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Reino de Fogo/Reign of Fire
Realizado por Rob Bowman
Reino Unido/Irlanda, 2002 Cor – 102 min. Anamórfico.

Com: Christian Bale, Matthew McConaughey, Izabella Scorupco, Gerard Butler, Scott James Moutter, David Kennedy, Alexander Sidding, Ned Dennehy, Rory Keenan, Terence Maynard

Escavações no centro de Londres libertam criaturas até à data consideradas mitológicas, as quais acedem à superfície, reproduzem-se rapidamente e espalham-se por todo o mundo, semeando morte e destruição, perante a impotência de todas as armas de destruição maciça, que acabam por servir apenas o inimigo, que se regojiza no meio das cinzas. 20 anos depois, Quinn (Bale) é líder num castelo isolado, onde vive uma pequena comunidade agrícola, tentando sobreviver num mundo desolado, perante as ameaças permanentes de investidas de dragões. Van Zan (McConaughey) é um “caçador de dragões”, comandante de um grupo de homens – e uma mulher, Jensen (Scorupco) – determinados a recuperar o domínio da humanidade sobre o planeta e a exterminar as gigantescas criaturas aladas.

Produção europeia com distribuição da Buena Vista, «Reino de Fogo» é um regresso ao filme de dragões, um género – se assim se pode considerar – que normalmente implica produções cinematográficas em grande escala, dado o orçamento necessário para efeitos especiais convincentes. Esta obra distingue-se de outras anteriores, pela aproximação ao material, tecendo um cenário pós-apocalíptico, mais naturista e menos punk (contornando os requisitos impostos pelo influente «Mad Max 2»), sem perder muito tempo com as imagens de destruição, muito do agrado das mega-produções de Hollywood. Deste modo, o “apocalipse” é apresentado como ponto de partida e não como elemento narrativo de passagem lenta, emocionante e obrigatória, sendo ilustrado por alguns títulos de jornais (que fornecem o essencial da informação, ficando todas as consequências por nossa conta, já que a partir de certa altura também as redacções de jornais serão destruídas). Não estamos no campo da fábula de «Dragonheart» (1996) com um dragão simpático com a voz de Sean Connery, nem no território dos ambientes popularizados pelos “role playing games”, das “masmorras e dragões”, como o fiasco «Dungeons and Dragons» (2000). Estamos antes no campo do cinema de aventura, com contornos dramáticos, onde o papel central é curiosamente o do agricultor que prefere ser deixado em paz e não o do soldado/herói que tem de convencer os mais passivos a juntarem-se à sua missão.

O facto de não se tratar de uma produção americana está na origem de uma certa redução da previsibilidade. Quem estiver à espera de um filme com dragões em longas cenas de destruição de cidades, pontes, aviões e matanças de seres humanos, poderá ficar decepcionado. Não deixa de haver destruição, alguma matança, etc., mas tal é secundarizado, uma vez que o fluxo narrativo assenta fundamentalmente numa solução (fácil) para a praga que pode levar ao extermínio da humanidade, e não na reunião de guerreiros para um grande combate final. Assim, não teremos plano atrás de plano recheado de aparatosos efeitos especiais, mas as CGI cumprem a sua função, sempre que tal é requerido. Alguns momentos são pouco conseguidos (como a mistura de imagens com o céu por detrás de McConaughey, nos momentos finais), mas há cenas em que a imagem digital se mistura de forma muito convincente com o meio ambiente e as personagens, em particular durante o conflito em Londres, com um dragão a caminhar pelas ruínas, em que conseguimos esquecer a origem da criatura, que parece realmente orgânica. Como é natural, os melhores efeitos especiais são aqueles que conseguem não chamar a atenção sobre si enquanto efeitos especiais.

Apesar da boa premissa, a ideia é melhor do que o filme que a partir dela se desenvolveu. Não há grande emotividade, nem conexão com as personagens centrais, apesar dos desempenhos aceitáveis dos actores (McConaughey está mais próximo do psicopata da atroz sequela de «Massacre no Texas» do início da sua carreira, do que de qualquer outro dos seus trabalhos) e o argumento está recheado de pequenas implausibilidades aqui e ali. Por exemplo, ficamos com uma sensação estranha por não haver qualquer referência à obtenção de combustível para veículos terrestres e voadores, tendo em conta que a comunidade nem tem a certeza de existir vida humana nos arredores, i.e., está como que isolada do mundo. Por outro lado, a utilização de armas nucleares, ainda nos momentos introdutórios do filme, para fazer face à ameaça, também parece um exagero (não é sequer uma conveniência do argumento), já que tudo indicaria que armamento balístico convencional seria eficaz para eliminar os dragões.

Em suma, temos um filme que se leva relativamente a sério, não caindo nas piores facilidades do cinema comercial, e que mantém uma satisfatória componente de entretenimento que poderá justificar uma ida ao cinema ou um aluguer, na falta de algo mais interessante. Se lhe apetecer ver um filme com dragões, relativamente maduro e que não seja completamente idiota, esta talvez seja a melhor escolha.

***
classificações


UCI El Corte Ingles 4. Bem focado, som claro, com manifestações esporádicas dos surrounds em efeitos direccionais, apesar de uma aparente insuficiente presença desses canais.

Publicado on-line em 3/10/02.