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A Zona de Guerra/The War Zone
Realizado por Tim Roth
Reino Unido/Itália, 1998 Cor – 99 min. Anamórfico.

Com: Ray Winstone, Lara Belmont, Freddie Cunliffe, Tilda Swinton, Annabelle Apsion, Kate Ashfield, Colin J. Farrell, Aisling O'Sullivan, Megan Thorp, Kim Wall

Uma família de quatro tenta adaptar-se à vida em Devon, na costa inglesa, depois de ter deixado Londres. Um dia, ao regressar a casa, Tom (Cunliffe), um adolescente de cerca de 15 anos de idade, vê algo pela janela de casa, vindo mais tarde a confrontar a irmã mais velha, Jessie (Belmont), acusando-a de manter contactos de natureza sexual com o pai de ambos (Winstone). Entretanto, a mãe (Swinton) está prestes a dar à luz.

Uma adaptação pela mão do próprio autor, Alexander Stuart, do livro homónimo, publicado em 1989, «A Zona de Guerra» vive da intensidade das quatro personagens principais e das respectivas relações. O argumento não é particularmente brilhante, nem os diálogos são fluidos e inteligentes como os que podemos encontrar em algumas produções off-Hollywood modernas. Mas o que sai da boca de cada uma das personagens é coerente e natural com cada uma, transmitindo um forte realismo dramático. Os quatro membros da família estão tão bem caracterizados e os actores incarnam tão bem os papéis, que dificilmente se poderia esperar que a obra de Tim Roth se sustentasse sobre qualquer espécie de choques ou reviravoltas narrativas.

Roth coloca-nos numa posição de observadores distantes, mostrando o que se passa na casa, pouco a pouco, deixando sempre algo por definir. Tal como Tom, somos impelidos a querer espreitar por uma janela, para que fiquemos na posse de todos os dados, de modo a que seja possível fazermos o nosso julgamento moral. A realidade não é definida preto no branco. Ninguém é apresentado como realmente mau e, em muito momentos, somos levados a questionar o que se passa; será real ou estaremos a assistir ao mundo visto pelos olhos de Tom ou Jessie? Será que Tom, um adolescente para quem o sexo é ainda algo misterioso, a descobrir cautelosamente, não está a ser vítima de um perturbação, motivada pela à solidão ou derivada da má inserção no novo meio? Saberá a mãe algo? Existirá alguma cumplicidade entre os dois irmãos?

A intimidade entre pais e filhos e entre os irmãos, começa por surgir de modo quase inocente, não deixando de ser incómoda. Talvez seja apenas um caso de estarem todos muito à-vontade uns com os outros, pensamos. Apesar da apresentação posterior de actos condenáveis, fica ainda a sugestão de uma teia de relações mais complexa e o deixar em aberto de uma série de pormenores reforça a vitalidade do desenvolvimento de personagens. Roth e Stuart preferem deixar-nos a pensar em possibilidades a apresentar resoluções explícitas, como se ilustra na cena final, no bunker que surge como um dos símbolos da “guerra”, sem que tal implique que o espaço fechado da casa, onde se passa grande parte da acção, seja mais seguro ou moralmente inocente.

A fotografia de Seamus McGarvey capta a atmosfera escura e húmida de dias de Inverno e de noites frias dentro de quatro paredes. O formato scope, que poucos recomendam para dramas e filmes sustentados nas personagens e nos diálogos, fornece espaço extra para o interrelacionamento familiar. O ecrã largo, contraditoriamente, é usado para captar personagens presas em conflitos internos ou em laços difíceis de desatar.

A projecção no Nimas, em Lisboa, permanece longe da perfeição. Quando a isto, recomendo a leitura da crónica de João Lopes no Cinema2000.pt. (Se já não estiver disponível, uma simples procura deve resolver o problema).

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Publicado on-line em 31/8/00.