cartaz
comentários
coluna
secção informativa
favoritos
arquivo

index

A Múmia/The Mummy
Realizado por Stephen Sommers
EUA, 1999 Cor - 124 min. Anamórfico

Com: Brendan Fraser, Rachel Weisz, John Hannah, Arnold Vosloo, Kevin J. O'Connor, Jonathan Hyde, Oded Fehr, Omid Djalili, Erick Avary, Aharon Ipalé, Patricia Velasquez

Egipto, 1290 a.C.: com a sua relação descoberta pelo Faraó Seti (Ipalé), o sacerdote Imhotep (Vosloo) e a concubina Anck-su-Namum (Velasquez) assassinam-no e procuram fugir da sua vingança, mas ela decide que o caminho mais fácil é o suicídio. Imhotep promete ressuscitá-la, mas é impedido pelos guardas do Faraó e condenado à mais terrível de todas as penas (tão terrível que os próprios carrascos dormirão mal de noite durante semanas), que se pode resumir em ser enterrado vivo na companhia de dezenas de escaravelhos carnívoros, com o acompanhamento de cânticos místicos.

Em 1923, o americano Rick O'Connell (Fraser) encontra a cidade perdida de Hamunaptra, local onde Imhotep foi sepultado, quando o grupo é atacado por uma misteriosa tribo. As riquezas e/ou o interesse arqueológico da cidade atraem mais tarde dois britânicos - Evelyn (bibliotecária) (Weisz) e o irmão Jonathan (comic relief) (Hannah) -, que irão depender da ajuda de O'Connell, bem como um grupo rival que tudo tentará para chegar primeiro ao local. Imhotep ressuscita com um aspecto algo putrefacto, mal disposto e determinado a amaldiçoar todos os que tentem impedi-lo de se unir à carcassa da sua amada.

«A Múmia» é um dos maiores suck-sessos do início do Verão americano, reunindo ingredientes de vários géneros cinematográficos, saltando mais à vista o filme de aventuras a la Indiana Jones. A múmia é uma criatura do cinema de horror clássico, mas o moderno blockbuster americano não dá demasiada importância à questão, não tentando ser um remake, nem sequer recorrer às convenções do género; antes se amealham as convenções testadas e aprovadas não em um, mas em meia dúzia de géneros. A aventura desmiolada é o tom que desde logo se destaca, num filme onde tudo é cuidadosamente preparado com "sequência emocionante" atrás de "sequência emocionante", acrescentando-se um desbaratar de graçolas inapropriadas (fica sempre bem depois da morte de meia dúzia de pessoas descontrair com um comentário jocoso), contadas e catalogadas pelos cineastas e espalhadas a intervalos regulares pelo filme, tudo mexido e temperado, moderadamente, com alguma da violência-padrão possível num filme preparado desde o início para ser visto pelo grande público, com uma classificação etária que não afaste os mais jovens.

Admitir-se-á que o filme de Stephen Sommers não é senão aquilo que promete ser, e daí o seu sucesso. De um ponto de vista mais substancial (se não foi ao cinema apenas para digerir pipocas), é decepcionante mesmo tendo em atenção apenas as qualidades de um produto de entretenimento, uma vez que nunca conseguimos desligar totalmente o cérebro. Filmes como este, no entanto, parecem almejar o aperfeiçoamento dessa capacidade nos seres humanos acordados e imputáveis. Começamos por não perceber porque é que Anck-su-Namum fica para trás, logo no início, quando nada parecia impedi-la de fugir com Imhotep. Se assim fosse, ele não precisava de voltar e não seria apanhado. Eis que ficávamos no antigo Egipto com uma bonita história de amor. Com um ponto de partida tão fraco é difícil esperar muito do resto.

Imhotep poderia ser um personagem interessante e não apenas mais um monstro de ideia fixa que quer fazer mal a toda a gente, através de actos de violência demoníaca ou da indução de tédio, destruir o mundo (pois, o costume), etc. etc., já que a sua principal motivação parece ser reunir-se com o amor perdido. Quão fácil seria dar alguma ambiguidade ao "mau da fita", fazer-nos sentir algo por ele, partilhar a sua dor; mas o filme não quer em momento algum ser algo mais do que um "divertimento" descomprometido. Afinal se ele quer apenas destruir, se é puramente mau, para que precisa de uma companheira, morta há mais de dois mil anos? Amor? Ou a simples necessidade narrativa de transpôr a acção do ponto A até ao ponto B, no final do filme? A resposta é a segunda opção, porque a sucessão de acontecimentos é automática, decorrendo também daí a extrema facilidade como se encontra uma cidade perdida.

As pragas parecem existir só porque tem de se pôr algo colorido e movimentado no écran, com alguma frequência, com o acompanhamento de efeitos sonoros aparatosos. Nem falta um "cameo" dos meteoros de um par de filmes que Hollywood produziu recentemente, na ânsia de bater recordes de show-off. A secção "comédia" é deveras insuportável. A cena de destruição na biblioteca é o exemplo perfeito do exagerado não-humor com que «A Múmia» nos presenteia e nem vale a pena entrar na enxurrada de frases curtas pós-susto (síndroma descontraiam-isto-é-só-um-filme).

Entre «Independence Day» (1996) e os filmes de Indiana Jones (1981-89), «The Mummy» mais facilmente agradará aos fans do primeiro e de outros blockbusters falhos de imaginação e plenos de "espectacularidade". Outros obterão maior satisfação revendo a trilogia do arqueólogo Jones e as aventuras do desafortunado Ash, igualmente com três tomos, inauguradas com «The Evil Dead» (1982). Sommers certamente viu uma e outra, mas a inspiração não produziu bons resultados.

*1/2
classificações

Publicado on-line em 26/7/99.