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O Rei da Rádio/Private Parts
Realizado por: Betty Thomas
EUA, 1997 Cor - 109 min.
Com: Howard Stern, Robin Quivers, Mary McCormack, Fred Norris, Paul Giamatti, Jackie Martling, Gary Dell'Abate, Carol Alt, Richard Portnow, Kelly Bishop, Henry Goodman, Jonathan Hadary

Howard Stern é o mais famoso DJ da rádio americana. Apareceu com sucesso em espectáculos ao vivo e na TV, escreveu um livro que foi um best-seller, e agora é o actor que representa o seu próprio papel na respectiva adaptação cinematográfica. Por algum motivo se auto-proclamou King of All Media, algo que o distribuidor português adaptou para evitar o embaraço(?) de uma tradução literal do título do filme.

Howard Stern conta a sua história. Desde muito novo que queria fazer rádio. Começou numa emissora local, onde lhe disseram que não tinha voz nem carisma. Gradualmente sentiu que tinha de libertar-se, falando de tudo o que lhe viesse à cabeça, incluindo pormenores da sua intimidade, o que levaria a inevitáveis problemas com a sua mulher, Allison (McCormack). É com Robin Quivers e Fred Norris (os próprios) que vai formar a equipe que iria vencer na NBC.

«Private Parts» é um exercício tão egocêntrico que quase irrita. O nome perfeito talvez fosse «Howard Stern», já que o filme é sobre ele, escrito por ele, interpretado por ele. Faltou mesmo tentar a realização, mas como Stern está 99% do tempo em frente das objectivas, a tarefa seria extremamente exaustiva. Para cumprir a tarefa, da forma mais inodora possível - o que é adequado para o tom documental do filme, e, de qualquer forma, só há espaço para uma pessoa brilhar -, foi chamada a realizadora Betty Thomas, que, há 10 anos atrás, foi a agente Lucy Bates, dos Hill Street Blues (A Balada de Hill Street).

Mas porquê reclamar? Afinal o que está em causa é mesmo a vida dele.

A falarmos em dramas ou dilemas, presentes no filme, teríamos de nos resumir à questão da "identidade". O personagem Howard Stern - e o seu humor abaixo da cintura, racista, homofóbico, utilizando com frequência todas as 7 Palavras Proibidas em Rádio nos EUA e mencionando órgãos íntimos e suas excrescências - é diferente do homem Howard Stern, dedicado pai de família? Afinal como estabelecer a separação, quando Stern faz humor com a regularidade com que tem relações com a mulher, disserta sobre o tamanho do próprio pénis ou procura gargalhadas numa gravidez que correu mal?

«Private Parts» terá, forçosamente, de ser apreciado de forma diferente por quem não conhece o personagem. Ou seja, toda a gente fora dos EUA. O filme consegue atingir esses espectadores, porque não se preocupa apenas em ser uma biografia, mas também em ser uma comédia. Convenhamos; tem muita graça. O momento em que a equipa luta contra a censura com jogos de palavras (---- a doodle doo?) é verdadeiramente hilariante, apesar da tradução atrapalhar um pouco (se for possível há que ignorá-la, para melhor efeito).

Como objecto cinematográfico não há nada a assinalar, e como se disse, parece que o tom é o ideal. Aliás, mesmo os raros formalismos - como o efeito de zoom no encontro com a futura esposa - podiam perfeitamente ficar de fora. Como ilustração de um texto divertido «Private Parts» venceu. Aqui, como sempre, tudo depende do humor que o espectador aceita. Se concebe rir-se com desmanchos, tumores, sexismo, racismo e mau gosto em geral, é meio caminho andado.

É possível que este filme bata o recorde dos actores que fazem o próprio papel. Dos principais, apenas a mulher de Stern ficou de fora, preferindo aparecer apenas, fugazmente, como uma telefonista da NBC. Pelo sofrimento que o seu personagem parece suportar e pelo seu desejo de manter as questões pessoais fora do trabalho de Stern, mesmo isto faz sentido. Sem referência nos créditos, surgem também David Letterman e Mia Farrow. A completar a atmosfera de gozo, os créditos finais desprezam as pessoas mais apressadas em sair da sala. Várias vezes.

****
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