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Titanic
Realizado por James Cameron
EUA, 1997 Cor - 194 min. Anamórfico
Com: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Billy Zane, Kathy Bates, Frances Fisher, Gloria Stuart, Bill Paxton, Bernard Hill, Jonathan Hyde, Victor Garber, David Warner, Danny Nucci, Suzy Amis

Jack Dawson (DiCaprio) é um passageiro de terceira classe abaixo dos passageiros de terceira classe; ganhou o bilhete para o Titanic. Rose DeWitt (Winslet) é uma jovem da alta sociedade, de uma família com pouco dinheiro mas com toda a classe. Porque a classe não chega, a mãe (Fisher) obriga-a a casar, contra a sua vontade, com Cal Hockley (Zane), rico e - claro - desprezível. O que poderia acontecer entre um pobretanas, inteligente e cheio de virtudes, e uma rapariga da alta sociedade farta da sobrevalorização das aparências da vida social? Além de se duelarem até à morte com rabanetes? Sim, romance, e fiquemos descansados porque nada na terra poderá separá-los.

A mega-produção de James Cameron é o filme do ano de 1997 para muitos e será o filme do ano de 98 para outros tantos. Procurou alcançar-se a simbiose perfeita; filme-catástrofe cruzando-se com história de amor comovente. Resultará para uns, falhará para outros, mas muito escasso deve ser o número de espectadores que não se delicia com o segmento da "desgraça". Cameron filmou muito material, mas só conseguiu levar 194 minutos às salas de cinema. À data da estreia do filme nos EUA, em meados de Dezembro, já se discutia quando seria lançada a edição especial, com cerca de 5 horas (em Laser Disc, para começar, mas não será de admirar que também passe por salas de cinemas de alguns países) .

O romance que se nos apresenta não traz nada de novo. Por um prisma é "a mesma história do costume", por outro é uma "história de amor clássica". Os clichés estão por lá todos, bem como uma série de gracinhas (ou "one-liners") que ficariam ainda melhor em qualquer filme com Arnold Schwarzenegger. Convenhamos, é difícil filmar uma tragédia romântica credível e, ao mesmo tempo, retalhar o script, introduzindo comentários fora de contexto, de 7 em 7 minutos (ou o que for). Presume-se que se queira suster o desabafo emocional para o segmento final do filme.

Cameron orgulha-se de ter sido fiel à história e deu-se ao luxo de reproduzir fielmente os interiores do gigantesco navio, a louça usada, as carpetes (aparentemente feitas no mesmo local das originais), etc. O resto são detalhes. Há a tatuagem de Kate Winslet e a referência a um lago artificial criado apenas alguns anos mais tarde, por exemplo. Mas quem olha para insignificâncias? Também ninguém olha para a louça, mas é um comentário que fica sempre bem. A parte técnica está quase perfeita. Aparte um plano muito incómodo em que a cara de Winslet treme na "moldura" da sua cabeça, enquanto a água a persegue por um corredor, as restantes falhas mal se notam por serem detalhes em planos de conjunto (como é o caso de uma ou outra "pessoa" que ficou por "encher").

Seja feita justiça, porque se conseguiu fazer um blockbuster acessível e relativamente agradável. Mesmo que o texto não seja bom, os personagens não irritam como os de um qualquer «Twister», esse sim só efeitos de imagem e som. Por muito que faça confusão que se faça um filme sobre o Titanic, e depois se diga que se estava mais interessado na história dos personagens (claro, primeiro escreveu-se o romance, depois alguém se lembrou do cenário...), é de louvar que - de facto - se tenha conseguido levar do início ao fim o romance entre Jack e Rose e que o acidente surja, naquele contexto, como algo meramente secundário. Mas que nós fomos lá para ver o barco afundar, lá isso fomos.

Resta-nos perguntar se vale a pena gastar 200 milhões de dólares para construir um barco para depois o atirar contra um iceberg, se se queria contar uma história de amor. (Era uma pergunta retórica). Claro que de outro modo não seria notícia. Até o teledisco de Céline Dion é notícia, e motivo de orgulho de apresentadores de telejornais de um país que não tem programas televisivos de cinema.

(O vídeo de écran cheio tem "bom aspecto" garantido, ou não fosse Cameron o maior mestre da utilização do processo Super 35.)

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