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Moulin Rouge
Realizado por Baz Luhrmann
EUA/Austrália, 2001 Cor – 128 min. Anamórfico.

Com: Nicole Kidman, Ewan McGregor, John Leguizamo, Jim Broadbent, Richard Roxburgh, Garry McDonald, Jacek Koman, Matthew Wittlet

Final do Séc. XIX, Paris. A cidade tem uma aura surreal e artificial, criada por computador, e toda a gente fala inglês. Christian (McGregor) é um pobre candidato a escritor que se mistura com um grupo de artistas boémios, de onde sobressai Toulouse-Lautrec (Leguizamo). Este vai convencê-lo de que tem o que é preciso para escrever um espectáculo que terá como cabeça de cartaz a estrela do Moulin Rouge, Satin (Kidman). Esta tem como função também seduzir potenciais financiadores e o Duque de Worchester (Roxburgh) está sob a mira do gerente Zidler (Broadbent). Durante a preparação do espectáculo, desenvolve-se um romance entre Christian e Satie. Esta vê-se confrontada com a necessidade de ceder às pretensões do financiador e a esconder a relação com Christian...

Nota: o texto que se segue utiliza estrangeirismos de modo gratuito.

«Moulin Rouge» é mais um remix de Baz Luhrmann, o qual não consegue ser tão eficaz e sedutor quanto o agradável «Romeo + Juliet». Uma das razões é, desde logo, um dos filmes usar texto de William Shakespeare, enquanto o outro recorre a citações pop modernas, com ou sem propósito. «Romeo + Juliet» também oferecia uma componente visual nova, mas conseguia suster como o mais importante a história intemporal que lhe subjazia. «Moulin Rouge» é a vitória da forma sobre o conteúdo. Não há dúvida de que o cineasta debruçou mais tempo e considerações sobre o look do filme e sobre a inserção de citações pop “engraçadas” do que a delinear personagens convincentes e uma narrativa com força suficiente para que o espectador não passasse mais de duas horas a pensar na falta de conforto das cadeiras.

Uma parte considerável dos diálogos de «Moulin Rouge» surge na forma de letras de canções pop, do mais popularucho ao kitsch, passando pelo grunge ou pelo glam rock. O mais básico mau gosto – como o insuportável “voulez vous coucher avec moi” ou qualquer coisa de Madonna – não seria suficiente para nos preparar para este resultado, uma vez que, como Almodóvar tantas vezes demonstrou, o kitsch e o “chunga” podem constituir uma tela interessante para um obra cinematográfica com alma. O problema é o conteúdo.

No filme de Luhrmann as câmaras são frequentemente virtuais e rodopiam em redor de cenários digitais, com perspectivas e escalas irreais. As situações baseiam-se com frequência em humor slapstick. A mise en scene é flashy q.b. Uma verdadeira montanha-russa visual e de humor (não muito bem sucedido). Mas eis que, a determinada altura, o realizador a bater o pé por detrás do monitor e a rir-se com as infindáveis citações pop, se decide sentar num sofá confortável, coloca a mão no queixo e tenta lembrar-nos de que queria mesmo era fazer uma tragédia romântica. Chorem um bocadinho, vá lá. Os dois personagens centrais, transportados para outro cenário, com poucas alterações, podiam dar azo a algo substancialmente diferente, mas isto deve-se às qualidades dos dois actores.

Na falta de substância poderemos encontrar (rebuscar?) uma bipolaridade entre o ingénuo romântico Christian e a moralmente corrupta Satin, cujo nome (setim) para além da sedução, do erótico, pode invocar por semelhança fonética, Satan. Ou Cristo a enamorar-se de Satanás, do mal, a convertê-lo e a levá-lo à sua perdição. No final – que é anunciado logo no início, note-se – parece que uma mensagem pode ser que a imoralidade é castigada e que o imaculado aprendeu a lição e vai-se portar melhor para o futuro.

A piorar, a componente visual do filme foi prejudicada com uma projecção grosseiramente mal focada no Monumental 1. Um sistema de focagem por laser ou um oftalmologista podem fazer parte da solução para estas situações.

**
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Publicado on-line em 22/10/01.