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Em Carne Viva/Carne Trémula/En Chair et en Os
Realizado por Pedro Almodóvar
Espanha/França, 1997 Cor - 100 min. Anamórfico
Com: Liberto Rabal, Javier Barden, Francesca Neri, Angela Molina, Pepe Sancho, Pilar Bardem, Penelope Cruz, Pilar Bardem, Alex Angulo

Nascido nas trevas do Franquismo, Victor (Rabal) é um entregador de pizzas de 20 anos a quem a sorte não parece sorrir. De uma noite de folia guarda o número de telefone de Elena (Neri), mas quando a procura as coisas correm mal. A insistência para que ele lhe desapareça da frente, cedo se torna no menor dos problemas. Dois polícias entram em cena. Sancho (Sancho) aparenta ter problemas com o álcool e com a mulher, Clara (Molina). Uma bala que atinge o colega, Javier (Barden), irá estar na origem de todos os problemas futuros destes cinco personagens. Anos depois do disparo, Victor cumpre pena e sai a odiar quem considera responsável. Javier culpa Vitor pela sua diminuição física. Sancho continua a reagir agressivamente à infidelidade da mulher (ou a mulher reage com infidelidade às agressões).

«Carne Trémula» é uma incursão de Pedro Almodóvar fora do seu registo habitual. O "estilo Almodóvar" poderia saturar muitos dos seus fiéis - ou ao próprio, porque não? -, e o realizador optou por pôr de parte todos os tiques da sua imagem de marca, que talvez fossem contraproducentes nesta adaptação cinematográfica do livro de Ruth Rendell. Tal não invalida que o filme tenha, aqui e ali, uma série de deixas num tom muito usual na anterior cinematografia, como o comentário de Victor sobre a herança materna. Este personagem, a que a início somos levados a não gostar, não pode também de deixar de nos fazer pensar no de Antonio Banderas em «Ata-me».

Mas, para além dos aspectos referidos, «Em Carne Viva», é um thriller clássico, com algum apelo internacional (o extenso "product placement" e a co-produção com França, podem ter dado uma mãozinha). Centrando-se em cinco personagens, e pondo de parte as usuais ramificações com os secundários, Almodóvar tece uma complexa teia sentimental, de ódios, violência, paixões e vingança, onde nem tudo é o que parece, e onde o importante para o desenvolvimento da narrativa é o que cada um sente dentro de si (onde o espectador não tem entrada imediata). Com grande engenho narrativo, somos levados a sentir pelos diversos personagens uma multiplicidade de sentimentos, desde a simpatia à censura, nem sempre se tornando claro quem é "herói". Esta recusa em apresentar seres totalmente transparentes, definidos ab initio, enriquece substancialmente a caracterização destas cinco pessoas em choque com os outros e consigo próprios. Parecem agir em função do que sentem e não em função do argumento que está escrito.

Na sequência do que se referiu como "thriller internacional", estão outras características de produção em «Carne Trémula»: o formato scope (Panavision), usado pela primeira vez por Almodóvar, e o som digital. O espaço é importante, e como a concepção dos planos é radicalmente diferente a partir do momento em que a lente scope é colocada na câmara (a TV tende a "resolver" estas disparidades), é bom constatar que o realizador se adaptou bem ao formato mais largo. O sucesso do filme trará mais uma série de convites vindos de Hollywood, que se espera que continuem a ser recusados. De contrário, terá alguém por detrás, sempre a sugerir que aproxime os actores do centro do plano, para que se cortem melhor os extremos na cópia vídeo. Além do, mais já existem demasiados realizadores americanos, sejam eles alemães, franceses, britânicos ou de outra nacionalidade qualquer.

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