cartaz
comentários
coluna
secção informativa
favoritos
arquivo

index

Romeu & Julieta/William Shakespeare's Romeu & Juliet
Realizado por Baz Luhrmann
EUA, 1996 Cor - 120 min. Anamórfico
Com: Leonardo DiCaprio, Claire Danes, Brian Dennehi, John Leguizamo, Pete Postlethwaite, Paul Sorvino, Diane Venora, Harold Perrineau, Paul Rudd, Jesse Bradford

Baz Luhrmann traz-nos mais uma interpretação da clássica peça de William Shakespeare, verdadeiro símbolo universal do amor impossível. Outras versões foram feitas em 1936 (George Cukor), 1954 (Renato Castellani), 1966 (Paul Czinner) e 1968 (Franco Zefirelli), sendo a última talvez a mais conhecida, e tendo o mérito de utilizar nos papéis principais actores de 17 e 15 anos. Existiram ainda imensas histórias inspiradas na obra de Shakespeare como "Romanoff and Juliet" de Peter Ustinov (e escrito, interpretado e baseado na sua peça).

Luhrmann conduz uma adaptação moderna do texto. Não se procura uma boa adaptação da peça, no sentido de manter a fidelidade à concepção original - nesse caso ter-se-ia fracassado - mas sim rever e transpor a história para os tempos modernos, através de uma linguagem que as novas gerações possam absorver facilmente. Tal não significa apenas que se coloquem os personagens nos anos 90. Antes pelo contrário, a acção passa-se num mundo aparte do nosso, em termos de espaço e de tempo - Verona Beach. A cidade parece qualquer grande cidade americana, com os seus arranha-céus, destacando-se os edifícios das grandes empresas dos Capuleto e dos Montechio - aqui dois grandes industriais -, e nas ruas os habitantes envergam roupas, parte gang punk, parte drag queen, criando uma atmosfera algo trash. As espadas são agora revólveres, e são estes que se interpõem nas querelas entre os dois gangs rivais.

Por toda a parte existem símbolos religiosos a começar pelo que separa os dois nomes no título do filme, e que nos leva a questionar se o filme não se chamará antes "Romeo + Juliet". Será um claro símbolo da imutabilidade que o cristianismo representa (o amor como compromisso inquebrável abençoado por Deus, para referir apenas a perspectiva positiva do adjectivo).

Recorre-se a um catálogo completo de pirotecnia com as câmaras e com a montagem, incluindo-se algumas sequências que quase parecem animação, com a imagem exageradamente acelerada ou com cortes temporais súbitos. É a linguagem do video-clip, da TV, ou seja é um "Romeu e Julieta" pop, temperado com rimas originais de Shakespeare.

No meio de todo o aparato, a história é a mesma de sempre. Amantes de famílias rivais, o amor impossível e a tragédia final. No fundo é também o exacerbar do amor físico (Romeu desiste do amor de outra, e ambos se entusiasmam pela mera aparência um do outro). O resultado final é satisfatório (supõe-se que as risadas da audiência nos momentos dramáticos sejam meros reflexos pavlovianos do Síndrome Sitcom, vulgo imbecilidade). DiCaprio e Danes são, como diria Shakespeare hoje, "um casalinho tão querido!".

Lurhmann concretizou eficazmente aquilo que comummente se diz do autor intemporal, de nunca se ter preocupado muito com fidelidade histórica e de sempre se dirigir ao grande público. Só isso, justifica a validade desta adaptação ao formato cinematográfico e ao público dos nossos dias.

A pequena aura 'trash' de "Romeo & Juliet" foi aprimorada por um processo transformista por Lloyd Kaufman no seu "Tromeo & Juliet" (claramente um gozo directo ao primeiro); a única adaptação, até ao momento, com desmembramento, body piercing e kinky sex. Ou seja, todas as coisas que fizeram Shakespeare grande.

A banda sonora inclui Garbage, Gavin Friday, Butthole Surfers, The Cardigans, Radiohead, The Wannadies, Des'ree e uma versão gospel de "When Doves Cry" de Prince, por um grupo de coristas infantis.

images/frame.gifimages/frame.gifimages/frame.gifimages/meioframe.gif