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The Truman Show - A Vida em Directo/The Truman Show
Realizado por Peter Weir
EUA, 1997 Cor - 103 min.
Com: Jim Carrey, Laura Linney, Noah Emmerich, Natasha McElhone, Holland Taylor / Ed Harris, Paul Giamatti, Adam Tomei, Harry Shearer, Una Damon

Truman Burbank (Carrey) vive em Seahaven, um verdadeiro paraíso terrestre onde as pessoas parecem coexistir no meio da utópica alegria de uma série de TV dos anos 50. Ele é casado com Meryl (Linney), mas o seu casamento não é dos mais felizes. Truman começa a aperceber-se que as aparências iludem, e que o ambiente onde vive é meticulosamente controlado, pois o paraíso é apenas um gigantesco e sofisticado cenário de um programa de televisão, criado e desenvolvido por um homem chamado Christof (Harris).

«The Truman Show» podia guardar a sua premissa para quando a narrativa estivesse já bem embalada, surpreendendo o telespectador com a revelação de que o personagem central estava a viver, contra a sua vontade, no cenário do programa de televisão mais visto no mundo, mas as necessidades de promoção, principalmente um trailer demasiado delator, terão alterado um pouco as intenções originais dos cineastas. O argumento de Andrew Nicol não se baseia, obviamente, no factor surpresa, antes no desenvolvimento do personagem de Truman (afinal é o seu "show"), as suas reacções perante a gradual descoberta da situação e os seus desejos de fugir ao mundo em que vive. No comum dos mortais, o escapismo às vezes consiste em submergir-se em raios catódicos; no caso de Truman essa manifestação é mais literal, e inversa: o desejo de sair da televisão para o mundo.

Peter Weir conseguiu não dar destaque exagerado às metáforas dos malefícios da televisão e do comentário social, tornadas déjà vu por muitas outras obras, ou da rebelião do homem contra o seu criador. Estes paralelos são tão filosóficos quanto religiosos. Truman olha para a lua à noite - a natureza ou Deus -, não sabendo que o seu olhar se dirige para Christof (um nome nada subtil). A religião das pessoas "reais" é a televisão (uma idosa poderia ter uma almofada com a cara do Papa, mas não pode entreter-se a seguir a sua vida em directo). O mundo das aparências e o desejo de compreender e alcançar o que está mais além, sempre foi um grande ensejo dos filósofos. A própria natureza humana é posta à prova. Truman é "programado" para não deixar a ilha em que vive, e, consequentemente, deseja conhecer o que está no outro lado do mundo, tal como Fernão de Magalhães ("Magellan" no original e na legendagem; a empresa tradutora não é muito patriótica).

O conteúdo "intelectual" é pois minimizado habilmente e «The Truman Show» é também invulgarmente condensado, sobretudo se atentarmos aos padrões actuais em que qualquer história que poderia ser contada em meia dúzia de linhas, é desenvolvida até encher três horas de película. Aqui, fica sempre a sensação de que muito mais se poderia desenvolver. Surgem pequenas pistas daquilo que não vemos, como cartazes de encontros pró-libertação, subentendendo acções organizadas (apesar de existirem algumas "manifestações" com efeito sobretudo cómico), e a mecânica corporativa por detrás do funcionamento do programa, sobretudo no que diz respeito à colocação "subtil" de produtos comerciais junto a Truman, certamente potenciaria mais algum tempo de écran. No que a isso diz respeito, comedidamente apresentam-se sequências divertidas, como a recorrente imagem do six-pack de cerveja virado para a câmara ou a pose exageradamente persuasiva de Laura Linney. Mas em TV não há tempo a perder, e, não enveredando pela construção de um "épico", arriscando o aborrecimento do espectador de cinema, ficamos pela hora e quarenta de filme, onde todos os minutos valem a pena.

O argumento está a pedir que o oscarizem e prevê-se que a carreira de Jim Carrey se torne mais "séria", como sucedeu a Tom Hanks, mais conhecido e respeitado como actor por dois ou três filmes pós-«Filadélfia» (1993), do que pelo conjunto dos quase vinte em que participou anteriormente. Uma presença marcante, apesar do reduzido tempo de écran, é a de Natasha McElhone, que se estreou no grande écran recentemente em «Surviving Picasso» (1996), ao lado de Anthony Hopkins, e que surgirá no próximo filme de John Frankenheimer, «Ronin», com Robert de Niro e Jean Reno.

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