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Sapatos Pretos
Realizado por João Canijo
Portugal, 1997 Cor - xx min.
Com: Ana Burstorff, João Reis, Vitor Norte, Teresa Madruga, Adriano Luz

Vagamente baseado numa história verídica, os «Sapatos Pretos» são calçados por Ana Burstorff no papel de Dalila, oprimida pelo casamento com Marcolino (Norte). Desejando libertar-se de uma relação, mas também de um meio, que já não a satisfaz, Dalila envolve-se com outro homem (Reis), mais jovem e mais de acordo com a consumação dos seus desejos, os quais incluem o assassinato do marido.

«Sapatos Pretos» gira totalmente em redor do personagem de Burstorff, que estará em 99% dos planos do filme, e com roupa numa percentagem bastante considerável. Nestes termos, a apreciação dependerá muito do trabalho da actriz, mas também da capacidade que Canijo teve em desenvolver o papel e em comandar a actriz. Em muitas ocasiões, a unidimensionalidade parece ser a característica mais relevante da representação. Burstorff parece ter escolhido uma certa expressão facial de femme fatale, só a querendo abandonar perante a forte ameaça de cãibras. À medida que o filme desenvolve e a trama se adensa (o que não é muito mais do que força de expressão) o que ficou para trás parece ser muito insuficiente para compreender as acções mais radicais da personagem.

A componente sexual do filme é muito forte, num paradoxo entre a libertação com o amante e a opressão com o marido. Esta última vertente é ilustrada por uma violenta sequência pós-operatória, de um curioso sadismo por parte de Marcolino (que diria que um homem com este nome pudesse fazer uma coisa daquelas). Será provavelmente o modo escolhido pelo realizador para que não nos sintamos muito mal com o que lhe possa acontecer. A exposição física de Ana Burstorff poderá ter intuitos estéticos em alguns momentos, mas falha-se redondamente em diversas ocasiões, como uma em que os amantes se deixam cair lentamente até ao chão. Algo no campo das emoções deveria estar a ser transmitido para o espectador, mas a emissão perdeu-se pelo caminho. Parece apenas que dois actores tiraram a roupa e se deixaram cair.

De resto, o texto não é dos piores, mas a fotografia é muito insatisfatória, principalmente nas cenas nocturnas. Apesar das manifestas fraquezas, os personagens principais quase atingiram vida própria. Ainda em relação à fotografia, seria interessante que se tivesse optado pelo formato scope, principalmente dada a natureza de road-movie de muitas das sequências. É curioso que os cineastas portugueses parecem ter a fobia do espaço, perante o considerável número de filmes espanhóis recentes que são rodados em formato alargado.

**1/2
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