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Jackie Brown
Realizado por Quentin Tarantino
EUA, 1997 Cor - 151 min.
Com: Pam Grier, Samuel L. Jackson, Robert Forster, Bridget Fonda, Michael Keaton, Robert De Niro, Michael Bowen , Lisa Gay Hamilton, Tom 'Tiny' Lister Jr., Hattie Winston, Denise Crosby, Sid Haig, Aimee Graham, Chris Tucker

Uma hospedeira do ar, Jackie Brown (Grier), tem problemas com a lei (é apanhada). Um agente federal (Keaton) e um polícia de LA (Bowen) propõem-lhe que colabore na captura de Ordell Robbi (Jackson), traficante de armas, o que passaria pelo transporte de meio milhão de doláres da América do Sul para os EUA, para o apanhar com a mão na massa. Jackie tem de optar entre trair o "patrão", trair a polícia ou trair ambos. Ordell tem de lidar com ex-empregados com tendências loquazes, mas a ajuda, à medida que as coisas se complicam, pode não ser a melhor: um ajudante com um processador 286 no cérebro (De Niro) e uma loira invulgarmente chata e indigna de confiança (Fonda). Por seu lado, Jackie procura aconselhamento com Max Cherry (Forster), agente de fianças, com quem discute o poder de tentação de meio milhão de dólares.

Quentin Tarantino preveniu as hostes para que não esperassem um «Pulp Fiction 2», e fez bem, porque quem tivesse tais expectativas iria vê-las despedaçadas. É sempre negativo ir com ideias feitas para a sala de cinema, mas neste caso particular, com a importância de «Pulp Fiction» e «Reservoir Dogs», que sozinhos conseguiram criar o termo "tarantinesco", e dezenas de filmes onde aplicá-lo, era difícil ir totalmente em branco. Há quem acuse Taratino de não passar de alguém que devorou algumas centenas de filmes, e que a indigestão o leva a vomitar scripts que não passam de adaptações, colagens, "homenagens". É inevitável que existam referências passadas que marquem, tácita ou expressamente, cada nova obra cinematográfica e Tarantino faz o que faz extremamente bem, nomeadamente ao nível da escrita dos diálogos. Neste capítulo, Spike Lee não concorda, porque considera que só genuínos "niggers" é que podem usar a palavra "nigger". Desconhece-se a sua opinião sobre mudafucka, broda, ho e outros termos característicos do grupo racial socialmente delimitado em questão (num modo qualificativo muito PC).

Costuma dizer-se que Hollywood raramente dá papéis importantes a mulheres ou a negros. De uma assentada só, Tarantino – também famoso pelos castings de celebridades esquecidas – faz um filme com uma mulher negra no papel central (uma alteração relevante ao livro de Elmore Leonard). Se o filme fizesse metade do dinheiro de, digamos, o Filme do Barco, não nos livrávamos de uma dezena de filmes nulos comandados por mulheres negras. A cor de «Jackie Brown» tem relevância fundamentalmente a dois níveis; diálogos e a referência à blaxploitation, de que a banda sonora também faz eco (inclui canções interpretadas por Foxy Brown, uma personagem de Grier no filme homónimo). De qualquer forma, os trabalhos dos actores não se separam em cores. É difícil de apontar momentos menores por parte de qualquer um deles. Das boas interpretações será mais fácil de notar o trabalho de De Niro, uma vez que o registo é muito diferente daquele a que estamos habituados.

A duração do filme não será digerida totalmente por todo o público. O esforço do realizador para não ser estereotipado, tê-lo-á levado a arrastar demasiado alguns segmentos, com vista a esfregar-nos na cara que está mais preocupado com os personagens. De um modo geral, as inserções de pequenos flashbacks resultam (bem como a utilização do split-screen, muito em voga nos anos 70), mas a sequência da troca de sacos, com pontos de vista de vários personagens, denota algumas repetições a mais. O filme talvez resultasse melhor com menos 20 minutos ou meia hora.

O saldo é claramente positivo, e depois da blaxploitation (se bem que com pouca 'exploitation') seria curioso ver Tarantino a "atacar" outra das suas referências: o filme de acção de Hong Kong. Talvez com Chow Yun-Fat e… Danny Lee? OK, nem toda a gente sabe que «The Killer» é o nome de um filme. O tradutor não sabia, e o diálogo sobre os defeitos das .45 ficou um pouco fora de contexto. Aparentemente, o seu próximo filme é um western numa penitenciária. Um "western borboleta"(*), como Tarantino definiu.

(*) No original: "western papillon".

****
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