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O Oposto do Sexo/The Opposite of Sex
Realizado por Don Roos
EUA, 1998 Cor - 101 min.

Com: Christina Ricci, Martin Donovan, Lisa Kudrow, Lyle Lovett, Johnny Galecki, William Lee Scott, Ivan Sergei, Megan Blake, Colin Ferguson, Dan Bucatinsky

Dedee Truit (Ricci), uma adolescente precoce e manipuladora, decide abandonar o seu lar na Louisiana, com destino à casa do meio-irmão (que não vê há anos) no Estado do Indiana. Bill (Donovan) é professor no liceu e vive com o namorado, Matt (Sergei), numa casa herdada de Tom, com quem vivia antes da sua morte. Lucia (Kudrow), solteirona, irmã do falecido, é amiga próxima de Bill, por quem suspira em intervalos regulares. Dedee, sem quaisquer vestígios de escrúpulos, ou de algo que se possa chamar de moral, estuda a melhor forma de roubar dinheiro ao irmão, nem que para isso tenha de seduzir o namorado dele.

Num tom de gozo a um género de cinema muito popular nos anos 80, repleto de personagens-tipo juvenis, com problemas com a escola, álcool e drogas, os pais ou simplesmente a morrer de aborrecimento, cuja tendência era para um final em que o narrador - o jovem protagonista ou simplesmente aquele que servia para nos guiar pelo enredo - dizia algo como "não voltei a ser o mesmo/a depois daquele Verão", enquanto a música subia de volume e a câmara se erguia no ar, prenunciando os créditos finais. «O Oposto do Sexo» tem uma narradora mais auto-consciente da presença de uma plateia de cinema, à qual dirige frequentes provocações, de efeito variável.

Sem pretensões em ser demasiado sério, o filme de Don Roos deixa respirar os seus personagens, com os quais não podemos deixar empatizar, sejam maus ou bons e independentemente da sua orientação sexual. Mas parece que ninguém pode ser verdadeiramente mau num filme onde a adolescente viciosa é a "heroína". Ricci, é, claro, o centro de tudo, mas o restante elenco corresponde ao requerido. Kudrow retrata com esmero a mulher frustrada e neurótica que vê os anos passarem sem que conheça o homem ideal, e Donovan domina o homossexual "sério", no extremo oposto daqueles, de outros filmes, com problemas em "sair do armário" - é um cidadão respeitado e integrado na comunidade -, que é, ao mesmo tempo, a alma mais bondosa do mundo. Isto sem variar muito do registo que lhe conhecemos de outros filmes, em particular os que tem rodado com Hal Hartley (talvez caminhe para uma espécie de one-size-fits-all?)

«The Opposite of Sex» exprime um humor que pode ser considerado ofensivo para espectadores algo sensíveis (não será a palavra mais adequada, mas é a mais politicamente correcta), em particular no modo como se refere à homossexualidade (sempre jocosamente - como mero exercício mental, comparar com o tratamento radicalmente diferente do "tema" em «Velvet Goldmine», estreado na mesma altura) e no comportamento imoral e desrespeitador da menor (uma vergonha). Claro que o humor está acima disso tudo e o importante é apenas que funcione. Neste caso funciona e muito bem. A comédia é um género extremamente difícil, pelo que é sempre de louvar mais um filme com alguma imaginação e razoavelmente bem escrito. O final piora um pouco a apreciação global, mas nada é perfeito.

***1/2
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Publicado on-line em 18/6/99.