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Homem na Lua/Man on the Moon
Realizado por Milos Forman
EUA, 1999 Cor - 118 min. Anamórfico.

Com: Jim Carrey, Danny DeVito, Courtney Love, George Shapiro, Paul Giamatti, Vincent Schiavelli, Peter Bonerz, Jerry Lawler, Gerry Becker, Leslie Lyles, J. Alan Thomas, Bob Zmuda

Biografia do comediante americano Andy Kaufman (1949-1984). Andy desde muito cedo mostra interesse pela arte de entreter audiências; em criança preocupa os pais ao representar para o papel de parede. A grande oportunidade de Kaufman (Carrey) surge quando é descoberto num clube nocturno, por George Shapiro (DeVito), na altura agente de talentos. Não se considerando um "comediante" - afirmou nunca ter contado uma anedota na vida - Kaufman procura sobretudo jogar com as expectativas da audiência, indo sempre o mais longe possível com as suas partidas elaboradas, recusando inclusive, em algumas situações, admitir tratar-se de humor. As suas atitudes pouco convencionais levam-no a lutar com directores de canais de televisão e até com o público, neste caso literalmente.

Hey, Andy did you hear about this one? Tell me, are you locked in the punch?
Hey Andy are you goofing on Elvis? Hey, baby. Are we losing touch?
If you believed they put a man on the moon, man on the moon.
If you believe there's nothing up my sleeve, then nothing is cool.

Man on the Moon, R.E.M.
Andy Kaufman é praticamente desconhecido em Portugal, onde, estranhamente ou talvez nem por isso, a série "Saturday Night Live" nunca foi exibida. A sua presença nos nossos écrans ter-se-á reduzido a um personagem secundário da série "Táxi", onde contracenava com actores como Danny DeVito e Christopher Lloyd. «Homem na Lua», a sua biografia cinematográfica, toma muitas liberdades factuais e cronológicas, confessam os argumentistas, Scott Alexander e Larry Karaszewski. A dupla, que assinou outro par de biografias de personagens peculiares, «Ed Wood» (1994) e «The People vs. Larry Flynt» (1996) tornou-se relativamente popular depois do filme de Tim Burton, recebendo uma infinidade de propostas para novas cine-biografias, incluindo sobre as figuras dos Village People, Linda Lovelace, Charles Manson e até de "um tipo que lutava com ursos dentro de um fato de robot".

Existiu uma grande proximidade das pessoas que circundaram Kaufman na produção do filme de Milos Forman, tendo tido, desde logo, a colaboração preciosa de Lynne Margulies, companheira do biografado nos últimos dois anos da sua vida (no filme é retratada por Courtney Love). Esta proximidade resulta numa certa confusão. Algumas pessoas representam o seu próprio papel, como o lutador de wrestling Jerry Lawler, David Letterman e grande parte do elenco da série "Taxi". Mas DeVito não podia interpretar-se a si próprio já que estava na pele de Shapiro, que, por seu lado, surge como o dono de um clube. Bob Zmuda surge também num papel secundário, enquanto o seu papel de colaborador de Kaufman fica nas mãos de Paul Giamatti (um óptimo secundário, que também tem uma presença importante noutro filme sobre alguém que força os limites do seu meio, Howard Stern, em «Private Parts/O Rei da Rádio», de 1997)

«Man on the Moon» permite vários níveis de apreciação, e os primeiros decepcionados poderão ser aqueles que apenas o irão ver pela presença de Jim Carrey, o tal actor "injustiçado" pelos Oscars (como se os prémios da Academia estivessem ao serviço de ideais de Justiça). O filme não se restringe ao humor dos números e partidas de Andy Kaufman, elevando-se a um ensaio sobre a identidade do "personagem" (e a figura de Tony Clifton dá aqui um contributo valioso). Os argumentistas aperceberam-se de que tentar descobrir "o verdadeiro" Andy Kaufman seria entrar num beco sem saída; a própria Lynne Margulies afirmaria que "o Andy verdadeiro não existe". O homem por detrás da máscara não existiu porque ele era a própria máscara…? Seja como for, há algo neste filme que nos prende, bem para lá do humor - a história de um homem que desejava inovar, entreter, enganar, ultrapassar limites e convenções, mas também a história de um personagem carismático fadado a desaparecer demasiado cedo.

A banda sonora é dos R.E.M., cuja canção de 1992, escrita como homenagem a Kaufman, dá titulo ao filme. Mais do que pedir autorização para a utilização desse título, Milos Forman optou por encomendar o serviço completo.

****1/2
classificações

Publicado on-line em 19/3/00.