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Ronin
Realizado por John Frankenheimer
EUA, 1998 Cor - 121 min. Anamórfico
Com: Robert De Niro, Jean Réno, Natascha McElhone, Stellan Skarsgård, Sean Bean, Skipp Sudduth, Michael Lonsdale, Jan Triska, Jonathan Pryce, Ron Perkins, Féodor Atkine, Katarina Witt, Bernard Bloch

Um grupo de criminosos é reunido para roubar uma mala em Nice, sob a orientação de uma irlandesa chamada Deirdre (McElhone). Entre os operacionais, contam-se ex-membros de polícias secretas de diversos países; Sam (De Niro), o coordenador no terreno Vincent (Réno), um especialista em armas (Bean), outro em electrónica e comunicações (Skarsgård) e um condutor (Sudduth). O conteúdo da mala e o empregador não são revelados.

É refrescante assistir a um filme de acção pura como este «Ronin», onde o texto se adequa na perfeição àquilo que parecem ser as intenções dos cineastas. Não há histórias paralelas sem interesse, personagens a debitar graçolas de sete em sete minutos, nem compromissos que nos detraiam da plena apreciação do filme. Feita a rápida apresentação dos personagens, da situação no mapa do território francês e dos objectivos a atingir (a misteriosa mala), o texto de J.D. Zeik e de Richard Weisz (alias David Mamet), vira-se para a caixa de velocidades e não pára de acelerar perigosamente até ao final destas duas horas de puro entretenimento. Quem não sair da frente arrisca-se a ser baleado ou atropelado.

Zeik, autor da história original que viria a ser posteriormente desenvolvida, foi buscar inspiração a «Shogun» de James Clavell, onde "O Conto dos Quarenta e Sete Ronin" é relatado. O ronin era um samurai cujo amo havia sido morto por outro Senhor, sendo condenado a errar pelo território até vingar a sua honra, havendo depois de cometer o suicídio ritual japonês. A honra não parece ser aquilo que move estes homens, antes pelo contrário. São contratados por um anónimo e são renegados de outras instituições "respeitáveis", como a CIA e o KGB. Sem amo, sim; mas apenas em nome próprio. Pelo menos aparentemente.

John Frankenheimer, com quase 70 anos, foi especialmente prolífero nas décadas de 60 e 70, mas a sua carreira não correu pelo melhor nas duas últimas décadas. Depois de um par de filmes no início dos anos 90, executou algum trabalho para a TV por cabo, até lhe ir parar às mãos o remake de «A Ilha do Dr Moreau» (1996), com Marlon Brando e Val Kilmer, o qual não recebeu grande entusiasmo nas bilheteiras, nem os favores da crítica de um e do outro lado do Atlântico.

«Ronin» dificilmente pode decepcionar; é um filme extremamente equilibrado. É certo que algumas pontas soltas do guião parecem ser atadas de forma um pouco fácil demais, com o recurso a "especialistas" exteriores, amigos de Sam ou de Vincent, mas os personagens são desde logo apresentados como homens de recursos. Uma distracção mais relevante talvez seja o modo como um personagem perito em comunicações se deixa encontrar. Mas o motor da história não é tão importante como o motor dos bólides que aceleram a 150 Km/hora pelas ruas de Nice ou Paris, e a almejada mala prateada não passa de um "macguffin", um motivo para colocar os vários peões no tabuleiro e para tecer uma complexa teia de traições.

O ponto alto da acção são as diversas cenas envolvendo automóveis a alta velocidade. Os "cascadeurs" franceses serão os melhores nesta área, o que nos leva a perguntar se o cenário não teria sido escolhido para os pôr a jogar em casa. O trabalho dos duplos coordenados por Jean-Claude Lagniez é assombroso. A colocação das câmaras e a montagem escorreita adicionam um nível de realismo que transmite uma opressiva sensação de perigo eminente à plateia, quando os veículos aceleram pelo meio de várias dezenas de carros que vêm em sentido contrário. Os planos do exterior dos veículos, com os actores ao volante, são "reais". Aí usaram-se carros adaptados - sem motor e com câmaras acopladas -, rebocados por potentes veículos conduzidos pelos duplos a velocidades insanas.

Apesar de algumas referências políticas desnecessárias, principalmente próximo da conclusão, para apreciar o filme o melhor mesmo é não pensar nisso. Basta segurar-se à cadeira.

****
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