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Cowboys do Espaço/Space Cowboys
Realizado por Clint Eastwood
EUA/Austrália, 2000 Cor – 130 min. Anamórfico.

Com: Clint Eastwood, Tommy Lee Jones, Donald Sutherland, James Garner, James Cromwell, Marcia Gay Harden, William Devane, Loren Dean, Courtney B. Vance, Rade Sherbedgia

Quando um satélite russo, construído durante a Guerra Fria, avaria e começa a cair em direcção à Terra, o general Bob Gerson (Cromwell) vê-se forçado a procurar a ajuda de Frank Corvin (Eastwood), antigo piloto da força aérea e autor do sistema de controle usado pelos engenheiros da ex-URSS. Corvin, cuja equipa (Team Daedalus) foi afastada da participação no programa espacial norte-americano, insiste que só ele e os seus ex-colegas, agora septuagenários ou lá perto, podem resolver o problema, viajando num space shuttle para reparar o satélite in loco. Gerson resiste o mais que pode e impõe condições, nomeadamente a exigência do cumprimento de requisitos físicos mínimos.

Na última década, Clint Eastwood tem lidado, em alguns dos seus filmes, com o envelhecimento das suas personas cinematográficas. O filme mais marcante, e possivelmente ainda o melhor, é «Imperdoável/Unforgiven» (1992), onde Eastwood encarna um pistoleiro aposentando e debilitado pela idade, tentado por um regresso à actividade. Aí, tal como aqui, os homens em idade de reforma demonstram que ainda têm muito para dar. O veterano actor e realizador demonstra também que é possível levar pessoas ao cinema, para verem um filme de grande espectáculo – porque é do que se trata – sem que o mesmo esteja preparado para a malta mais jovem, que constitui, afinal, a grande fonte de receitas das salas de cinema, através dos bilhetes e dos snacks nutritivos.

Escreveu-se algures que «Space Cowboys» era uma espécie de «Armageddon» para um público um pouco mais exigente. Estamos perante um naipe de actores dignos de mérito e de respeito (não só por causa da idade), integrados numa história divertida, com umas pinceladas muito leves de drama e alguns elementos de techno-thriller. O humor não é exagerado, pelo menos ao ponto de contribuir para que não levemos o filme a sério, mas contribui em parte para que a componente dramática tenha dificuldade em convencer o espectador. Parte-se do princípio que aceitamos a possibilidade da NASA vir a empreender uma operação desta natureza, sob o controle de quatro septuagenários, depois de um mês de treino. O esforço dos argumentistas consegue torná-lo relativamente credível. Por outro lado, a falta de gravidade ajuda à suspensão da descrença.

Enquanto comédia não há muito a dizer. O filme tem graça e vê-se com agrado. A componente de intriga político-militar, no entanto, é um bocado artificial e subdesenvolvida. É certo que não há nenhum esforço para esconder quem estaria por detrás de algumas coisas, mas lá para o final ficamos com a sensação de que aquilo não passou de uma brincadeira de meninos mal comportados. Também é algo estranho que a Rússia seja representada (no filme) apenas por um homem. Devia-se ver algo mais, dar voz a outras personagens, porque não faz muito sentido que os EUA avancem para um satélite russo sem nenhuma espécie de diálogo político, ou uma oferta de colaboração, com a participação, por exemplo, de cosmonautas seleccionados por Moscovo.

«Cowboys do Espaço» constrói-se em redor de Eastwood, Jones, Sutherland e Garner, deixando por desenvolver aspectos importantes, apesar da duração superior a duas horas. Os dois astronautas jovens, por exemplo, bem poderiam ser robots. São meros acessórios e no final até desaparecem de vista, sem que lhes seja concedida uma simples referência, mesmo depois de se apresentarem probabilidades para cenários diversos. Estruturalmente, temos um argumento pouco refinado, não contornando muletas dramáticas quase obrigatórias (como o sacrifício), e os símbolos do passado recuperados (a boneca), ou paralelismos entre a banalidade do dia-a-dia e a hora da verdade (a máquina dos brindes e o braço articulado do shuttle). Em algumas cenas, parecem existir cortes súbitos, como se tivesse desaparecido alguma coisa na mesa de montagem, mas sem que tal se revele demasiado nocivo para o filme.

Resta acrescentar que «Space Cowboys» passa mais tempo em terra do que no espaço. Lá em cima parece faltar tempo para que se gere alguma tensão ou se crie uma dimensão dramática envolvente (apesar de uma solução final “inevitável” e algo gratuita).

***
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Publicado on-line em 8/10/00.