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Virgens de Sangue/Cherry Falls
Realizado por Geoffrey Wright
EUA, 1999 Cor – 92 min (R), 100 min. (v. original)

Com: Brittany Murphy, Michael Biehn, Gabriel Mann, Jesse Bradford, Jay Mohr, Douglas Spain, Keram Malicki-Sanchez, Natalie Ramsey

Em Cherry Falls, uma pequena cidade do interior americano, inicia-se uma série de crimes violentos, que ceifam a vida de vários adolescentes. O assassino parece ter decretado guerra a rapazes e raparigas virgens, o que leva os estudantes do liceu a organizarem uma orgia, para ficarem livres de perigo, algo que não é visto com bons olhos pelos patriarcas da comunidade.

«Cherry Falls» é um slasher pós-«Scream» algo tardio. As audiências de hoje estão mais receptivas a filmes de horror mais cerebrais e menos viscerais, como «O Sexto Sentido». Os seus defeitos não se prendem com essa descoordenação com o mercado – até porque já tem um par de anos – mas com a falta de sustentação do seu desenvolvimento narrativo. A ideia é curiosa, mas o filme acaba por não ir muito mais longe do que isso. Contrariando o velho cliché moralista do assassino que trucida adolescentes marotos (tiques de género popularizados com «Halloween» ou «Sexta-Feira, 13»), em «Cherry Falls» quem está em perigo são aqueles que evitam “ir até ao fim”. Isto possibilita uma série de situações humorísticas, culminando com o referido movimento organizado para colocar toda a gente fora do grupo de risco. É entrar e escolher o par.

Durante grande parte do filme torna-se difícil entender se os cineastas se estão a levar a sério ou não. De um ou de outro modo, o resultado não é grande coisa. É notório que muita coisa é levada na galhofa (desde logo o nome da terreola, no Estado da Virginia) e que há a característica auto-consciência das convenções do género, patentes em muitos dos filmes de horror produzidos nos últimos anos. Mas, como muitas destas obras, «Cherry Falls» acaba por se tornar indistinto dos subprodutos que satiriza.

O filme de Wright – realizador do célebre «Romper Stomper» – falhou no mercado americano, de modo que um certo “low profile” o acompanha por onde quer que estreie. Aparentemente, começou por passar na TV e estas dificuldades poderão estar na origem de uma remontagem destinada a aligeirar a violência e a permitir o certificado “não recomendável a menores de 17” (R), que, na prática, permite a entrada a todos os públicos, desde que acompanhados por um responsável adulto. Desconheço se é esta a versão que estreou cá, mas a que foi projectada no Fantasporto – sem legendas em português na película – parecia ser a mais familiar, apesar de o filme estar registado no catálogo com 100 minutos,.

É impossível prever se o filme seria melhor com mais 10 minutos, mas é natural que se tornasse um pouco mais coerente. O segmento final não consegue fugir às explicações minuciosas da praxe, para justificar a matança, e estas são tão forçadas e ilógicas que até metem dó. De qualquer modo, pouco depois, o assassino(a)(os)(as) deixa de ser selectivo, e a (suposta) motivação deixa de importar. É também inevitável que assim que o seu rosto se torna conhecido, este (a/s/as...) se torne bem mais frágil e desajeitado.

«Cherry Falls» foi visto por alguns como um filme de horror refrescante, mas, quanto a mim, não passa de um produto banal, com a parca originalidade confinada à sua premissa. Para incondicionais do género, que tenham de ver tudo o que estreia.

*1/2
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Publicado on-line em 1/04/01.