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A Hora Mágica/Twilight
Realizado por Robert Benton
EUA, 1998 Cor - 95 min. (aprox.)
Com: Paul Newman, Susan Sarandon, Gene Hackman, Stockard Channing, Reese Witherspoon, James Garner, Giancarlo Esposito, Liev Schreiber, M. Emmet Walsh, Margo Martindale

Harry Ross (Newman) é um ex-polícia, ex-detective particular e ex-alcoólico que trabalha para Jack Ames (Hackman), ex-actor de cinema com uma doença terminal. Ross reside na faustosa habitação de Ames e da mulher, Catherine (Sarandon). Ao efectuar um pagamento em nome do amigo e patrão, Ross envolve-se com um caso de chantagem e homicídio e com o regresso de um crime do passado.

Robert Benton, creditado com «Kramer vs. Kramer» e «Nobody's Fool», também com Paul Newman - e já com três Oscars por cima da lareira (dois pela direcção e argumento do primeiro filme) -, assina um policial noir ao estilo dos clássicos de 40 e 50. Muitos personagens com motivações diversas e muitas suspeitas levantadas, um novelo que se vai desenrolando lentamente e um crime encoberto, constituem a base da narrativa pontuada pela habitual voz off do personagem que investiga, e que, como não podia deixar de ser, vai recolhendo as provas à frente da polícia, que existe apenas em função do seu papel de referência do seu passado (colegas que o desprezam ou respeitam).

Os problemas d' «A Hora Mágica» - recuperou-se o título de rodagem, «The Magic Hour» - passam por um guião pouco esmifrado, com muitos vértices por polir e com motivações pouco definidas apresentadas como se fossem muito naturais, mas que não conseguem encobrir clichés, como a oportunidade dada ao personagem central (e porquê sempre 24 horas?), nem com metáforas provocadoras de leves sorrisos (como a do autoclismo) ou com a convicção geral da localização física do ferimento de Ross, apenas um pormenor em jeito de floreado a preparar para o final. Muitas outras cenas parecem apenas existir para ligar ao momento seguinte, como a referência à camisa (mais comentário casual engraçado), seguindo-se à sua utilização no argumento como confirmação de uma traição, e o grande plano da praxe, a certificar de que o espectador percebe bem tudo. Se, por um lado, se envereda por ser demasiado explicativo, por outro deixam-se detalhes na obscuridade. Porque é que a localização do corpo era tão óbvia, porque não o foi durante 20 anos, e porque é que personagens evidentemente relacionados não quiseram confirmar o que os chantagistas sabiam de facto? E, claro, se o corpo fosse destruído não haveria filme. A relação da filha do casal (Witherspoon), com Willis (Schreiber) também é mais conveniente do que outra coisa qualquer, e a "estupidez" que ela própria admite, parece querer camuflar a preguiça de quem escreveu essa linha.

«Twilight» pegou numa estrutura déjà vu, com a desculpa de "filme de género", e não adicionou nada digno de registo. Não sendo um filme que apele propriamente às massas (ao público-alvo jovem mais representativo no box-office americano), requeria-se que o guião tivesse sido amadurecido. Ficou-se pela maturidade, e excelência, de uma naipe de actores a quem a idade parece não pesar, sem dúvida o melhor do filme, e algo que até intimida pela "respeitabilidade" que emana. Acrescente-se que a inserção de alguma leve nudez com um body-double demasiado óbvio para Sarandon era perfeitamente dispensável - até por ser filmado e montado algo artificialmente -, justificando-se possivelmente por se julgar necessário num film noir moderno, em que uma mulher de forte personalidade tem que ter alguma cena sem roupa.

Em relação à distribuidora, continua a lamentar-se que se opte por uma linguagem tão notoriamente censurada na tradução. Considerações com o escalão etário? Afectaria a bilheteira se o filme fosse carimbado M/16? Possivelmente teria mais público.

**1/2
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