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Dead End - Terror Sem Fim/Dead End
Realizado por Jean-Baptiste Andrea e Fabrice Canepa
França/EUA, 2003 Cor — 89 min.

Com: Ray Wise, Alexandra Holden, Lin Shaye, Mick Cain, Billy Asher, Amber Smith, Karen S. Gregan, Sharon Madden, Steve Valentine

Poster
Tal como nos anos anteriores, na véspera de Natal, Frank Harrington (Wise) leva a família até à casa dos sogros. A seu lado, viaja a mulher, Laura (Shaye); no banco de trás, os filhos, Marion (Holden) e Richard (Cain). Entre eles, o namorado de Marion, Brad (Asher). Farto do caminho de sempre, Frank decide sair da auto-estrada e seguir pela estrada nacional. Apesar do sono, insiste em ser apenas ele a conduzir, o que dá origem a um incidente, após o qual concluem que se perderam. Na estrada, encontram uma misteriosa mulher de branco (Smith) que traz a morte com ela. A estrada parece não ter fim.

«Dead End» tenta ser um filme de horror "á antiga", algo que está em moda, na altura em que estreiam entre nós «Wrong Turn» e o remake de «A Texas Chain Saw Massacre» (1974). Temos aqui dois sinais de trânsito, que, infelizmente, não levam a lado nenhum, mas, se a moda pegar, podemos talvez esperar um «Sentido Proibido» ou, quem sabe, «Obrigatório Circular com os Médios Acesos dentro do Túnel». A utilização da expressão "á moda antiga" refere-se a um estilo mais duro e sério, característicos do cinema de horror americano nos anos 70 e início dos anos 80 pouco interessados num entretenimento light, fabricado de forma a não incomodar ninguém. Infelizmente, nos dias de hoje, há menos um seguir de "tendências" do que a imitação dos mecanismos que se demonstraram bem sucedidos comercialmente. Assim, se por um lado se preza que ainda se façam filmes de horror que se levem a sério, sem que sejam retemperados por graçolas patetas constantes, lamenta-se que não se comece por desencantar um argumento sólido e credível.

Dead End Dead End

«Dead End» começa por ser um exercício interessante, ao tentar suster a quase totalidade de um filme num único cenário. Mas começamos muito mal, com personagens decalcadas de filmes de horror medíocres, uma tensão familiar que nunca chega a convencer e um jovem irritante, que não para de fazer comentários despropositados. Não se foge à tendência para colocar personagens a vaguear sozinhas pela estrada ou pela floresta, pela simples conveniência do argumento, pois têm que entrar naquela cena sozinhos. E, hoje em dia, quais são as probabilidades de num carro com cinco pessoas apenas uma ter telemóvel?

Antes de chegarmos a meio do filme, a narrativa já se encontra esgotada. Há ali material para um curta ou um episódio de série televisiva. Esta situação talvez já merecesse uma denominação própria, tendo em conta a quantidade de filmes que se produzem com base num conceito insuficientemente desenvolvido e que precisam de muita "palha" para encher 80 ou 90 minutos. Não se consegue também fugir ao típico “final surpresa” e contra-surpresa, com pouco ou nenhum sentido. Os créditos agradecem-nos ficar por ali a lê-los, mas não deixamos de ficar com a sensação de que o tempo não foi lá muito bem empregue.

Dead End
Os franceses Jean-Baptiste Andrea e Fabrice Canepa, argumentistas e realizadores de «Dead End», assumem-se como fãs de David Lynch, de onde, em certa medida, surgiu a escolha de Ray Wise (pai de Laura Palmer em «Twin Peaks»). O duo procurou que fosse a tensão entre os membros da família a dar impacto dramático ao horror, ao mesmo tempo que se optou por criar horror com pouco ou nenhum gore, preferindo-se sugerir a mostrar. Infelizmente, apesar de existirem alguns bons momentos de suspense (o carrinho de bebé, o interior do barracão à beira da estrada, etc.), a ligação entre as várias cenas está mal construída. Por exemplo, é difícil de aceitar que, a certa altura, as personagens se aventurem pelo meio da floresta escura, sem pontos de referência. Os mecanismos com que se ilustra a tensão familiar parecem-nos quase sempre resultantes das necessidades imperativas do guião e não reacções naturais daquelas pessoas. Consegue-se criar alguma inquietude nos momentos em que as personagens estão à beira da insanidade e com a utilização de certas imagens e cenários recorrentes, o que sugere que «Dead End» poderia ser um bom filme, com mais surrealismo e loucura e com menos preocupações em tentar tornar credível uma família à procura da compreensão mútua, ensombrada pela proximidade da morte.

**
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Publicado on-line em 28/3/04.