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Soldados do Universo/Starship Troopers
Realizado por Paul Verhoeven
EUA, 1997 Cor - 129 min.
Com: Casper Van Dien, Dina Meyer, Denise Richards, Jake Busey, Neil Patrick Harris, Clancy Brown, Seth Gilliam, Patrick Muldoon, Michael Ironside, Rue McClanahan

Num futuro indeterminado, a raça humana vê-se ameaçada por gigantescos insectos extraterrestres, que colonizam planetas projectando esporos no espaço. Para fazer face aos avanços do inimigo, o Estado glorifica a guerra junto de adolescentes liceais, saídos de episódios das piores "soap-operas" da TV americana. Depois de intensos períodos de treino, com instrutores muito - mas mesmo muito maus - os jovens estão prontos para a matança. O filme centra-se em quatro amigos, ligados telenevolescamente; A ama B que ama C que ama... A premissa é irrelevante e serve apenas para os lançar todos para o espaço, para acabar com os Bugs.

«Starship Troopers» começa por nos mostrar um grupo de liceais que poderiam estar no Melrose Place ou no Beverlly Hills 90210, salvo alguns detalhes meramente incidentais. Numa aula de Biologia típica teríamos a moça sensível a sair de cena, agoniada, ao ser forçada a dissecar um sapo. Aqui temos uma aula que consiste em revolver alegremente as vísceras de um repugnante animal. Mas a intenção, em termos de "caracterização" de personagens, é similar. Neste cenário futurista, o sonho da maioria destes jovens não é estudar direito ou advocacia, mas simplesmente ser soldado para alcançar o estatuto de cidadão.

Regressando à ficção científica, Verhoeven volta a recorrer aos media e ao poder sedutor da publicidade («Robocop», «Total Recall»), no mesmo tom satírico. Desta vez, o tom é mais de propaganda do que nunca, ou a sociedade que se nos apresente não tivesse abandonado a democracia. As imagens censuradas na TV, também são uma graçola ao modo como este filme irá ser visto nas TVs de alguns países. O mundo é anglo-saxónico, e os nossos heróis vivem em Buenos Aires. Sem dúvida acabam-se as confusões de americanos que, por exemplo, associam América Central ao Kansas.

A espécie inimiga mais comum é constituída por aracnídeos gigantes com patas multi-funções, que podem ser usadas tanto para alcançar grandes velocidades como para trespassar humanos. Apesar de viverem num planeta inóspito, desenvolvem tácticas de propagação e de combate muito eficazes. Para sobreviverem, aparentemente comem-se uns aos outros (os humanos serão um pitéu novo). Possuem claramente uma organização hierárquica, e são quase tão solidários quanto os soldados do espaço: frequentemente partilham um, acabadinho de capturar, para ser repartido pelos seus companheiros.

O argumento do filme, adaptado por Ed Neumeier («Robocop») do livro de meados dos anos 50 de Robert A. Heinlein, é no mínimo risível, e só por muita falta de atenção pode ser levado a sério. O tom é unicamente satírico, uma comédia ultra-violenta que o realizador diz ser inspirada em filmes de "pilotos e bombardeiros" da Segunda Guerra Mundial. Quando o filme nos apresenta a intragável sequência "Beverly Hills" a reacção do espectador médio será desejar que insectos gigantes desmembrem o cast. E é o que Verhoeven se dedica a entregar passado algum tempo, depois da obrigatória sequência "Full Metal Jacket".

A violência (tão "gratuita" quanto o adjectivo faça sentido num filme que custou cerca de 100 milhões de dólares) já vem dos filmes holandeses de Verhoeven. Nos EUA, o realizador já teve as suas lutas com os censores. «Robocop» foi censurado por violência, «Basic Instinct» por sexo. O intragável «Showgirls» será o primeiro filme de grande estúdio a ser lançado com o selo NC-17/para adultos (a tudo-pela-família Blockbuster teve direito a uma versão especial censurada). O facto de «Starship Troopers» ter passado sem grandes problemas com um convencional 'R' admirou muita gente. É o Blockbuster mais violento de que há memória, não só pelos desmembramentos e decapitações constantes, ou pelos vários travellings sobre massas de restos humanos, mas também pela sequência em que Denise Richards pavoneia um sorriso semi-pepsodent, semi-capa de revistas de BD de tempos idos. Nos EUA parece que os pais tapam os olhos às crianças na cena do chuveiro.

Os efeitos especiais serão do melhor que recentemente atingiu os écrans de cinema. Nesse capítulo, «Titanic», que se calhar obstou à sua presença deste filme em melhores salas, pode ser considerado inferior. O afundamento está bem feito, mas o que pensamos é precisamente "excelentes efeitos" (claro que há quem esteja absorvido pelo... drama dos personagens). Aqui, os efeitos estão tão bons (excepto em casos pontuais), com uma perfeita integração com a imagem real, que observamos a grandiosidade da invasão, esquecendo-nos que aqueles bichinhos são todos imagens de síntese. Já que se fala do filme de Cameron, refira-se outra vantagem do de Verhoeven: a sinceridade. Verhoeven vem a público dizer que fez um filme satírico e violento, com miúdos em guerra contra insectos gigantes; Cameron vem dizer que só está interessado nos personagens...

Dito isto, resta perguntar se «Os Soldados do Universo» são um "bom" filme. Depende. Para começar, se levar a sério um filme em que as antiaéreas inimigas são escaravelhos a lançar plasma pelo traseiro, nem vale a pena pensar em comprar o bilhete. Um bom filme? Não, nunca. É terrivelmente mau. Mas é um dos melhores e mais divertidos dos últimos tempos, na categoria dos filmes terrivelmente maus.

**1/2
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