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Buffalo '66
Realizado por Vicent Gallo
EUA/Austrália, 1998 Cor - 96 min.

Com: Vincent Gallo, Christina Ricci, Ben Gazzara, Mickey Rourke, Rosanna Arquette, Jan-Michael Vincent, Angelica Huston, Kevin Pollack, Alex karras, John Sansone

Billy Brown (Gallo) sai da prisão com uma terrível vontade de urinar. Como não é o indivíduo mais descontraído do mundo, tem alguma dificuldade em encontrar um local satisfatório. Billy descreveu aos pais uma vida imaginária de sucesso profissional e estabilidade matrimonial, durante os anos que passou na prisão, pelo que decide convencer - à força - Layla (Ricci) uma jovem que encontra casualmente, a fazer-se passar pela sua mulher durante um jantar em família. Os pais Brown, Jimmy (Gazzara) e Janet (Huston), são ligeiramente desequilibrados, ao que acresce serem fanáticos pela equipa de football local, os Buffalo Bills.

«Buffalo '66» é a estreia de Vicent Gallo como realizador, e é, claramente, um projecto muito pessoal. Ele co-escreve o argumento (com Alison Bagnall) e a música original, a qual também interpreta. Esses acordes sobre as imagens fixas ou ordenadas em curtas sequências de meia dúzia de frames do trailer, tinham um poder sedutor que sem dúvida terá convencido uma considerável parte do público a ir até às salas de cinema.

Infelizmente o filme de Gallo não é tão bom filme, tanto quanto o trailer é um bom trailer. No entanto, o fosso não é tão radical quanto no caso de «For Ever Mozart» (1996) de Godard, com um trailer que era uma interessante curta metragem abstracta, visualmente estimulante, a promover um filme que raiava o insuportável. Aqui temos uma obra com momentos isolados muito bem sucedidos, mas com um conjunto que não se integra da melhor forma. Formalmente, o realizador tenta inovar, mostrar alguma criatividade e consegue-o, pontualmente, na medida em que os formalismos estéticos se adequam à expressão do conteúdo. São exemplos os planos em que os personagens que escutam estão focados no centro do écran, enquanto os que falam estão fora do enquadramento, ou as inserções dos flashbacks que "rasgam" a tela e se alargam até encher o écran.

«Buffalo '66» conta uma história com contornos dramáticos, centrando-se num homem demasiado maduro para ser tão ingénuo e tímido, algo que resultou da falta de carinho familiar (a mãe chega a lamentar os jogos que perdeu por sua causa). A sua frustração é tal que se convence de que tem de matar o jogador "responsável" pela sua desgraça - dívidas provenientes de uma aposta perdida -, por ter falhado um remate. Nunca tendo sido amado, Billy Brown mostra-se incapaz de amar. É para isso que surge a Layla de Ricci, claro. Mas quem é ela, porque se interessa por ele, quais os seus problemas? Sugere-se uma vida tão emocionalmente conturbada quanto a de Billy, mas falta algo mais para nos fazer acreditar no seu personagem (e não nos referimos ao facto de ela achar Gallo um homem atraente).

O filme é excessivamente centrado em Billy Brown, e, depois, há ainda um certo desequilíbrio entre comédia e drama. O tema é "sério", existem momentos de alguma hilaridade que se encaixam bem, mas outros são despropositados. Perto do fim - num momento de violência e simultânea beleza estética - questionamo-nos se aquilo é suposto ser engraçado (as caretas, o travelling sobre a imagem congelada). O remate é verdadeiro slapstick e depois percebemos que o clímax era um embuste. As coisas tornam-se então um pouco mais delico-doces e, entretanto, alguns já terão esquecido muitos dos bons momentos presenciados nas quase duas horas de filme.

Registam-se com agrado as breves presenças de Rosanna Arquette e de Mickey Rourke.

**1/2
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Publicado on-line em 19/4/99.