Crash: o "Equívoco" Continua

Como os leitores mais atentos terão presente, a Lusomundo editou o filme «Crash», de David Cronenberg em aluguer numa versão censurada. Esta cópia com menos 10 minutos, é uma verdadeira raridade, já que foi remontada apenas para a cadeia americana Blockbuster Vídeo, que se recusa a distribuir filmes com a chancela NC-17, para adultos, por defender que todos os filmes devem ser "para a família". Esta versão foi fabricada para obter um R, que permite que menores vejam os filmes desde que acompanhados pelos pais, e que, para algumas pessoas nos EUA, parece implicar que o filme deixa de ser imoral e pervertido.

Na altura, a Lusomundo lamentou o facto e disse tratar-se de um engano, não revelando, no entanto, como é que se conseguiu desencantar tal raridade. A justificação de que era a única cópia disponível no mercado até pode ser plausível, por muito nos interroguemos porque é que uma cópia feita a partir de outra surja primeiro no mercado que a original. No entanto, a Blockbuster é grande, os estúdios atiram-se a seus pés, e tudo é possível neste mundo, até terem preparado uma versão de bandeja antes do filme oficial sair em vídeo. Se havia possibilidades da Lusomundo desconhecer que a cópia era censurada é outro assunto. Duvida-se muito, e os senhores também não estão interessados em convencer-nos do contrário. Infelizmente, o filme não atrai grandes audiências, e eles podem dar-se ao luxo de, mais ou menos, ignorar a questão.

A distribuidora também informou que para a venda directa seria lançada a cópia "mais longa disponível nessa altura". Não se sabendo quanto é que o filme cresceu neste período, pôde-se deparar com cassetes à venda que em nada sugeriam ser diferentes das de aluguer. Na verdade eram completamente idênticas, incluindo a referência à duração: "86 minutos". Assim, Pedro Polónio, um interessado na compra do filme questionou a Lusomundo via e-mail, sobre o conteúdo da dita cassete, de onde lhe foi respondido que poderia ficar descansado porque "o vídeo que se encontra actualmente no mercado de venda directa é o mais fiel possível à cópia original".

No entanto, colocando a cassete no leitor de vídeo, o consumidor não se mostrou propriamente satisfeito. A cópia continuava a ser censurada. Reclamando para a Lusomundo, os serviços mostraram-se, aparentemente, surpresos questionando sobre o local onde o filme foi comprado (por acaso uma das maiores lojas de Lisboa, a Valentim de Carvalho), e prestando-se a substituir a cassete. Aparentemente a resposta da Lusomundo foi estimulada pela referência constante à palavra "censura" nesses contactos, se bem que esses serviços nunca usassem a dita de volta.

Sim, a versão completa existe mesmo. E diz "Versão Integral" na capa da cassete e "96 minutos", na parte de trás da mesma, equivalentes ao tempo real da versão oficial (100 minutos, sem a aceleração do sistema PAL). Por um lado é bom, porque existe finalmente uma versão não-censurada no mercado, mas por outro pode ser algo decepcionante; afinal o filme não cresceu desde que foi feito como era sugerido? Mais um mistério.

No ar ficarão as habituais questões:
Foram postas duas versões à venda? Tentaram-se vender primeiro algumas censuradas já feitas por engano (outra vez)? O mercado português é uma verdadeira "Twilight Zone"...

De resto, não se aproveitou para editar o filme no formato original (sem o que não é muito legítimo usar adjectivos como "integral").

(À altura da finalização deste texto continuavam a existir as duas versões à venda. Beware!)

9/3/98

Página da Lusomundo na Internet: http://www.Lusomundo.pt
E-mail: Lusomundo.pt@mail.telepac.pt


Este texto segue «Crash» Censurado (Agosto 97) e é concluido em «Crash» Corte a Corte (25/3/98)

Outros artigos sobre censura em Portugal:
Um Video Anormal(«Normal Life»)
SIC, Censura e «A Última Sedução»


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