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Gostam Todos da Mesma/Rushmore
Realizado por Wes Anderson
EUA, 1998 Cor - 93 min. Anamórfico

Com: Jason Schwartzman, Bill Murray, Olivia Williams, Seymour Cassel, Brian Cox, Mason Gamble, Sara Tanaka, Stephen McCole, Connie Nielsen, Luke Wilson

Max Fisher (Schwartzman), de 15 anos, é o estudante mais activo no colégio de Rushmore. Não há actividade extra-curricular que ele não estimule e lidere, desde apicultura a esgrima, passando pelo wrestling. O teatro, no entanto, é aquilo que mais lhe interessa e que lhe traz algum reconhecimento por parte de docentes e discentes; foi com uma peça que convenceu o reitor Guggenheim (Cox) a aceitar a sua matrícula. Por outro lado, Max não tem muito tempo ou interesse nos currículos escolares sendo reputadamente um dos piores alunos da escola. Quando está já ameaçado com a reprovação, conhece Miss Cross (Williams), uma professora pela qual desenvolve uma fixação muito pouco salutar, que o leva a empreender projectos mais megalómanos do que o costume, na tentativa de a conquistar. Max é auxiliado por Herman Blume (Murray), um magnata melancólico e emocionalmente instável, o qual consegue convencer a patrocinar algumas das suas actividades.

Apesar das relação de Blume com a respectiva família ser, no mínimo, má (ignora a mulher e odeia os filhos), não é um sentimento paternal de substituição aquilo que o une a Max, nesta refrescante comédia de Wes Anderson. É sim uma "simples" amizade, que virá a sofrer abalos com o evoluir do sentimentos que interligam os personagens principais. Esse é apenas um dos pormenores que coloca «Rushmore» numa divisão oposta à sugerida pelo título Português - atroz, incómodo, um insulto ao nível médio de inteligência do espectador de cinema. Aparentemente, o filme estaria já baptizado para o público que percorre as prateleiras dos clubes de vídeo e por aqui se poderá ver com que olhos esse público é visto pela distribuidora, que, aliás, não atribuiu um único dos seus écrans à curta vida em sala deste título (duas reles semanas; três cópias: Lisboa, Porto e Gaia). E apesar de ser um filme que vive do texto e dos actores, o formato scope e o aproveitamento do espaço por Anderson garantem uma edição vídeo invisionável.

«Rushmore» constrói-se em redor do carismático Max e das suas relações com o meio circundante. Não se trata de um mero desajustado, alguém com dificuldade em integrar-se, mas antes de alguém que quer integrar tudo e mais alguma coisa e não demonstra dificuldade alguma em fazê-lo. O seu discurso denota uma maturidade fora do comum, soando mais como um professor, um especialista em todas as áreas, do que como um aluno. Anderson vai evitando os clichés do costume. Quando Max refere o pai (Cassel) como sendo um cirurgião (quando é na verdade um simples "barbeiro") poderíamos ser levados a crer que esse dado era relevante para lá da imagem que cria dele próprio, mas não existe qualquer questão melodramática de aceitação familiar ou de embaraço social, com "resolução" adiada até ao final.

O argumento de Anderson e de Owen Wilson permite aos personagens principais cresder e evoluir com uma honestidade pouco frequente. Os secundários, como o pai de Max ou a jovem Margaret Yang (Tanaka), têm o devido espaço para respirar e desempenham papéis cruciais de formas subtis. O casting foi essencial para o sucesso do filme (e não falamos das receitas, obviamente). Os cineastas muito penaram até descobrirem Jason Schwartzman, recorrendo a meia dúzia de agentes em outras tantas cidades da América do Norte, que lhes enviavam dezenas de cassetes com audições de candidatos ao papel de Max Fisher. A escolha acabou por ser quase casual, pois Schwartzman era familiar da anfitriã de uma festa por onde passou um dos directores de casting. Olivia Williams (do «Postman», de Kevin Kostner e da minissérie "Emma") não era a primeira escolha do cineasta, que, no entanto, acabou por achar extremamente apropriado usar uma actriz Britânica, já que uma das universidades que Max "considera" é Oxford. Bill Murray aproveitou a grande oportunidade de agarrar um papel mais complexo do que os que lhe costumam oferecer. E sai-se extremamente bem.

«Rushmore» é uma das surpresas do ano cinematográfico, e é uma pena que tenha sido tão lamentavelmente desprezado pela distribuidora. Nenhuma divulgação, apenas mais um título listado nos cartazes de cinema. E que título! «Gostam Todos da Mesma». Irra!

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Publicado on-line em 29/3/99.