Jack Foley (Clooney) é um assaltante de bancos a caminho do Guinness Book. Cruza-se com a atraente marshal Karen Sisco (Lopez), com quem partilha o porta-bagagens de um automóvel. O melhor amigo de Foley é um cristão renascido chamado Buddy Bragg (Rhames), e está sempre ao seu lado pronto para ajudar, mesmo que se arrependa posteriormente (o que é fácil e rápido nos termos da sua atitude religiosa). Os dois criminosos procuram concretizar um assalto à residência de um ex-recluso, mas existem outros interessados no mesmo produto. Entretanto, a marshal Sisco tem que lidar com um conflito de interesses bastante desagradável.

«Out of Sight» não é propriamente uma comédia romântica convencional. O guião bem delineado - de Scott Frank, a partir do livro de Elmore Leonard - não está demasiado preocupado com a boa disposição do espectador. Por um lado, segue-se uma intriga criminal sem concessões à comédia romântica, que admissivelmente levou grande parte do público à sala (ainda mais com o título português tão pouco subtil, i.e., substantivo "romance" + adjectivo "triller"), e, por outro, não descura a "caça" que os personagens principais empreendem um ao outro, com sentidos frequentemente diversos. Clooney e Lopez dificilmente poderiam estar melhor nos seus papéis, e não há secundário que manche o elenco.

Existem pessoas por detrás da produção do filme de Soderbergh comuns a outro baseado numa obra de Elmore Leonard - o menos bem sucedido «Get Shorty» (1995), de Barry Sonnenfeld. Danny DeVito produz e o próprio Sonnenfeld é um dos produtores executivos. E Scott Frank, autor dos guiões de «Little Man Tate» (1991), de Jodie Foster, ou de «Dead Again» (do mesmo ano), de Kenneth Branagh, foi também o responsável por essa adaptação. Mas existem também contactos com o mais recente «Jackie Brown» (1997), o mais comedido dos filmes de Tarantino. Aqui temos dois comuns (sem o nome listado nos créditos) e um deles interpreta o mesmo personagem. Não compete aqui elaborar sobre isso, porque assistir às cenas sem esse conhecimento prévio constitui uma agradável surpresa (duas, na realidade).

Há humor em «Out of Sight» e há, obviamente, romance. Mas há também uma narrativa coerente, contada de forma bastante eficaz, recorrendo-se a um flashback intercalado com o presente até determinado ponto do filme, quando tal deixa de ser necessário. Há outro flashback bastante curioso (ou será um flashforward?), durante a cena em que Foley e Sisco se aproximam, e que contorna eficazmente as convenções que ditam o modo como habitualmente se filma e monta cenas equivalentes, as quais, normalmente, parecem uma contagem decrescente até ao momento em que se espera que entre o habitual "video-clip" semi-erótico. O estilo visual, com frequentes slow-motions e imagens congeladas no tempo, encaixa bem no fluir da história e reforça as emoções filmadas..

Não só estes personagens estimulam o nosso interesse pelos respectivos destinos, como o resultado do confronto, no momento em que o referido conflito de interesses tem que ser resolvido, surge como natural e necessário. A conclusão permite interpretações diferentes se não existir alguma atenção por parte do espectador e não é aí que se manda a coerência às urtigas, como sucede com alguns filmes que derrapam no momento da verdade e frustram quem não vai ao cinema apenas para uma experiência pavloviana do género "se fim = tal então público = muito contente".

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