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Ponette
Realizado por Jacques Doillon
França, 1996 Cor - 97 min.
Com: Victoire Thivisol, Matiaz Bureau Caton, Delphine Schiltz, Marie Trintignant, Xavier Beauvois, Claire Nebout, Auriele Verillon, Leopoldine Serre, Henri Berthon, Carla Ibled

Ponette (Thivisol), uma menina de 4 anos, é confrontada com a morte da mãe, mas não consegue aceitá-la e acredita que ela irá voltar para junto de si. Durante as suas tentativas para falar com a falecida, Ponette questiona adultos e outras crianças, recebendo conselhos sobre religião, filosofia, magia negra e como falar com Deus.

«Ponette» é uma raridade, porque é um filme cujos personagens principais são crianças em idade pré-escolar, que não falam nem agem à medida do que os adultos querem ver ou ouvir, para serem entretidos. O seu modo de agir e a sua lógica é plenamente natural, consistente com a idade, e não pode deixar de nos lembrar, pelo menos em alguns momentos, o modo como pensávamos quando éramos crianças. Este é um dos fascínios de «Ponette», reforçado por marcantes interpretações do elenco infantil, que domina a quase totalidade do tempo de filme. Quase parece que os adultos se limitaram a tratar dos aspectos técnicos, e que mesmo Doillon teve de regredir mentalmente para a escrita do argumento. Talvez sobre hipnose.

Em certos momentos, tal é o realismo, o espectador poderá ser forçado a questionar-se como é que determinadas reacções foram obtidas da pequena protagonista, visualizando mesmo obscuros métodos de tortura infantil antes do grito de "action!". Para mais, os créditos não pareciam ostentar referências como "nenhuma criança foi molestada durante a feitura deste filme". Dissipando esses pensamentos, porque é difícil aceitar que as crianças estão a representar, o filme de Doillon resulta numa obra emocionalmente forte e dominada pela ingenuidade infantil, não pela infantilidade adulta, como poderia facilmente suceder com outra espécie de aproximação ao tema, que mais facilmente venderia o filme aos mercados estrangeiros. Regularmente comandadas pelos adultos para serem queridinhas, engraçadinhas ou espertinhas (mas também irritantes), de acordo com o que estes gostariam de vê-las fazer, ou atiradas ao chão repetidamente pela mãe, enquanto o pai manobra a câmara de vídeo, as crianças têm aqui a oportunidade de serem naturais, pela qual sempre reclamaram (ou reclamariam, se não fossem inconscientes). A pequena Ponette é uma personagem mais credível que a maioria dos adultos que pululam no cinema unicamente virado para as massas e para o milho frito. Mas é aí que se separa o mero entretenimento inconsciente, da arte enquanto cinema. E isto não quer dizer que «Ponette» não tenha a sua quota de entretenimento, como toda a boa arte.

Quem, pela sinopse, pensar que o filme é dominado por alguma espécie de lamechice, desengane-se. Não há manipulações emocionais gratuitas. Dêem uma chance a Ponette.

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