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A Cela/The Cell
Realizado por Tarsem Singh
EUA/Alemanha, 2000 Cor – 109 min. Anamórfico.

Com: Jennifer Lopez, Vince Vaughn, Vincent D'Onofrio, Marianne Jean-Baptiste, Jabe Weber, Dylan Baker, James Gammon, Tara Subkoff

Quando Carl Stargher (D'Onofrio), um psicopata que rapta, tortura e assassina mulheres jovens é finalmente detido, fica por encontrar uma vítima, cuja vida se sabe estar em risco, sendo apenas uma questão de tempo até que venha a falecer, algures num esconderijo do assassino. Catherine Deane (Lopez) trabalha com auxílio de um sistema tecnologicamente avançado, que permite entrar na mente de pacientes, para sessões de psicoterapia in loco. Como último recurso perante o tempo escasso disponível, o agente do FBI Peter Novak (Vaughn) pede a Deane que entre na mente de Stargher para descobrir pistas sobre o paradeiro da sua última vítima.

«The Cell» tem sido referido sobretudo pela sua componente visual, nas sequências passadas no interior da psique do homicida (para além de uma sequência “dentro” de uma criança). As imagens alternadas de grande beleza e de horror gótico e os requintes de malvadez do homicida, contribuem para uma atmosfera densa e perturbante, rara em filmes do género de produção moderna (o que não obviou a que a masturbação suspensa tivesse sido censurada no mercado americano), mas precisaríamos de ser convencidos de que há algo mais para lá do superficial, da passagem do design de uma sala para o design de outra.

Em nada ajuda sentirmos constantemente que Singh e o argumentista Mark Protosevich não estão a fazer muito mais do que tentar recriar o ambiente de filmes como «Silence of the Lambs» (1991) ou «Se7en» (1995), tentando adicionar o valor acrescentado de um tratamento visual cuidado e pouco frequente no cinema “comercial”. Há ainda reminiscências que nos transportam a obras como «Kiss the Girls» (1997), o próprio já destilando elementos de filmes mais bem sucedidos em termos de público e de crítica e que merecidamente alcançaram o estatuto de referências de género.

Ora nem a história nem os personagens suscitam grande interesse ou justificam toda a curiosidade suscitada pelo filme, o qual se duvida poder perdurar por muito tempo na memória do público cinéfilo. O “público em geral” – perdoem o elitismo... – mais facilmente se lembrará d' «A Cela» como “aquele filme... com aquela actriz... que nem se despe.”

O texto esforça-se por ser inteligente, mas veja-se, por exemplo, a cena do rapto. Há toda uma encenação e suspense (deste modo) enganador. Não há razão nenhuma para que o criminoso não se limitasse a agarrar a vítima. Estupidamente, espera que entre no carro para depois a atrair “ardilosamente” para o exterior. É suposto o público pensar que o método é engenhoso? As tentativas de dar alguma dimensão de realismo à psicologia (e psicopatologia) reduzem-se às revelações, pouco inesperadas, de uma infância de abusos, e de um comentário do agente do FBI, que diz que nem todas as crianças em tal meio se tornam automaticamente monstros homicidas (uma sugestão da sua própria infância, supõe-se). Mas fica-se por ali, porque há coisas bonitas para mostrar e o tempo é escasso.

**1/2
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Publicado on-line em 10/12/00.