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O Bom Rebelde/Good Will Hunting
Realizado por Gus Van Sant
EUA, 1997 Cor - 126 min.
Com: Robin Williams, Matt Damon, Ben Affleck, Minnie Driver, Stellan Skarsgård, Casey Affleck, Cole Hauser, John Mighton, Rachel Majowski, Colleen McCauley

Will Hunting (Damon) é um jovem órfão que trabalha a fazer limpezas no Massachussets Institute of Technology, apesar de ter capacidades invulgares no campo das ciências exactas que o qualificam como génio. O professor Lambeau (Skarsgård, de «Breaking the Waves») procura retirá-lo da marginalidade e ajudá-lo a desenvolver os seus conhecimentos, mas o jovem apenas acede para não cumprir pena de prisão, sendo também forçado a frequentar sessões de terapia psicanalítica com o Dr. Sean Maguire (Williams, oscarizado). Nas deambulações nocturnas com os amigos (incluindo Chuckie, representado por Ben Affleck, que co-escreveu com Damon o argumento original), Hunting conhece Skylar (Driver), uma jovem universitária, que começa por se impressionar com a inteligência dele. O filme desenrola-se sobre as lutas de Hunting consigo próprio, com a ajuda de Maguire, que o tenta fazer vencer os traumas do passado (nem que tenha de recorrer aos seus próprios), abraçar as suas capacidades e o relacionamento com Skylar.

«Good Will Hunting» é notoriamente o filme mais mainstream de Gus Van Sant, e o seu sucesso - impulsionado desde logo por 9 nomeações para os prémios da Academia americana - está notoriamente mais ligado ao argumento da dupla Damon/Affleck (independentemente de todas as especulações sobre a "verdadeira" autoria), do que a qualquer sopro de autoria por parte do realizador, que parece estar a habituar-se ao estatuto de profissional contratado (já este ano realizou o vídeo "Weird" da banda infantil Hanson, depois de já ter no currículo um trabalho com os Red Hot Chilly Peppers). Tal não significa que não hajam contactos com filmes anteriores, como a característica de 'outsider' do protagonista principal, mas isso não é algo propriamente invulgar em Hollywood.

«O Bom Rebelde», no título nacional, assenta numa estrutura mais do que conhecida pelas audiências; um personagem auto-marginalizado passa duas horas em auto-conflito até chegar à conclusão que tem é que ser feliz, plantar uma árvore e ser bom para os outros. Com um certo afastamento, podemos afirmar que uma mera decisão por parte de Hunting sustém todo o filme, do mesmo modo do que um comprimido e um pouco de compreensão para com o próximo, resolveria os problemas de Melvin Udall e extinguiria «As Good as it Gets» passados 5 minutos. O humor e os diálogos acima da média salvam o filme do esquecimento pleno, o que não iria nunca acontecer, em termos de resultados de bilheteira, a partir do momento em que Robin Willians é metido no projecto, e, muito menos, quando a Academia decide incluir, no seu plano para 98, o reconhecimento das novas gerações.

Não se poderá criticar «Good Will Hunting» em excesso, já que os seus personagens são mais ambivalentes do que o habitual, o que, por si só, já merecerá alguma da nossa atenção. Hunting não é um simples marginal, cujas sombras dos passado "obrigam" a ser mauzinho de vez em quando. Não é uma mera questão de ser puro de coração, ocultando-o por uma carapaça de indiferença e de violência. Mas os personagens não são deixados suficientemente livres para que a história possa brilhar convenientemente. Recorrem-se a mecanismos um pouco já demasiado vistos, como a lição de Maguire, que fica suspensa no ar à espera de voltar a sair pela boca de Hunting, e cenas como a ruptura com Skylar parecem existir apenas para justificar a necessidade de uma eventual reconciliação.

O trabalho da dupla de argumentistas não é menosprezável, antes pelo contrário, mas quando se tem tendência a considerar o que os filmes poderiam ter sido, e não apenas o que eles abstractamente são, não pode deixar de se pensar que um par de estalos a 10 minutos do filme poderia ter resolvido tudo.

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