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South Park: O Filme/South Park: Bigger, Longer & Uncut
Realizado por Trey Parker
EUA, 1999 Cor - 81 min.

Com vozes de: Trey Parker, Matt Stone, Mary Kay Bergman, Isac Hayes, Jesse Howell, Antholy Cross-Thomas, Francesca Clifford, Bruce Howell, Deb Adair, Jennifer Howell, George Clooney, Brent Spiner, Minie Driver, Dave Foley, Eric Idle

South Park, no estado americano do Colorado. Depois de conseguirem ver "Asses of Fire", o filme "não aconselhável a menores de 17" (R) dos comediantes canadianos Terrance e Phillip, Stan, Cartman (Parker), Kyle e Kenny (Stone), alunos da 3ª classe, chocam professores e encarregados de educação com um chorrilho de imaginativas palavras feias. Sheila Broflovski (Bergman), mãe de Kyle, eleva o filme a caso nacional e o Canadá a bode expiatório, originando um sério conflito bélico entre os dois países norte-americanos. Entretanto, no Inferno, Satanás anuncia o cumprimento de uma profecia e o início do seu reinado à superfície, acompanhado pelo seu amante, Saddam Hussein.

Iniciada em 1997 e a entrar agora na quarta época, a série de TV "South Park", criada por Trey Parker e Matt Stone, provou que há um mercado para animação exclusivamente destinada ao público adulto, com temas sexuais, violência explícita (tanto quanto possível com bonecos tão simples e animação rudimentar), e ataques impiedosos a todos os sectores e grupos religiosos da sociedade americana. O filme é uma perfeita transposição do universo da série, com o ritmo adequado e novas ideias, mas também com a adaptação e reformulação de situações e temáticas previamente exploradas no pequeno écran.

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Cartman, Kyle, Stan - com os bilhetes para «Asses of Fire»
- e Kenny, em pose para foto promocional de «South Park:
Bigger, Longer & Uncut»
O tema central de «South Park» é a censura e a hipocrisia de uma certa "middle America", que aponta o dedo a obras literárias ou cinematográficas, como geradores de todos os males sociais, procurando simultaneamente desresponsabilizar pais e educadores. É criticado também o papel da Motion Picture Association of America, entidade responsável pela classificação etária de filmes, com um papel também de censor, sugerindo cortes para evitar a morte comercial de uma obra ou sérios prejuízos quando o público mais jovem é afastado da bilheteira.

Os choques com o MPAA iniciaram-se muito cedo. Segundo Parker, o título original deveria ser «South Park: All Hell Breaks Loose», mas não lhes permitiram usar a palavra "hell" (inferno) no título, e daí o "maior, mais longo e sem cortes" a funcionar como um comentário sarcástico a priori. No que toca a cortes, os realizadores têm dito que nunca removeram nada, quando o MPAA solicitou alterações para evitar o NC-17 (interdito a menores de 17), aproveitando antes para piorar o filme, voltando a submetê-lo a classificação, até que os censores se aborrecessem. Desconhecem-se desmentidos oficiais, mas, caso os cineastas decidam avançar com um segundo filme, não serão de excluir represálias por parte daquela instituição.

«South Park» não tenta ser um filme sofisticado, nem manifesta grandes aspirações "artísticas". A mensagem é exposta da forma menos subtil possível; o humor é directo, rasteiro, mais ou menos "obsceno"; as canções variam na sua qualidade, mas algumas têm um grande potencial cantarolante. Esta apetência pelo musical não é de agora; o primeiro filme de Parker foi o "no-budget" canibalesco «Alferd Packer: The Musical» (1993, distribuído pela Troma anos depois, com o título «Cannibal: The Musical) e alguns pontos de contacto poderão ser apontados, nomeadamente na integração dos temas musicais, que não interrompem o filme, antes são por ele, frequentemente, interrompidos (por exemplo, repete-se o "shut the fuck up" em ambos os filmes).

Não seria demasiado arrojado dizer que a temática de «SP: BL&U» pode ser extensível ao nosso pequeno país, onde ainda se censura a linguagem legendada, mas, aparentemente, por vergonha do tradutor ou devido a alguma convenção não-escrita que permite a tradução de uma ou duas palavras marotas, mas impõe a correcção educativa e paternalista do restante texto. No filme afirma-se o valor social da máxima do MPAA, que afirma que "violência gráfica horrenda é aceitável, desde que não se profiram palavras marotas". Uma vez que o praguejar é um elemento central do guião, seria desgostoso ver uma cópia legendada do modo entre nós instituído. Isto prossegue, curiosamente, enquanto o cinema português está cada vez mais descontraído no que diz respeito à linguagem usada. O problema é sempre o intermediário pouco preocupado com o objecto cinematográfico que distribui ou exibe. (*)

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Publicado on-line em 10/4/00.

(*) Esclarece-nos Criswell, na revista Premiere de Dezembro: "Para quem estava curioso sobre a maneira como os tradutores portugueses iam traduzir a já lendária expressão "uncle fucker" no vídeo de «South Park: O Filme», agora editado entre nós, aqui fica a resposta: "fornica tios." Adianta ainda aquele cronista que os inúmeros "what the fuck" foram corridos a "que porra". A edição vídeo/DVD teve uma campanha promocional que exarcerbava as centenas de palavrões proferidos no filme, pelo que além de censura, o distribuidor praticou também publicidade enganosa.