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Instantes Decisivos/Sliding Doors
Realizado por Peter Howitt
EUA/Reino Unido, 1997 Cor - 99 min.
Com: Gwyneth Paltrow, John Hanna, John Lynch, Jeanne Tripplehorn, Zara Turner, Douglas McFerran, Paul Brightwell, Nina Young, Virginia McKenna, Kevin McNally

Em Londres, Helen (Paltrow) vive com o namorado Gerry (Lynch), que mantém uma relação com Lydia (Tripplehorn). Helen perde o emprego, cruza-se brevemente com James (Hannah), tenta ir de metropolitano para casa, mas perde o comboio mesmo antes de uma avaria no serviço, que a força a procurar um transporte alternativo. O filme apresenta duas histórias paralelas; na história alternativa, Helen consegue apanhar o comboio e os acontecimentos são muito diferentes.

«Sliding Doors» apresenta-nos uma Gwyneth Paltrow em duplo esplendor. O seu trabalho é bastante satisfatório, até porque consegue executar uma razoável pronúncia britânica. O trabalho esteve facilitado para Jeanne Tripplehorn, a quem serviram de bandeja uma personagem americana. A história não é particularmente complexa, e, como será fácil de imaginar, o destaque terá de ser feito à mecânica da sua apresentação, ou seja à interligação entre as duas narrativas.

Peter Howitt, que também escreve o texto, desenvolve o guião com sequências paralelas, apresentadas alternativamente e no mesmo decurso de tempo, mostrando o que a personagem está a fazer aquela hora e o que estaria a fazer (e com quem) se tivesse entrado naquela carruagem do comboio, como se tivesse escrito dois guiões e os entrecruzasse posteriormente, cena a cena. Para evitar as confusões na cabeça do espectador mais desatento, introduziram-se sinais que distinguem entre Helen "1" e Helen "2", mas conseguiu-se faze-lo com uma certa naturalidade e consistência com o desenvolvimento do texto. De qualquer das formas, para o espectador médio, o filme exigirá uma atenção um pouco superior à requerida para outro qualquer filme do "género".

O personagem de Helen é obviamente o mais desenvolvido e cria-se um genuíno interesse pelo(s) seu(s) destino(s). James, um indivíduo bem disposto, divertido e extrovertido, é o género de pessoa que "derrete o gelo nas festas", mas faltou elaborar a sua graça, porque apesar dos seus amigos (que não se distinguem do cenário) se rirem imenso, o espectador dificilmente é contaminado, mesmo perante citações de Monty Python. Ele, que aprecia o grupo inglês mas também Seinfeld (afinal o filme é uma co-produção Anglo-americana), fala rápido e com uma pronúncia acentuada, de forma que seria interessante se lhe tivessem escrito umas linhas mais satisfatórias no plano da comédia. No entanto a perda não é muito relevante porque não é esse o tom destinado a dominar o filme, particularmente à medida que o fim se aproxima (é mais um drama romântico do que uma comédia romântica). Gerry, o namorado indeciso, é um personagem curioso e revela-se a pessoa em quem todos gostaríamos de dar um bom par de estalos. Infelizmente, a Lydia de Jeanne Tripplehorn é uma "bitch" muito bidimensional que em pouco se distingue de um qualquer personagem de dezenas de folhetins americanos. Quem sabe se houve intencionalidade, já que ela é "a americana". De um modo geral, faltou conseguir-se estabelecer laços emocionais mais fortes com a audiência ("sentir" por/com os personagens), o que será algo importante neste género de filme.

Nada a objectar contra o pretenso "gimmick" que une as duas histórias. Não é "gratuito" e, apesar de também não ser plenamente original (não interessa comparar com outros filmes porque só serviria para descrever demasiado o modo como o final é destilado), foi uma opção que se revelou adequada, até porque, de certa forma, se redime da falta de graça como as citações dos Monty Python são utilizadas. Por outro lado, o mecanismo não têm que ser tão claro e evidente como alguns têm sugerido. Porque o espectador também pode ter um pouco de imaginação.

Nota de rodapé: A projecção no Colombo permite ver ligeiramente os calções de John Lynch, no seu banho ainda durante os créditos iniciais. A imagem com o logo da produtora (com o formato marcado no negativo), deveria ser um bom indicador para uma correcta projecção, mas parece que a própria legendagem – mais uma vez – estava um pouco abaixo demais.

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