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Massacre no Texas 2/The Texas Chainsaw Massacre 2
Realizado por Tobe Hooper
EUA, 1986 Cor - 95 min.

Com Dennis Hopper, Caroline Williams, Jim Siedow, Bill Moseley, Bill Johnson, Ken Evert, Harlan Jordan, Kirk Sisco, James N. Harrell, Lou Perry, Barry Kinyon

Um evento desportivo atrai imensos forasteiros a Dallas. Pela estrada fora, dois jovens consomem álcool e descarregam um revólver nos sinais de trânsito. Demasiado bem dispostos para se ficarem por aí, resolvem telefonar para o programa de discos pedidos de Vantia Block, mais conhecida por Stretch (Williams), na K-OKLA, para onde soltam algumas obscenidades antes de serem retirados no ar. Como não desligam o telefone, no estúdio ouvem-nos a forçar uma carrinha a sair da estrada. Mais tarde, voltam a ligar e o que Stretch e o assistente L.G. (Perry) ouvem pelo telefone é muito mais radical. Cruzam-se de novo com o veículo que anteriormente forçaram a sair da estrada e os seus ocupantes demonstram que não acharam graça nenhuma à brincadeira. Os jovens percebem-no no momento em que vêem uma figura de face disforme a empunhar uma gigantesca serra mecânica, com a qual tenta dar um novo sentido à expressão "descapotável".

Dor de cabeça
A "família": Leatherface, Chop
Top e Cook (capa da edição
remasterizada
A acção de «Massacre no Texas 2» passa-se 13 anos depois dos acontecimentos do filme original, considerado um dos maiores clássicos do cinema de horror (o que não chega para merecer edição vídeo nacional). Arrumando rapidamente o destino dos sobreviventes do filme de 1974, Hooper apresenta-nos o tenente "Lefty" Enright (Hopper), tio de Franklin e Sarah Hardesty (convenientemente renomeada Hardesty-Enright no prólogo), um Marshall que decide investigar os novos casos por conta própria, seguindo o caminho de uma vingança bíblica. "Olho por olho, dente por dente", e assim há que recorrer a métodos não aprovados pelas forças policiais, começando-se por procurar adquirir a maior motosserra disponível na loja.

Do mesmo ano de «Veludo Azul», de David Lynch, onde Dennis Hopper tem uma das mais marcantes interpretações da sua vida, na pele do psicopata Frank Booth, «The Texas Chainsaw Massacre 2» permite ao actor criar um personagem igualmente perturbado e perturbador, com a diferença de que o psicopata aqui é (também) o herói. Ou será que não? A performance de Hopper é digna de registo, mas facilmente é lembrado pelo filme de Lynch, ao mesmo tempo que se passa por cima deste filme violento e estranho (dois adjectivos que também se podem aplicar a «Veludo Azul»), quando se fala da sua carreira.

A família de canibais, inspirada vagamente no psicopata Ed Gein, que profanava tumbas e fabricava macabras peças de mobília a partir de ossos e pele humana (também contribuiu para a criação do Norman Bates de «Psycho»), constitui um bando de "weirdos" de escalão superior aos do primeiro filme. Surgem agora com o adequado apelido de Sawyer, fabricantes de um chili muito apreciado e até premiado (não revelam a receita a ninguém). O irmão mais velho, o Cozinheiro (Siedow, o único membro do elenco original), é o patriarca da família. Tem orgulho na sua capacidade para reconhecer "carne de primeira". "Chop Top" (Moseley) tem uma placa na cabeça e manifesta dificuldade em controlar os flashbacks do Vietname. É um verdadeiro amante de música, e não resiste em invadir o arquivo dos "golden oldies" da K-OKLA. "Music is my life", repete várias vezes. O famoso "Leatherface" (Johnson), que captura e prepara as refeições, parece apaixonar-se pela DJ Stretch. Há uma cena tão cómica quanto assustadora, envolvendo uma motosserra, que aliás parece figurar em análises feministas sobre o modo como as mulheres são retratadas em filmes de horror.

Esta família é um produto da era Reagan, sugere Hooper e o argumentista L.M. Kit Carson («Paris, Texas», de Wim Wenders). Uma sátira talvez mais subtil do que a presente em «They Live» (1988) de John Carpenter, mas, se o discurso incongruente de Chop Top mistura o seu amor pela rádio e pela música e se Leatherface se limita a operar aparelhos mecânicos, o Cozinheiro não para de proferir máximas económicas, características do período. Por um ponto de vista algo subversivo, poderíamos considerar que afinal eles são os bons da fita; tentam gerir uma pequena economia familiar, procurando sobreviver como podem, na sequência dos despedimentos resultantes da introdução de maquinaria moderna no abate de animais (um método frio, segundo a sua filosofia - nada que se compare com umas boas marteladas na cabeça), e é até quase incidental que vão matando algumas pessoas pelo caminho.

«Massacre no Texas 2» é muito mais gráfico que o filme original, no que à violência diz respeito, mas também tem um humor (muito, muito negro) que aí não existia. É um humor que não torna o filme mais "leve" ou mais suportável, o que explica os problemas com a censura, onde quer que ela exista. Apesar de poderem lançar o filme nos EUA sem classificação, os cineastas não utilizaram algumas das cenas mais violentas criadas a partir da arte de Tom Savini, incluindo uma cabeça a ser serrada horizontalmente. Esse material foi posteriormente incluído numa "edição especial", lançada em vídeo.

Cabeças serradas
Os modelos de Tom Savini para uma cena que não foi usada
na versão cinematográfica de «Massacre no Texas 2»
Cada canção da banda sonora ajusta-se à atmosfera da cena onde se insere, ao contrário do que é usual hoje em dia, onde se espeta um tema-título nos créditos finais e depois se lança um disco com 12 faixas que nem sequer se ouvem no filme. Aqui temos, entre outros, Timbuk 3, Cramps, Concrete Blonde, The Lords of the New Church e Steward Copeland.

Produziram-se posteriormente, sem a participação de Tobe Hopper, «Leatherface: The Texas Chainsaw Massacre III/O Assassino da Motosserra» (1990) e «The Return of the Texas Chainsaw Massacre/Massacre no Texas - O Regresso» (1994); um mau e o outro completamente intragável. O último está em vídeo e o primeiro até foi exibido em salas de cinema (por uma semana, talvez). O mais recente foi relançado com um novo título - «The Texas Chainsaw Massacre: The New Generation» - para aproveitar a presença de Renée Zellweger e de Matthew McConaughey.

Quanto a este segundo tomo, para além de projecções no Fantasporto, existiu por cá uma edição vídeo (Imavídeo) no final dos anos 80, que, abusivamente ou por mera ignorância, usava o título «Massacre no Texas», negando a sua característica de sequela. A cópia já não tinha propriamente grande qualidade - e não estava gravada em stereo, perdendo-se, sem dúvida, parte do efeito urrante das serras mecânicas e dos gritos histéricos do elenco -, de modo que, se se encontrar uma na secção das velharias de algum clube de vídeo, não deve estar em muito bom estado. Quem possua um vídeo capaz de ler NTSC, ou preferencialmente laser disc ou DVD, poderá aceder-lhe via importação dos EUA. No mundo PAL o acesso é muito complicado: o filme está ainda banido numa série de países Europeus (como o Reino Unido) e na Austrália. A Holanda - um país mais civilizado - poderá ser uma opção, para quem não se importe com legendagem em Flamengo (é melhor do que dobragem em Espanhol ou Francês), mas os preços são normalmente elevados. Nunca se espera muito do morno mercado vídeo nacional.

Mais imagens com o trabalho de Tom Savini podem ser vistas numa página separada, por constituirem "spoilers". Se não viu o filme, e não quer saber quem vai ser atravessado por uma serra mecânica, não clicke aqui. Essa página inclui também alguns comentários de Tom Savini ao seu trabalho no filme.

Fotografias dos efeitos de maquilhagem © copyright Tom Savini

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Publicado on-line em 4/2/99.
Escrito originalmente para a Telefonia Virtual.