
Nova Zelândia, 1992 Cor - 104 min.
Com: Timothy Balme, Diana Peñalver, Elizabeth Moody, Ian Watkin, Brenda Kendall, Stuart Devenie, Jed Brophy, Elizabeth Bimilcombe, Stephen Papps, Murray Keane

Um intrépido explorador, muito Indiana Jones, captura um rato-macaco na Ilha da Caveira, sendo perseguido pelos nativos. Não tem a maior das sortes ("sengaia, sengaia!"), mas o animal acaba por chegar à Nova Zelândia antes do fim da title sequence.

Lionel Coscrove (Balme) é um rapaz de 25 anos reprimido pela possessiva mãe, Vera (Moody), e pelas memórias da morte do pai. Quando conhece Paquita (Peñalver) as fronteiras do seu pequeno mundo vão abrir-se, e vai originar-se um conflito entre as duas mulheres, numa das mais profundas análises das psicopatologias edipianas da história do cinema. Err... adiante. Por um terrível infortúnio, a matriarca dos Cosgrove vai ser mordida pelo rato-macaco no Zoo, dando origem a um lamentável contágio que transformará em zombies a quase totalidade dos actores contratados.

Depois de ter feito - aos fins de semana com os amigos - um filme sobre uma invasão extraterrestre destinada a obter carne humana para uma cadeia interplanetária de fast-foodBad Taste»), onde as preocupações com os mecanismos concorrenciais das grandes corporações são latentes, e cujos efeitos especiais põem os de «ID4» a um canto facilmente, e depois de um filme versão hard-gore dos marretas («Meet the Feebles»), que se debatia com os valores da humanidade que estão em cada um de nós, mas principalmente nos animais, Jackson queria fazer um dos melhores filmes de zombies da história. Algo que fosse comparável aos clássicos «Evil Dead», «A Noite dos Mortos Vivos» e «Re-Animator», que o inspiraram.

Assim, com a colaboração na escrita do argumento de Frances Walsh e de Stephen Sinclair (um dos mais reputados playwriters da Nova Zelândia) e com fundos do governo (nenhum membro da comissão foi aos locais de filmagem), Jackson pós de pé o filme que é, reputadamente, o mais gore da história do cinema. Mas o realizador não está apenas interessado na violência (o lema era quanto mais gore, melhor), mas também na comédia. O gore é aqui um mero mecanismo cómico. E Jackson disse que este era "um filme gore para toda a família, dos 7 aos 77", ou apenas "Monty Python com sangue e tripas".

Timothy Balme era um actor de teatro que, na altura, não tinha visto um único filme de terror. Jackson deu-lhe «Evil Dead 2» e «Dawn of the Dead» para ele ter uma ideia do que o esperava. Diana Peñalver ("a Scarlett O' Hara do gore") trabalha principalmente em TV, em Espanha, e surgiu devido às, entretanto malogradas, intenções de se fazer a primeira co-produção cinematográfica Nova Zelândia/Espanha. No primeiro dia de filmagem Jackson pô-la a decepar a mão de um zombie, e reparou que ela "chorava lágrimas de crocodilo". Pelo fim das filmagens estraçalhava zombies alegremente.

«Braindead» é uma das melhores comédias de sempre, vencedor de imensos festivais de cinema fantástico internacionais, incluindo Avoriaz e Fantasporto. O conteúdo, nada contido em termos de violência gráfica, remetê-lo-á, por muito tempo, para longe do grande público, mas é neste momento (5 anos depois de concluído) um relativo sucesso comercial de público e de crítica. Basta não ler a portuguesa, aparentemente confusa com o intuito de tão detalhado catálogo de desmembramento e esventramento humanos. Também parece que a crítica portuguesa não perdoa o anti-Nabukovismo presente no filme.

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O tio Les (Watkin) tentando resolver um problema de infestação de
zombies na sua almejada nova casa.
Entre os planos sangrentos mais artísticos apreciam-se o corpo comido da cintura para baixo (em movimento), ossos e botas, a caixa torácica a ser retirada à mão, a cabeça partida pelo pescoço e dobrada para trás (o que facilita a alimentação directa), o meio corpo a perder entranhas (vaidosas por sinal), a liquidificadora, o bebezinho (tão queerido!), o cortador de relva, o monte de pedaços, sei lá...

«Braindead» tem passado todos os anos desde 93 no Fantasporto, com lotações esgotadas em todas as sessões. 6000 bilhetes, diz a organização, o que parece muito superior aos 7000 espectadores em 7 semanas no AMC de Gaia. No Quarteto, em Lisboa, agora equipado com Kinky, perdão, Kintek Stereo o sucesso não existiu.

Questiona-se se a versão portuguesa corresponde exactamente à "versão europeia" com 104 minutos...

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