«Crash» CENSURADO

É importante que isto seja divulgado. CRASH de David Cronenberg, um filme de que se falou demais, e que teve um ano para estrear em países com sistemas de CENSURA, nomeadamente os EUA e o Reino Unido, devido ao seu conteúdo "problemático", "polémico" e "adulto", foi editado em Portugal pela editora dominante do mercado vídeo - LUSOMUNDO Audiovisuais, S.A. - numa versão CENSURADA.

CRASH tem 100 minutos. Em vídeo Pal - devido à aceleração do sistema - deveria ter 96. A cassete de aluguer da LUSOMUNDO tem 86 minutos.

Nos EUA o filme foi exibido na íntegra classificado com NC-17. A Blockbuster Vídeo recusa-se a lançar filmes com essa classificação, e como o vídeo representa cerca de 70% dos lucros dos filmes nesse país, e essa empresa detém 20 ou 25% do mercado, fez-se uma versão R apenas para as suas lojas. Essa versão terá cerca de 10 minutos a menos.

Será que a LUSOMUNDO conseguiu arranjar essa raríssima versão retalhada de CRASH?

A minha memória não me permite enumerar 10 minutos de cortes na cópia portuguesa, mas recordo-me claramente de duas cenas que se viram na cópia cinematográfica e que estão CENSURADAS no vídeo.

1. Uma cena de sexo entre James Spader e Deborah Kara Unger, com nudez frontal da actriz.
2. Na cena final o 'fade-out' entra antes do tempo. O plano final mostra os corpos inteiros dos actores acima referidos, na relva junto ao Porsche acidentado. Na cópia CENSURADA da LUSOMUNDO a última imagem é um enquadramento de ambos da cintura para cima. Isto é, deixa de haver sequer sugestão de sexo.
[ Nota: Estes pontos estão desactualizados. Leia os pormenores da comparação entre versões, em «Crash» Corte a Corte, de Março de 98 ]

Não me recordo do que mais poderá estar cortado. Mas é inegável que faltam cerca de 10 minutos.

Portugal não tem nada a ver com os motivos económicos e sociais que justificam CENSURA em países como o Reino Unido e os EUA. Em Portugal não há censura oficial desde 1974. Portugal não precisa de importar censura. Aceitar a censura é tão grave como impô-la.

A LUSOMUNDO deve retirar todas as cópias CENSURADAS de CRASH do mercado e pedir desculpas públicas por tão grave acção. Enquanto o não fizer não deveríamos gastar um tostão com qualquer produto com a sua marca, sejam jornais, emissoras de rádio, filmes em sala ou em cassete (ou na TV se forem identificados como daí provenientes), ou sacos de pipocas e refrigerantes.

Espero que seja claro que não é importante se se gosta ou não do filme em questão.

Esta é apenas a minha opinião perante factos que lamento, não tendo qualquer intenção de lesar, por qualquer forma, pessoas ou empresas referidas. Neste momento sou eu que estou lesado num aluguer de 350$00. Os danos morais são inqualificáveis.

Enviado para pt.geral e pt.rec.artes, para os jornais Público, Diário de Notícias, Jornal de Notícias e Independente por e-mail.

18/8/97


Na Usenet referiu-se que o semanário Expresso já havia mencionado a censura de «Crash», semanas atrás, apresentando-se mesmo as desculpas da Lusomundo. No entanto, ao que parece, as desculpas resumiram-se a dizer que a cópia de venda directa será a versão original. Isto é, ninguém se importa que a versão censurada continue no mercado. Aguardam-se novos desenvolvimentos. Por mim, a comprar, será uma versão importada, assim que confirmar que, como as cópias cinematográficas, essa versão esteja imaculada. Para além de não interessar dar dinheiro a quem edita filmes censurados, também é notório que a Lusomundo - como as restantes editoras - só edita filmes em formato original por acidente (trocadilho intencional).

20/8/97

A Lusomundo justificou do seguinte modo a edição de um filme censurado:
- Era a única cópia disponível na altura, porque Portugal foi dos primeiros países a editar «Crash» em vídeo.
E acrescenta que já existem outras versões "mais longas", e que na altura da edição em venda directa será escolhida a "mais longa".

Conclusão:
A Lusomundo acha naturalíssimo editar filmes censurados. A Lusomundo escolhe filmes para editar como quem vai ao supermercado e não tem consciência de algo chamado "censura". A Lusomundo subtilmente sugere que outros distribuidores, em outros países, são igualmente irresponsáveis (ou aceitam a censura) e não sabem o que editam, bastando para isso terem sido dos primeiros a editar o filme. A Lusomundo vai editar uma cópia qualquer em venda directa e a censurada vai permanecer nos clubes de vídeo. A Lusomundo acredita que os filmes crescem com o passar do tempo.

29/8/97

images/crashunger.jpg

Imagem de uma longa sequência CENSURADA na cópia Lusomundo, referida no texto acima. A imagem foi retirada do site da Alliance, produtora do filme.

Leia as sequelas: (1) «Crash»: O Equívoco Continua e (2) «Crash» Corte a Corte (Março 98)

Outros artigos sobre censura em Portugal:
SIC, Censura e «A Última Sedução»
Um Vídeo Anormal


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