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Austin Powers: O Espião Irresistível/Austin Powers: The Spy Who Shagged Me
Realizado por Jay Roach
EUA, 1999 Cor - 95 min. Anamórfico

Com: Mike Myers, Heather Graham, Michael York, Robert Wagner, Seth Green, Mindy Sterling, Rob Lowe, Gia Carides, Verne Troyer, Elizabeth Hurley

O arqui-inimigo do agente secreto Austin Powers (Myers), Dr. Evil (Myers), congemina um complexo e vil plano que consiste em viajar aos anos 60, usando uma "máquina do tempo", para roubar o seu "mojo" - i.e., a sua virilidade - e, em seguida, colocar um "laser" na lua, exigindo ao presidente uma vasta soma de dinheiro para não destruir a Terra. Powers vai ser ajudado pela agente Felicity Shagwell (Graham). E é isso, basicamente.

Com uma máquina promocional muito bem oleada, o segundo Austin Powers superou facilmente o filme original em receitas, e confirma que o personagem de Mike Myers tem potencial para uma série infindável. Enquanto o humor não se esgotar, dir-se-ia, mas não são os filmes de James Bond fundamentalmente a mesma coisa com gadjets diferentes? O humor de Austin Powers não terá a mesma aceitação em Portugal que nos EUA ou no Reino Unido, e apesar de ter tido uma distribuição melhor do que o primeiro filme - mera consequência do estrondoso sucesso no outro lado do Atlântico - não admiraria que em pouco tempo a projecção se confinasse a um par de salas e que saísse de exibição pouco tempo depois. Este é também o primeiro filme gravado no novo sistema de som Dolby Surround EX a estrear entre nós, mas não parece que, pelo menos em Lisboa, tenha existido preocupação em usar as salas já convenientemente equipadas.

O humor de Powers segue uma linha que vem do «Wayne's World», pós-ZAZ, pós-pós-Python, desenvolvendo a fórmula "shit chique", muito bem sucedida em filmes como «There's Something About Mary» (1998), dos irmãos Farrely. O particular humor britânico bem do sul (da Califórnia) de Austin Powers funda-se na autoconsciência do mau gosto e do disparate, erguendo-os a extremos que para muitos serão difíceis de imaginar. Num filme meramente escatológico, as piada ficavam-se por, por exemplo, dizer que alguém havia deixado um "flutuante" na casa de banho. Em Austin Powers a cena prolonga-se através de uma "essencial" análise laboratorial. E assim por diante. E nas cenas mais repugnantes, Myers tem o mérito não só de conseguir fazer funcionar a maioria dos gags, mas também de o concretizar dentro de uma classificação etária amiga da audiência americana, onde o ridículo sistema levou a que no filme anterior se reduzisse uma pausa entre as palavras "pussy" e "cat".

O humor de «Austin Powers» poderá ser dividido em subcategorias:
a) a pura escatologia - baseado em excremento, falta de asseio e variantes;
b) trocadilhos marotos com palavras, como nos nomes dos personagens, com especial destaque para o inspirado Ivana Humpalot (Kristen Johnston, de "3rd rock From the Sun");
c) o ultra-silly - o nonsense, o tentar extrair humor de algo que à primeira vista não teria graça alguma, como a insistência interminável do Dr. Evil no "zip it zip it", ou o espião que confessa à terceira vez. Aqui, vem à memória o Garth de «Wayne's World», a dizer "I'm having fun" com o ar mais sério do mundo.

No fundo apreciar o filme passa sobretudo por apreciar (ou tolerar) o tipo de humor, e, dentro do género, o filme é bem sucedido.

Como o humor aqui presente se baseia em grande parte em trocadilhos de palavras, será difícil um pleno aproveitamento do texto tendo como única base a legendagem, a qual terá os seus momentos, mas necessitaria, como sempre, de um pouco de descontracção por parte do tradutor. Partindo do facto do título português não andar em redor de algo como «O Espião que me Comeu» ou «O Espião que me Saltou para a Espinha», ficando-se por um cinzentão e inócuo «O Espião Irresistível», poder-se-á ter uma ideia das limitações a encontrar.

Como sempre, poucos ficam até ao fim dos créditos, desperdiçando mais algumas gargalhadas. Claro que, a você em particular, caro(a) leitor(a), não é preciso chamar a atenção para estes pormenores.

***1/2
classificações

Publicado on-line em 21/9/99.