cartaz
comentários
coluna
secção informativa
favoritos
arquivo

index

Os Assassinos Subtitutos/The Replacement Killers
Realizado por Antoine Fuqua
EUA, 1998 Cor - 87 min. Anamórfico
Com: Chow Yun-Fat, Mira Sorvino, Michael Rooker, Jürgen Prochnow, Carlos Gómez, Frank Medrano, Kenneth Tsang, Danny Trejo, Til Schweiger, Patrick Killpatrick

John Lee (Yun-Fat), um assassino profissional, tenta fugir da vingança do seu empregador - o patrão do crime Terrence Wei (Tsang) -, depois de ter recusado a execução de um contrato. Lee tenta recorrer a Meg Coburn (Sorvino), a falsária de serviço, para obter um passaporte falso para fugir para a China, antes que os homens de Wei se vinguem na sua família, mas acaba por obrigá-la também a fugir das balas dos assassinos substitutos (Trejo e Schweiger). O detective Zedkhov (Rooker) persegue o restante elenco.

Construído em redor da maior estrela do cinema de Hong Kong e - segundo o L.A. Times - "the coolest actor in the world", «Os Assassinos Substitutos» é uma espécie de cartão de visita destinado a apresentar Yun-Fat Chow ao público americano e tentando vendê-lo como protagonista de filmes de acção. Ao mesmo tempo, Fuqua, na primeira longa metragem que dirige depois de alguns vídeos musicais, dá largas a uma estilização exacerbada com momentos algo espalhafatosos, procurando realizar um filme americano com tonalidades orientais, consistente com o que se espera que envolva a performance de Yun-Fat. As sequências de acção são elaboradas e cuidadosamente coreografadas - por oposição ao mais habitual esquema das películas made in USA, com tiros e personagens a desviarem-se das balas enquanto procuram locais altos de onde cair no fim do tiroteio - e as câmaras colocam-se em ângulos mais estimulantes, procurando a maior flexibilidade possível, tal como poder levantá-las, depois de estabelecido o início de uma sequência, pela parede de um prédio acima num plano contínuo. Parte deste planeamento resulta bem, mas também há algum exibicionismo que apenas serve para tornar confusas algumas das movimentações dos personagens, quando é notória a preocupação com a imagem bonita, desprezando a colocação dos actores no espaço. A utilização do slow-motion é redundante em muitos momentos, como na chegada dos assassinos. Não precisamos de os ver a caminhar lentamente; já sabemos que são maus, viciosos, etc. Mas admitamos que a utilização excessiva de tais mecanismos no passado é o principal defeito e não necessariamente a sua particular utilização neste filme.

O texto parece ter sido apurado gradualmente, não para o tornar mais compreensível ou fluído, mas para o tornar mais simples, ao serviço das sequências de acção que afinal são a razão de ser de um filme com estes objectivos: entretenimento, acção e a apresentação de Yun-Fat, ao mesmo tempo que se tenta mostrar que se podem fazer filmes semelhantes aos que se têm feito no território que o actor abandonou, tal como o realizador cujas obras são possivelmente as mais emblemáticas do género e da cinematografia local - John Woo (aqui, um dos produtores executivos, ou "padrinhos" do filme). As expectativas em termos de bilheteira saíram algo defraudadas, mas o filme pelo menos pagou-se. E ainda há o mercado vídeo, claro, para o qual o processo Super 35 permitirá fazer cópias menos horrendas. (Apesar de visualmente agradável, nota-se algum grão em imagens nocturnas, possivelmente devido à menor área de filme utilizada.) O mais importante é que Woo e Yun-Fat tenham luz verde para avançar com o projecto conjunto, já previsto há algum tempo.

Mira Sorvino adapta-se muito bem ao género, e mostra-se uma boa "heroína de acção", com uma personagem muito distante da mulher de saltos altos, que tropeça do início ao fim do filme, e que é muito frágil e sensível, provando-se - como se de tal precisasse - uma actriz flexível. Considerando que o seu domínio de inglês não era perfeito na altura da rodagem, e que o guião não exigia muito de si, Yun-Fat cumpre o seu papel. Mas esperemos por projectos mais estimulantes.

Entretanto, tem-se falado de um remake do mais conhecido filme desta "dupla", «The Killer/Die Xue Shuang Xiong» (1989), mas provavelmente ficará a cargo de mais um jovem talento. Aparentemente, o final cor-de-rosa - destinado a corrigir o "erro" de Woo -, já está preparado. Talvez Bruce Willis e Nicholas Cage sejam boas escolhas. Fim de especulação. Existem algumas remissões para a obra pré-Hollywoodesca de Woo, ou talvez não passem de coincidências. Em ambos os filmes, Yun-Fat começa com um ataque directo, à noite, num estabelecimento público, e segue com um trabalho à distância com recurso a uma mira telescópica. Existem alguns planos em que praticamente se decalcam movimentos do personagem principal de um filme para o outro. Bom, e Kenneth Tsang, aqui o mau de serviço, é um agente da lei ao lado de Danny Lee em «The Killer».

Seria injusto comparar com seriedade os dois filmes, porque tal serviria apenas para reduzir a estreia americana de Yun-Fat a uma nulidade cinematográfica, e nem todos os filmes têm de ser obras-primas ou zeros absolutos. Mas quase se poderia dizer que «The Replacement Killers» é uma americanização do outro filme, restando pouco mais do que um estilo "Hong Kong" de filmar acção. Em momento algum nos deixam pôr a hipótese de confundir a nacionalidade desta obra. Vejam-se as motivações. John Lee começa a matar, numa sequência glamorizando o desperdício de balas, mas poucos minutos depois já se está a justificar que o desgraçado é obrigado a fazer aquilo. Afinal até não finalizou muitos "trabalhos" e a família dele está na China, ameaçada de morte, etc., etc. Hello? Porque é que o Boss Wei precisava dele, se tinha uma infinidade de assassinos que sentiam genuína alegria no trabalho? O público americano gosta de acção e de ver pessoas a morrer, espirrando sangue em câmara lenta (mas quem é que não gosta?) mas será que exige que de imediato se isente de culpa moral o personagem principal, que momentos antes eliminava pessoas com uma grande naturalidade? Veja-se «The Killer». Não, não é para comparar, veja-se «The Killer».

Pode ser que a Atalanta arranje uma versão dobrada em inglês para estrear por cá.

***
classificações