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Assassino(s)/Assassin(s)
Realizado por Mathieu Kassovitz
França, 1997 Cor - 134 min.
Com: Michel Serrault, Mathieu Kassovitz, Mehdi Benoufa, Robert Gendreu, Daniele Lebrun, François Levantal, Karim Belkhadra, Roland Marchisio, Félicité Wouassi, Nicolas Boukhrief, Donat Vidal-Revel, Philippe Neunreuther

Max (Kassovitz) é um pequeno marginal de 25 anos, anestesiado pela rotina do seu dia-a-dia suburbano, sem desejos ou objectivos. Ao assaltar um supermercado durante a noite, depara com dois corpos e segue um homem que julga estar relacionado com o crime. Wagner (Serrault) é um assassino de 70 anos que dá muita importância à ética no exercício da sua profissão. Considerando precisar de um ajudante - ou talvez de um sucessor - Wagner convence Max a tornar-se seu aprendiz. Mehdi (Benoufa de 15 anos, no seu primeiro papel no écran) é um adolescente que deixou de ir à escola, e que dispara em jogos de computador com a mesma emoção que poderá disparar num ser humano.

As três gerações presentes nestes personagens são completamente distintas. Têm formação diferente, vêm o mundo de forma diferente, agem e pensam de modo diferente. A TV é o quarto personagem do filme. Somos bombardeados continuamente com imagens televisivas, num constante, e por vezes quase alucinogénico zapping, onde se misturam imagens de «Un Chien Andalou» e «Dragon Ball Z» e se mostra na íntegra um spot da Nike (just do it/fais-le). Claro que as imagens mais frequentes são imagens de violência, pois é sobre a violência que o filme se debruça, ou não se tratasse de contar histórias de assassinos.

Em termos de técnica, «Assassino(s)» é um objecto irrepreensível. O modo como Kassovitz filma enquadra-se perfeitamente no que quer mostrar: violência real, nua e crua. A montagem e o som são usados quase para nos agredir, quebrando momentos de calma e silêncio. Há uma sequência com um acidente na estrada de um realismo impressionante.

O que diz Kassovitz?

"Vemos toda a espécie de cadáveres na TV [...] Ficamos com a impressão que, quando um tipo é morto cambaleia para trás, escorrendo sangue, e morre nos braços da namorada. Depois há a realidade. Quando se mata alguém, a pessoa caga nas calças, cinco litros de sangue jorram em dez segundos, sangue escorre do nariz. É crú. Estas são as coisas que são difíceis de aceitar".
É claro que é o personagem de Mehdi - da geração (mais dependente do que nunca) da TV e dos videojogos - que não distingue a realidade da fantasia. Wagner sabe o que faz, tem uma ética própria que cumpre, e não tem problemas de consciência porque vê tudo como um "são eles ou nós". Max é apenas apático; aquela é apenas uma saída. Mas Mehdi é que diz os "bué da fixe" e os "porreiro" da praxe quando pega numa arma. Matar pessoas pode ser "fixe". Dispara-se e pronto, marca-se pontos.

Os problemas que se podem ter com um filme assim surgem de querer encará-lo como uma espécie de tese que diz que a culpa da criminalidade é toda da TV. Não me parece que Kassovitz esteja a apontar para aí, e essa preocupação com um pretenso objectivo simplista, pode, ela mesma, ser demasiado simplista. «Assassino(s)» pode ser um ensaio para as consequências de educar uma geração com a TV; geração essa que terá pontos de referência distorcidos, com graves consequências futuras. Mas estas críticas têm de se compreender. Agora se alguém pela enésima vez afirmar, juntando mais pontos negativos, que também se tenta copiar o estilo dos irmãos Coen, só porque as câmaras se mexem um pouco, ou se põem no tecto, etc., isso significa que alguém anda com insuficiência de referências, ou se limita a ver filmes dos "Mestres do Plano".

«La Haine» permanece como um filme mais interessante do que «Assassino(s)», porque o ritmo imposto é diferente e porque os personagens e a história são mais interessantes e facilmente identificáveis (os personagens de «Assassino(s)» são mais abstractos). De entre as dezenas de referências, surge um reflexo num autocarro do placard que surgia várias vezes em «O Ódio»: "O mundo é teu". Os pontos de contacto com «Natural Born Killers» e com «C'Est Arrivez Prés de Chez Vous» são apenas temáticos e não vale a pena dar-lhes muita importância, apesar de também aqui termos um sitcom ligeiramente exagerada (e divertida qb).

Fique pelos créditos, há uma sequência no final (não esperem pela SIC).

Argumento de Mathieu Kassovitz e Nicolas Boukhrief.

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