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Os Visitantes da Idade Média/Les Couloirs du Temps: Les Visiteurs 2
Realizado por Jean-Marie Poiré
França, 1998 Cor - 118 min. Anamórfico

Com: Christian Clavier, Jean Reno, Muriel Robin, Marie-Anne Chazel, Claire Nadeau, Christian Bujeau, Christian Pereira, Marie Guillard, Jean-Paul Muel

Depois de uma atribulada viagem pelos tempos modernos, o Conde Godefroy de Montmirail (Reno) regressa à Idade Média com aquele que julgava ser o seu servo Jacquouille (Clavier), mas que é na verdade o descendente deste, Jacquart (Clavier). O Mago diz-lhe que os corredores do tempo permanecerão abertos enquanto tudo o que abandonou o tempo passado permanecer no Séc. XX. Desse modo, Godefroy tem de voltar ao presente e trazer Jacquouille de volta, bem como um conjunto de jóias roubadas por este que, no presente, vão passando de mão em mão. Na nossa época, os visitantes tentam passar despercebidos e misturar-se socialmente.

«Os Visitantes/Les Visiteurs» (1993) obteve um êxito surpreendente em França, onde terá superado mesmo «Parque Jurássico» nas receitas de bilheteira. Era inevitável que se produzisse uma sequela. Não interessando propriamente se estava previsto inicialmente dar continuidade às aventuras de Godefroy e do seu servo imundo e trapalhão, não se pode senão admitir que os acontecimentos deste filme se encaixam perfeitamente naqueles que vimos no filme original (resumido numa curta introdução com a obrigatória voz-off). Também não há dúvida que «Os Visitantes 3» se seguirão, porque o final está preparado para um novo tomo da série. É pena que a distribuidora (Lusomundo) tenha "escondido" a característica de sequela deste filme. Se o filme anterior existe no nosso mercado com o título de «Os Visitantes» é pateta que se apelide este de «Os Visitantes da Idade Média», que parece mais um título alternativo para o mesmo filme. Claro que o filme original é da Castello Lopes, mas se a Lusomundo exibir no futuro a sequela, vai-lhe chamar «Os Visitantes da Idade Média 2» ou «Os Visitantes 3»? Quem sabe se fosse a Castello Lopes a pegar-lhe não o apelidasse «Os Visitantes 2», a título de vingança. Nada como gerar a confusão. (Exercício mental: imagine-se a intervenção de um terceiro distribuidor).

«Les Couloirs du Temps» é uma sequência ininterrupta de tolices que atinge quase duas horas. O humor é bem básico e directo, mas retém um certo encanto. Ingénuo, talvez. Ninguém sairá da sala com um derrame cerebral causado por tentativas de deslindar as complexidades da trama, pois tal é coisa que não existe. No entanto, o guião é tudo menos simplista. A história de Poiré e Clavier desenvolve as relações entre os personagens e respectivos descendentes, apresentados no filme original e introduz alguns novos. O elemento motor - a recuperação de Jacquouille e posteriormente das jóias roubadas - exige uma série de viagens no tempo, que dão azo a alguns efeitos especiais divertidos; enquanto Godefroy se transforma em cristal, o seu servo transforma-se em excrementos que fazem plaft! quando atingem o chão. Aliás, a suja criação de Clavier e o respectivo contraste com o Jacquart da nossa época, é um dos elementos mais bem sucedidos do filme. A Idade Média é retratada tão fielmente como no «Holy Grail» dos Monty Python, i.e., lama e esterco por toda a parte, e figurantes sujos com dentes pretos.

O humor não se poupa a exageros, como na deformação dos corpos (o tratamento da Inquisição, as viagens), não é sofisticado, nem nada que se lhe pareça, mas é óbvio que nunca o pretendeu ser. Recorre-se inclusive a graçolas algo "xenófobas", se assim se pode dizer, com um negro e com uma referência a… Portugueses. É produto para ser, antes de mais, consumido pelo grande público Francês, a puxar bastante por "les pop-corn". Não será por maldade, mas por mera coerência com o baixo nível geral do texto. Uma palavra negativa mais decidida vai para a montagem. Não dá para se perceber se foi apressada ou se se procurou um efeito estético pós-moderno, mas as quebras súbitas na continuidade de muitas cenas são deveras irritantes.

Há uma curiosidade com as traduções dos nomes medievais. Godefroy é Godofredo, mas Jacquouille fica no original. O tradutor quis poupar o público da piada grosseira do nome, ao contrário do que sucede no vídeo do primeiro filme, em que se adapta muito bem o nome para Jacqulhão (com muito mais efeito que o Jacquass da versão Inglesa). A imaginação pára onde desponta a censura. Outra curiosidade prende-se com os créditos. Os iniciais estão já semi-preparados para o formato vídeo (mas que bem pensado), não usando a largueza total do formato scope, e os finais são acompanhados por uma série de erros dos actores e de takes não utilizados. O filme original enviava uma saudação às pessoas que lêem créditos até ao fim. Salut.

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Publicado on-line em 4/2/99.